Nas jornadas parlamentares do CDS alertou para o risco de o PS levar o país à bancarrota e defendeu que aceitar o voto do PCP e do Bloco é aceitar o PREC em 2019. É este o discurso de campanha eleitoral do CDS ou é seu?
É um discurso meu, a propósito de umas jornadas parlamentares e avaliando circunstâncias que ali fizeram sentido, começando pela bancarrota, um elemento histórico que nos demonstra que o Partido Socialista, por várias vezes, garantiu ao país esta bancarrota. Em valor absoluto, a dívida continua a aumentar, enquanto o Partido Socialista, sabendo que o país ainda vive muitas dificuldades, em momento pré-eleitoral desdobra-se em despesas que têm em vista os votos e que, a prazo, bastando uma muito ténue alteração da conjuntura internacional, poderá implicar graves consequências para a economia nacional.
Está a falar do valor da dívida?
A conjuntura internacional neste momento é favorável, mas era suposto que um Governo sensato – quando a dívida de um país é absurda e alucinante – garantisse medidas que, perante a alteração dessa conjuntura, permitissem, entre outras coisas, a diminuição dessa dívida e algum aforro. Coisa que este Governo não contempla. O Governo dá tudo a toda a gente. Isso tem custos. Na Saúde, por exemplo. Este Governo vive da ideologia, sequestrado por uma certa extrema-esquerda. Não é por outra razão que a dívida cresce em valor absoluto. E cresce muito quando supostamente este Governo diz que a economia está muito melhor. E a propósito do PREC, contextualizando essa crítica ao PCP e ao Bloco de Esquerda, tem que ver com dados óbvios.
E quais são esses dados?
O PCP e o Bloco de Esquerda sustentam a ditadura de Maduro. Isso hoje significa ter um povo à míngua, sem medicamentos nas farmácias, pessoas que comem em caixotes do lixo e prisões arbitrárias e por delito de opinião.
A propósito dos incidentes no Bairro da Jamaica, sentiu-se ofendido pelas palavras do dirigente da associação SOS Racismo, por ter chamado bosta à PSP. Mamadou Ba deveria pedir desculpas?
Não se trata de pedir desculpas ou deixar de pedir desculpas. Tenho a certeza de que, no caso do assessor do Bloco de Esquerda, não se arrepende delas. Todos nós sabemos as dificuldades muito grandes com que as forças de segurança exercem as suas funções. Enfim, são as forças de segurança que garantem a nossa segurança e a nossa liberdade. Portugal acolhe bem toda a gente de todas as partes do mundo, e tem um cidadão que nasce, no caso no Senegal…
Tem nacionalidade portuguesa.
Mas nasceu no Senegal e foi acolhido. Trabalha na Assembleia da República e profere juízos absolutamente intoleráveis em relação às forças de segurança, que deveria saber respeitar. É evidente que me sinto ofendido. Como repudio uma tentativa de rescrever a história portuguesa, nomeadamente, a propósito dos Descobrimentos, feita por quem deles sabe nada e manifestamente não leu uma página nos compêndios de História.
Mas não houve excessos da PSP no Bairro da Jamaica?
Neste caso, aquilo a que se assistiu foi parte de uma situação, que no conjunto, nenhum de nós tem como conhecer. Sem conhecer estes factos, o Bloco de Esquerda, através de uma deputada, mas também através do seu assessor, promoveu atos de vandalismos, atos de violência, que são a negação do próprio Estado de Direito.
O primeiro-ministro deve pedir desculpas a Assunção Cristas pela reação que teve no debate quinzenal ao evocar a cor da pele numa resposta à líder do CDS sobre a condenação de atos de vandalismo?
As desculpas em si mesmas resolvem pouco. O que lhe digo é que os atos em política significam tudo. O primeiro-ministro não resistiu a um aproveitamento instrumental absolutamente condenável e até ridículo da questão da cor da pele, num país onde isso já nem sequer é assunto, é simplesmente ridículo. Quando um primeiro-ministro, o primeiro dos ministros, se comporta assim na Assembleia da República, ajuda-nos a perceber basicamente o calibre do Governo que vamos tendo. As coisas são como são.
Mudando um pouco de agulha, qual é um bom resultado para o CDS nas eleições de 26 de maio? Dois, três mandatos?
Um bom resultado é reeditar 2009, mas obviamente que trabalho para conseguirmos melhor do que fizemos em 2009. Com a diferença de que se elegem menos deputados em 2019 do que em 2009. O que não é irrelevante.
