A situação apanhou todos de surpresa. Na segunda-feira, o primeiro-ministro discursava no 46.º aniversário do Partido Socialista (PS) quando Francisco Pedro, ativista de 32 anos, invadiu o palco e desviou o microfone de António Costa para falar para a plateia, com o objetivo de protestar contra a extensão do aeroporto da Portela e contra a construção do novo aeroporto do Montijo. Não conseguiu, contudo, ler o papel que levava – intitulado «Mais aviões? Só a brincar!» –, tendo sido levado por dois seguranças que estavam a acompanhar António Costa ao fim de 17 segundos e que pertencem ao Corpo de Segurança Pessoal da PSP – de acordo com o PS, não havia seguranças privados no local.
Ativismos à parte, a falha de segurança de que os ativistas se aproveitaram podia ter dado azo a um episódio com contornos mais graves, até porque o SOL sabe que, no evento de segunda-feira, o partido não quis fazer qualquer controlo de entradas – e nesse dia, houve mesmo ministros que prescindiram da segurança pessoal, como Augusto Santos Silva, dos Negócios Estrangeiros.
De acordo com uma fonte que não quis ser identificada, as várias forças políticas, nos respetivos eventos partidários, dão pouca importância às medidas de segurança. Outra fonte, que também pediu o anonimato, confirma: a lógica é diferente da que é aplicada em eventos oficiais do Estado, quando o Corpo de Segurança Pessoal da PSP faz a avaliação no terreno, controla quem entra e quem sai, conhece o rosto dos presentes e determina o que tem de se fazer.
No caso dos partidos, há uma grande resistência, sobretudo em campanha eleitoral, quando os políticos querem estar mais próximos das pessoas. Por isso, em eventos partidários, organizados pelos próprios partidos, o Corpo de Segurança Pessoal da PSP não sabe quem entra nem quem vai estar presente. Na segunda-feira, o aniversário do PS foi organizado pelo partido e António Costa discursava enquanto secretário-geral, e não enquanto primeiro-ministro. Numa situação hipotética, se o ativista tivesse más intenções relativamente ao primeiro-ministro, da mesma forma que invadiu o palco e conseguiu desviar o microfone sem que ninguém o detivesse, tinha tido tempo para as realizar.
No entanto, uma das fontes garante que a reação da PSP foi normal e que os polícias não demoraram muito tempo a agir. O que terá acontecido, acredita, foi que a segurança julgou que o ativista que subiu ao palco pudesse ser um técnico de som ou de apoio. Por isso, rejeita que se questione a capacidade da segurança fazer o seu trabalho: «A PSP sabe o que tem de fazer, mas o meio é difícil, especialmente com figuras públicas que não têm qualquer cultura de segurança», assinala.
De acordo com a mesma fonte, António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa são os exemplos máximos do ‘boicote’ tanto às medidas de segurança como aos próprios seguranças: assim se justifica a ausência do controlo de acessos na festa do PS, onde não foi sequer feita qualquer triagem, por exemplo, de quem se intitulava como jornalista.
A importância da segurança
Depois do episódio que colocou a segurança do primeiro-ministro na ordem do dia, impõe-se um questionamento sobre a real importância da segurança das figuras maiores do Estado. Uma das fontes ouvida pelo SOL recorda situações em que a segurança provou ser indispensável. António Costa, aliás, já protagonizou pelo menos uma dessas situações: num São João no Porto, a segurança pessoal do primeiro-ministro evitou que o chefe do Executivo fosse atingido por garrafas na cabeça, enquanto passava no meio da multidão. Sem a segurança presente, António Costa teria certamente sido atingido. A mesma fonte refere ainda que foram já várias as ocasiões em que a segurança teve de realizar intervenções difíceis perante interpelações do primeiro-ministro por lesados do BES.
Marcelo Rebelo de Sousa também já teve a sua quota de situações em que a segurança foi determinante. Contudo, o Presidente da República é flagrante ao dificultar o trabalho da segurança, devido à sua agenda errática, que nem sempre facilita o planeamento da segurança.
Casos em que a PSP foi determinante
A importância da segurança é, no entanto, evidente no caso de outras personalidades. Na vinda a Portugal do ativista brasileiro Jean Wyllis, em fevereiro deste ano, para participar numa série de conferências, a segurança pessoal da PSP desempenhou um papel fundamental ao impedir que Wyllis fosse atingido com uma garrafa da cabeça durante uma das palestras nas quais foi orador.
Outra das intervenções mais conhecidas da segurança pessoal foi na vinda a Portugal do Papa João Paulo II, em 12 de maio de 1982. O padre espanhol Juan Maria Fernandez y Krohn usou um faca para tentar matar o Papa, quando televisões de todo o mundo transmitiam as imagens em direto. A segurança agiu rapidamente, detendo o responsável e evitando o pior.