O autoproclamado Presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, foi proibido esta quinta-feira de exercer cargos públicos durante 15 anos. Elvis Amoroso, deputado do partido do Presidente Nicolás Maduro e líder da Controladoria Geral da República, justificou a decisão com uma acusação de usurpação de cargos públicos e alegada conspiração com “governos estrangeiros que prejudicaram o povo venezuelano”, afirmou.
O auditor geral acusa também Guaidó de irregularidades nas suas contas pessoais e de receber fundos ilegítimos, tendo lançado no mês passado uma investigação ao assunto. A pena aplicada ao autoproclamado Presidente é a mais dura que a Controladoria Geral da República pode aplicar. Este órgão venezuelano está encarregue de zelar pela transparência da administração pública na Venezuela.
Guaidó rejeitou de imediato a ordem, salientando que “a única instituição que pode nomear um auditor geral é o legítimo Parlamento”, numa menção à Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Rejeitou assim mais uma vez a autoridade da Assembleia Nacional Constituinte, através da qual Maduro quer esvaziar a instituição opositora.
Dificilmente a sanção poderá ter um efeito concreto, dado que o órgão que Guaidó lidera também já não era reconhecido pelo Governo de Maduro nem pela maioria das instituições do Estado, incluindo a polícia e as forças armadas, que mantêm o seu apoio ao presidente venezuelano.
Para além dos conflitos legais, os confrontos entre o Governo e a oposição podem voltar a escalar nas ruas, tendo Guaidó convocado novas manifestações já para este sábado. Esta mobilização, que Guaidó apelidou de “Operação Liberdade”, poderá ter um apoio reforçado devido aos sucessivos apagões das últimas semanas, que deixaram boa parte do país às escuras durante dias, afetando escolas, transportes públicos, hospitais e os sistemas de distribuição de água. No entanto, por agora a eletricidade está de volta, podendo permitir a Maduro consolidar o seu apoio.
Já no plano diplomático e geopolítico, as tensões continuam em alta, com os Estados Unidos e a Rússia a disputar o futuro da Venezuela. Moscovo enviou esta semana tropas e conselheiros militares para o país, que estarão destacados para dar apoio a Maduro, e se manterão no terreno “enquanto o Governo venezuelano precisar deles”, disse uma porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova. O Presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou, por sua vez, que a Rússia “tem de sair da Venezuela”, acrescentando que “todas as opções” estão em cima da mesa para remover a presença russa.
O presidente do Conselho de Defesa russo, Viktor Bondarev, respondeu sugerindo a criação de uma base militar russa na Venezuela, caso Caracas o peça. Bondarev relembrou a presença militar norte-americana em dezenas de países, dizendo que “tal como os EUA, a Rússia tem a capacidade e o direito de abrir bases militares em qualquer ponto do globo”.