Em 2009 elegeram dois. No mínimo devem ter dois em 2019?
Quando lhe digo que um bom resultado será o de reeditar 2009, ou conseguir melhor em mandatos, isto implica que, para os mesmos mandatos, serão precisos mais votos do que em 2009.
O ideal seriam dois mandatos?
Ou mais. Nós vamos para as eleições europeias com uma consciência muito grande de que cumprimos. Somos um partido muito consistente, confiável, que tem bons quadros, que vive um bom momento, que tem vindo a crescer eleitoralmente em diferentes patamares. Enquanto candidato, fui sempre bem recebido na rua, mas em conjunto, percebe-se que o CDS está a viver um bom momento. Acho que o CDS vive um bom momento e creio que isso se traduzirá num bom resultado em maio de 2019.
É inevitável o adiamento do Brexit?
A prudência aconselha a prorrogação. Pelo menos até junho ou julho. Grandes decisões em cima de disputas eleitorais, por vezes, não são a melhor solução. E preferiria que a composição do Parlamento Europeu estivesse definida e os partidos já não estivessem, apenas, concentrados na eleição dos seus candidatos para se decidir com tudo tranquilo, na medida do possível, a melhor solução para o Brexit.
Recusa a hipótese de criação de impostos à escala da União Europeia?
Não aceito e o CDS tem sido cristalino a esse propósito, sendo o único partido que rejeita impostos europeus. Os impostos europeus surgiram como uma teoria peregrina, a propósito da necessidade do reforço de financiamento do Orçamento da União Europeia. A proposta da Comissão Europeia era de 1,1%, a do Parlamento Europeu era de 1,3% e a do PS, como se recorda, através do Governo, era 1,2%. Se nós nos fixarmos no aumento pedido pelo Dr. António Costa, falamos em cerca de 370 milhões de euros. Por 370 milhões de euros, o Governo está disposto a dar a Bruxelas uma capacidade tributária numa solução tão absurda que nem sequer tem em conta que o mesmo imposto afetará de maneira diferente cada um dos países. O mesmo imposto vai onerar mais os portugueses do que outros cidadãos.
O CDS também está em processo mais avançado para as listas nas legislativas. Qual é o melhor resultado que o partido pode ter?
Temos eleições europeias, e quando tivermos de falar de eleições legislativas, falaremos de eleições legislativas. Tenho até como mais ou menos líquido que o resultado das eleições europeias poderá ele próprio ter influência no resultado das legislativas. E a tantos meses ainda das eleições seria pouco prudente estar a avançar com expectativas sobre o resultado eleitoral. O que posso dizer de forma genérica é que, realmente, o CDS atravessa um momento muito bom. Acredito que a margem de crescimento do CDS é muito grande.
Acha que as europeias podem ser um catalisador para o CDS nas legislativas?
Acho que as europeias podem ser um catalisador para as legislativas como sucedeu em 2009. Em 2009, com Paulo Portas, tivemos um ciclo que foi todo ele de crescimento, primeiro em eleições regionais nos Açores, superando todas as sondagens, depois em eleições europeias, e depois em eleições legislativas. O que acho é que estamos a assistir a um reeditar desse ciclo com a diferença de que hoje o CDS está mais forte.
A comissão de inquérito à Caixa é a última oportunidade para apurar responsabilidades?
As principais responsabilidades devem ser apuradas na Justiça. A Justiça portuguesa precisa de se credibilizar. Isso significa, perante as evidências que são ostensivas, a capacidade de acusar, julgar e punir exemplarmente quem prevaricou, causando tantos danos a um povo inteiro. E, se possível reaver muitos milhões que não estão perdidos. A primeira resposta deve ser a da Justiça. Outra terá de ser necessariamente a da comissão de inquérito. Quem agiu desta forma terá de ser revelado de forma cristalina a um país inteiro. Não aceito que os portugueses, que hoje passam tantas dificuldades e pagam tantos impostos, estejam a pagar os esquemas do Armando Vara, as vigarices de Vale de Lobo, os investimentos do senhor Joe Berardo ou tudo aquilo que já se vai percebendo que não poderia ter acontecido, mas aconteceu. Isto num período que agora está datado entre 2005 e 2011. O mesmo período em que José Sócrates e o dr. António Costa, número dois durante uma parte do mandato, governarem e arruinaram o país. Basicamente fizeram à Caixa Geral de Depósitos aquilo que fizeram a Portugal inteiro.