A teia de relações familiares em governos do PS não é recente. E um dos exemplos dos laços familiares em cargos de nomeação envolve Fernando Medina, atual presidente da Câmara de Lisboa e membro do secretariado nacional do PS, e a sua mulher.
Em 2009, Stéphanie Sá Silva foi nomeada adjunta de Fernando Medina, que era então secretário de Estado Adjunto da Indústria e do Desenvolvimento, avançou o SOL no passado fim de semana. Ou seja, durante pouco mais de dois anos, Stéphanie Sá Silva foi adjunta daquele que é hoje o seu marido.
A advogada Stéphanie Sá Silva tem ainda outro laço familiar a membros do Governo: é filha de Jaime Silva, ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas durante o primeiro Governo de José Sócrates.
A 1 de maio de 2018, Stéphanie Sá Silva assumiu funções como diretora do departamento jurídico da TAP. A sua entrada na companhia aérea portuguesa foi através de convite do acionista privado, Atlantic Gateway, “tendo em conta a experiência com aviação, o conhecimento da realidade da TAP e excelente desempenho demonstrado”, explicou ao SOL fonte oficial da companhia aérea que diz que a advogada assumiu o cargo depois da “aposentação da anterior diretora”.
Quando Stéphanie Sá Silva entrou na TAP já Diogo Lacerda Machado – amigo de longa data de António Costa que foi consultor do Executivo – tinha sido nomeado como administrador não executivo da TAP.
Ainda nessa altura, a empresa estava sob a tutela do ex-ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, que é próximo de Fernando Medina. Entre 2005 e 2009, Pedro Marques e Fernando Medina foram colegas de Governo, no mesmo ministério, com o atual cabeça de lista do PS às europeias como secretário de Estado da Segurança Social e o atual presidente da Câmara de Lisboa como secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional. O ministro de Pedro Marques e de Fernando Medina, era, na altura, Vieira da Silva.
A TAP disse ainda ao SOL que antes de assumir funções na companhia, Stéphanie Sá Silva tinha sido advogada associada da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados – que teve como um dos sócios o antigo dirigente socialista António Vitorino – onde assessorou a Atlantic Gateway, “no processo de privatização da TAP que se concluiu em 2015”.
Posteriormente, na PLMJ, a advogada continuou a assessorar a Atlantic Gateway.
Se recuarmos a 2013, ano em que se realizaram eleições autárquicas, Stéphanie Sá Silva foi candidata pelo PS à Junta de Freguesia das Avenidas Novas. Ocupava o 17.º lugar da lista.
Em abril do mesmo ano, meses antes das autárquicas, a advogada e Fernando Medina, assim como um grupo de socialistas apoiantes de António Costa, dos quais muitos ocupam hoje cargos no Governo – como Ana Catarina Mendes, Duarte Cordeiro, João Galamba, Luís Gois Pinheiro, Mariana Vieira da Silva, Pedro delgado Alves, Pedro Marques ou Pedro Nuno Santos – assinaram uma carta aberta enviada à direção do partido, em oposição a António José Seguro.
Na altura, os costistas defendiam que o então secretário-geral do partido deveria fazer uma revisão dos estatutos do PS.
Filha do deputado Paulo Trigo Pereira Outro dos exemplos de relações familiares em governos do PS é Mariana Trigo Pereira, filha do deputado não inscrito Paulo Trigo Pereira.
Durante três anos – entre dezembro de 2015 e novembro de 2018 – Mariana Trigo Pereira foi economista-chefe do gabinete do ministro do Trabalho e da Segurança Social, Vieira da Silva. No final do ano passado, deixou o cargo no Governo para assumir funções como perita associada na Organização Internacional do Trabalho (OIT).
E esta não foi a primeira vez que Mariana Trigo Pereira foi nomeada para o gabinete de Vieira da Silva. De acordo com a nota curricular publicada em Diário da República, entre 2009 e 2011 – durante o segundo Governo de José Sócrates – a economista foi adjunta de Vieira da Silva que, na altura, era ministro da Economia, Inovação e Desenvolvimento. À data, Mariana Trigo Pereira tinha 25 anos, tinha terminado a sua licenciatura em Economia pelo ISEG e estava, na mesma instituição de ensino superior, a frequentar o mestrado em Análise de Politica Social.
Questionado pelo i, o gabinete de Vieira da Silva diz que “os membros dos gabinetes ministeriais são livremente designados e exonerados por despacho do membro do Governo respetivo”, sendo “a sua designação apenas condicionada pela necessidade de verificação de existência de cabimento no orçamento do gabinete respetivo e dos limites estabelecidos”.
Já Mariana Trigo Pereira, em resposta ao i, remeteu o currículo com o qual se apresentou a concurso à OIT, destacando o seu percurso académico e profissional, salientando “média de 18 valores no secundário, média de 17 valores na licenciatura em Economia e média de 18 valores no mestrado em Análise de Política Social”.
Nesse currículo lê-se que, aos 25 anos, em 2009, escrevia os discursos do ministro Vieira da Silva, acompanhava os indicadores e a análise macroeconómica e dava assistência técnica às audições parlamentares do governante.
O documento enviado por Mariana Trigo Pereira refere que desde 2017 – enquanto exerceu funções mais recentes no gabinete de Vieira da Silva – Mariana Trigo Pereira foi a representante de Portugal no Comité do Emprego, Assuntos Sociais e Inclusão da Comissão Europeia (EMCO) e que trabalhou na coordenação do Simplex+, do Programa Nacional de Reformas e que trabalhou em parceria com a OCDE.
O pai de Mariana Trigo Pereira sempre foi próximo do PS, tendo sido, aliás, um dos especialistas que contribuiu para o programa de Governo na área de Economia. Nas últimas legislativas foi eleito deputado independente pela bancada do PS mas, em dezembro de 2018 rompeu relações com a bancada socialista, passando a ter o estatuto de deputado não inscrito.
Outra das ligações entre Mariana Trigo Pereira e o PS é através do ex-dirigente do partido Pedro Adão e Silva, com quem já publicou, em co-autoria, cinco livros.
Pedro Adão e Silva é socialista desde os 18 anos e foi membro do Secretariado Nacional do partido na direção de Ferro Rodrigues, entre 2002 e 2004. Antes disso, entre 1999 e 2002, no segundo Governo de António Guterres, foi assessor na área da Segurança Social para o então Ministro do Trabalho e da Solidariedade, Paulo Pedroso.