O calor é tanto na Austrália que os morcegos caem das árvores com os cérebros fritos e as cobras se refugiam dentro de sanitas. A temperatura regista máximos de 48,9º Celsius, até 14º mais altas que o normal para a época. Nos Estados Unidos é o contrário, são temperaturas que causaram pelo menos 11 mortes.
No Midwest americano, os termómetros registam temperaturas mais baixas que na Antártida. Ontem, a temperatura baixou até aos 34,4 graus negativos no Wisconsin. As autoridades avisam do perigo das queimaduras de frio só com cinco minutos na rua. A necessidade de aquecimento levou à sobrecarga das redes energéticas no Midwest, tendo a empresa Xcel Energy pagado quartos de hotel a clientes que ficaram sem gás em casa.
Cidades como Chicago criaram planos de emergência para os sem-abrigo. Em Chicago, a sensação térmica chegou a uns 46 graus negativos. “Estas são condições e temperaturas que colocam a vida em risco”, disse o presidente da Câmara de Chicago, Rahm Emanuel.
Na Austrália, as temperaturas altas também colocam em risco a vida humana. Entre as pessoas mais afetadas estão idosos, crianças e quem trabalha ao ar livre. As leis que obrigam os empregadores a mandar estes trabalhadores para casa são “vagas” e “ambíguas”, segundo Liz Hanna, especialista laboral da Universidade Nacional Australiana, que avisa que se não se tomarem medidas “haverá mortes”. As temperaturas médias têm estado 10 a 14 graus mais altas do que seria normal nesta altura do ano.
Tanto o verão australiano extraordinariamente quente como o vortex polar nos EUA “são consistentes com os cenários previstos para as alterações climáticas”, afirma a porta-voz da Organização Meteorológica Mundial, Claire Nullis. O vortex polar é o conjunto de ventos fortes que mantém o ar frio preso a grandes altitudes no Ártico. Ocasionalmente este padrão térmico pode ser distorcido e permitir a movimentação de massas de ar frio para o sul. “O vortex rompe-se quando há um súbito aquecimento atmosférico”, afirma Jennifer Francis, investigadora do Woods Hole Research Center. Neste momento, a estrutura está dividida em duas grandes massas, uma sobre a Eurásia, outra nos Estados Unidos.
Alguns cientistas apontam a possibilidade de que o aquecimento global tenha criado as correntes quentes que perturbaram o vortex polar. “Não temos ainda certeza, mas há cada vez mais apoio a este conceito” disse Francis, acrescentando que este é “um tópico novo, muito popular na investigação neste momento”.
Claro que nem todos os eventos climatéricos extremos são devidos diretamente ao aquecimento global, mas este torna “provável um maior número de eventos extremos”, explica Friederike Otto, cientista climático da Universidade de Oxford.
* Editado por António Rodrigues