O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou esta terça-feira a Angola, pelas 16 horas (hora de Lisboa) para uma visita de Estado de quatro dias. Mal aterrou em Luanda, a capital, o chefe de Estado aproveitou o momento para realçar que o seu estado de espírito era de “confiança no futuro”, depois de o seu homólogo, João Lourenço, ter caracterizado as relações bilaterais entre os dois países como boas e “no pico da montanha”, como fez questão de frisar numa entrevista à RTP.
Marcelo retribuiu o gesto e recordou que a “ visita de Estado do presidente João Lourenço [a Portugal] foi histórica” no final de 2018. Por isso, o Presidente prometeu “tentar corresponder” às expectativas, em declarações transmitidas em direto pela estação pública.
Mas Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Luanda com uma missão prévia: desvalorizar o caso do pedido de desculpas (que não existiu) ao governo angolano sobre os incidentes do Bairro da Jamaica.
Os incidentes do Bairro da Jamaica, em janeiro, criaram uma nova polémica, porque o ministro dos Negócios Estrangeiros assegurou que não pediu desculpas ao seu homólogo angolano, Manuel Augusto, pelos incidentes, confirmando apenas que lamentou o caso numa conversa telefónica. A versão angolana – de que houve um pedido de desculpas do ministro – foi transmitida na véspera da visita por Manuel Augusto e Marcelo quis esvaziar o caso.
“Verdadeiramente, o que neste momento é significativo não são os irritantes do passado, nem os insignificantes do presente, são os importantes do futuro”, afirmou o Presidente. Horas antes, também o primeiro-ministro desvalorizou o caso, optando por realçar a “total sintonia” com Angola, citado pela SIC
Os jornalistas insistiram com Marcelo sobre o alcance das suas palavras e o Presidente encerrou o caso: “ A diferença entre um político e um estadista é que o político prende-se aos irritantes e aos insignificantes e o estadista olha para os importantes”.
Marcelo Rebelo de Sousa preferiu falar sempre do futuro e considerou que a “visita será bem sucedida se for mais um passo para o futuro”.
Há um ano e meio, Marcelo Rebelo de Sousa esteve na tomada de posse de João Lourenço com “um estado de espírito de expectativa e de esperança”. Agora, passados 18 meses, o estado de espírito de Marcelo Rebelo de Sousa é de “confiança”.
Sobre a regularização das dívidas às empresas portuguesas, Marcelo Rebelo de Sousa mostrou-se confiante no trabalho desenvolvido: “ Está-se a trabalhar a todo o vapor, e vai continuar a trabalhar-se nisso”. Antes da visita, o presidente de Angola, João Lourenço, assegurou que “toda a dívida será paga”. A certeza foi dada à RTP, enquanto a comunidade de empresários portugueses aguarda que a visita de Marcelo acelere o processo de pagamentos. Os valores de novembro de 2018 apontavam para 270 milhões de euros de dívida reconhecida. Uma parte já estará paga.
João Lourenço acrescentou ainda, à RTP, que a Sonangol, a empresa petrolífera angolana, não vai sair da Galp e, em princípio, também mantém a sua participação no Millennium BCP.
A visita de Estado começou com uma quebra de protocolo, segundo a Rádio Renascença, com uma ida de Marcelo à marginal de Luanda, para ver o desfile de carnaval. A seguir, o Presidente foi um dos convidados do aniversário de João Lourenço, um sinal das boas relações pessoais. O presidente de Angola fez 65 anos, mas Marcelo não quis revelar previamente o presente aos jornalistas: “Não sei se é bonito antes de o dar ao próprio”.