Marcelo Rebelo de Sousa recebeu ontem à tarde no Palácio de Belém alguns dos repatriados de Moçambique que chegaram a Portugal na madrugada de segunda-feira. Os sete portugueses – cinco homens, uma mulher e um jovem – vieram num avião fretado pelo Estado, mas nem todos terão marcado presença no encontro com o Presidente da República: nas fotografias publicadas na página da Presidência é possível ver apenas seis pessoas.
Maria Lopes foi uma das portuguesas a optar pelo regresso, acompanhada pelo marido e o neto, de 15 anos. A mulher vivia há cinco anos em Moçambique, mas nasceu em Lamego e passou a maior parte da vida em Almada. Tomou a decisão de voltar porque ficou “sem nada”, disse à Lusa. “A solução foi virmos embora para aqui, para o nosso país. Ficámos sem nada”, acrescentou. O estado de saúde do marido também determinou o regresso: “O marido está doente. Fomos lá (…) ao médico e fizeram um relatório [que dizia] que ele tinha de voltar à terra natal e, uma vez que o Governo abriu esta porta, nós aproveitámos”, explicou a mulher. Em Moçambique deixou filho, nora e neta.
Da lista de repatriados faz também parte Carlos Miroto, de 70 anos. Vive há 56 em Moçambique e o Idai destruiu-lhe o negócio de serração de que era proprietário, mas esse não foi o motivo que o levou a voltar a Portugal. “Tenho de ir ver da minha saúde, porque tenho problemas graves cardíacos, mas tenho de voltar mesmo, porque a minha vida está aqui”, afirmou à Renascença antes de partir. Não é a primeira vez que é afetado por um fenómeno natural; em 2017 perdeu tudo o que tinha em Portugal por causa dos incêndios. “Foi tudo com as chamas. E quando lá cheguei à procura de algum apoio disseram-me: ‘Não, não, o senhor não é residente aqui’. Ardeu-
-me a casa dos meus falecidos pais, ardeu tudo quanto era eucaliptais, pinhais, tudo, desapareceu tudo”, disse à mesma fonte. Apesar de confessar que nunca se viu “tão desesperado, tão abandonado” como agora, garante estar pronto para “aguentar mais outra desgraça que venha”.
Experiência idêntica teve Carlos Trindade, outro dos portugueses repatriados, que também perdeu tudo. “Fui assaltado, roubaram-me tudo, não tenho dinheiro, não tenho nada e sofro de diabetes. Tenho de me ir embora, tenho de restabelecer a minha vida em Portugal e, depois, logo se vê”, contou à Renascença, prevendo regressar dentro de seis meses, depois de tratar da saúde.