O fundo americano Elliott, que tem 2,9% do capital da EDP, escreveu uma carta ao presidente do conselho geral da empresa a alertar para o impasse criado pela oferta pública de aquisição (OPA) da China Three Gorges (CTG), chamando a atenção para o preço oferecido pelos acionistas chineses ser «excessivamente baixo», acabando por «subavaliar significativamente» a empresa liderada por António Mexia.
«A oferta da CTG, tal como se encontra atualmente, não favorece os melhores interesses dos ‘stakeholders’ [acionistas] da EDP e, em última análise, conduzirá a um enfraquecimento da EDP que será uma empresa mais volátil, com um conjunto de ativos menos atrativo e com poucas oportunidades de crescimento», disse o fundo também conhecido como ‘Abutre da Argentina’.
Nessa carta, dirigida a Luís Amado, o fundo defende uma mudança de estratégia na elétrica, assente numa maior aposta nas renováveis e na venda de vários ativos, nomeadamente a alienação de ativos core da elétrica como a EDP Brasil, centrais térmicas na Península Ibérica e 49% do negócio da distribuição.
A administração de António Mexia já veio agradecer a contribuição da Elliott e promete «analisar cuidadosamente as suas propostas, em linha com a prática seguida com todos os nossos acionistas», lembrando que a EDP vai atualizar o seu plano estratégico já no próximo dia 12 de março quando apresentar os resultados referentes a 2018.
O fundo acredita que a oferta tornará o portefólio «menos atrativo» e que as oportunidades de crescimento ficarão «diminuídas». Ao mesmo tempo, critica a OPA por constituir «a maior fonte de incerteza que a empresa enfrenta hoje», tendo impacto negativo na EDP, afirmando que a estagnação do negócio teve «como efeito prático impedir o crescimento da EDP, o que originou má performance do valor das ações da EDP relativamente às outras empresas do setor».
Operação frágil desde o início
A 11 de maio, a China Three Gorges anunciou a intenção de lançar uma OPA voluntária sobre o capital da EDP, oferecendo uma contrapartida de 3,26 euros por ação, cujo pedido foi registado junto do regulador, sem alterações ao preço oferecido inicialmente, avaliando a elétrica em 11,9 mil milhões de euros. Um valor que também foi alvo de críticas por parte do fundo norte-americano ao considerar que o prémio de 4,8% «é inaceitável».
Também a administração liderada por António Mexia teve esse entendimento: «O Conselho de Administração Executivo considera que o preço oferecido não reflete adequadamente o valor da EDP e que o prémio implícito na oferta é baixo considerando a prática seguida no mercado Europeu das utilities nas situações onde existiu aquisição de controlo pelo oferente».
Uma opinião que tem sido partilhada pelos analistas contactados pelo SOL. E face a este cenário de preço baixo, admitem que é natural que possam vir a surgir eventuais ofertas que tenham um caráter mais ‘oportunístico’, no sentido de impedir a tomada de controlo ou a detenção da totalidade do capital. Aliás, nos últimos meses, têm surgido notícias dando conta do interesse de várias elétricas europeias, como a italiana Enel, a francesa Engie ou a espanhola Gas Natural Fenosa.
O que é certo é que os alarmes têm vindo a soar em torno do fracasso da operação. A par do preço baixo, também as autorizações que a operação precisa de vários países e de 16 entidades diferentes, entre elas, a Autoridade da Concorrência e a Comissão Europeia, estão a dificultar o desfecho.
E os entraves não ficaram por aqui. Primeiro foram as alterações na administração CTG – que poderão ter como objetivo a retirada operação à elétrica -, depois foi a vez da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários avisar que as OPA da China Three Gorges à EDP e à EDP Renováveis deveriam ser lançadas «em simultâneo», estando a operação sujeita «ao sucesso» na elétrica.
Isto significa que a CTG, que já detém parte da EDP e da REN, se conseguir avançar com a OPA à EDP, terá de abdicar da REN uma vez que terá de haver uma separação entre os operadores da rede de transporte e as atividades de produção, pela regulação.