Portugal e a China

O mundo já está a mudar: a China desempenha um papel central e já oferece uma alternativa a partir do seu poder económico e financeiro

O Presidente da República foi à China onde, para além de outros assuntos mais específicos relativos ao intercâmbio cultural, económico e social entre os dois povos e os PALOP, participou no Forum da Iniciativa da Nova Rota da Seda (BRI – Belt and Road Iniciative).

Sim, o mundo vai mudar, já está a mudar, e a China desempenha nisso um papel central. Temos vivido sob uma visão imperial do mundo, que se arroga o direito de decidir quem pode ou não governar um país, que empresas podem ou não podem fazer negócios com outras, que gere os ‘metadados’ a seu belo prazer, que faz as guerras que entende e deixa países devastados por muitas décadas… Enfim, que se acha ‘excecional’!

A China, hoje, oferece uma alternativa a partir do seu poder económico e financeiro. Usa o seu dinheiro para por em prática um projeto mundial de desenvolvimento partilhado e pacífico, onde cada um possa viver de acordo com as suas culturas e tradições. Vi há dias, numa estação de TV americana dois especialistas e debaterem a ‘estratégia’ chinesa tendo concluído, com humor, que «temos de pedir aos comunistas chineses que nos ensinem a utilizar melhor o nosso dinheiro»…

Os dois projetos coexistem hoje no mundo e todos os países estão a ver se tiram o melhor partido deles para os seus interesses nacionais. Na Europa já há vários países que jogam nos dois carrinhos e vão medindo, a cada momento, as vantagens comparativas.

Portugal, felizmente, através do seu PR, também está nessa reflexão/decisão, não só quanto ao país propriamente dito como aos seus interesses à escala internacional, designadamente quanto aos PALOP.

Para ‘regressar’ a Angola e a Moçambique (pelo menos), para cumprir a missão histórica da Irmandade de Portugal com o mundo e dar consistência real à (reconquista da) nossa soberania, não existe elite nacional disponível. De facto, grosso modo, sempre esta foi rentista (da pimenta da Índia, do ouro do Brasil, do comércio de escravos africanos, dos ‘fundos europeus’). Em Portugal, nunca houve uma ‘revolução burguesa’ de onde tivesse nascido essa classe empreendedora. Os que possam existir, não possuem dimensão nem capitais que lhes permitam ‘saltos no escuro’; preferem empreendimentos modestos e sem riscos…

A banca estrangeirada não está para aí virada e a pouca portuguesa que subsiste não tem vocação patriótica.

Temos delapidado como ‘inúteis’ aquelas gerações de portugueses com experiência e ‘alma’ africana, índia, asiática, do tipo Agostinho da Silva. Hoje, o que parece interessar são aqueles rapazes ‘cosmopolitas’ da modernidade líquida europeia. Mas, apesar de tudo, ainda os há por cá, mesmo nas gerações mais novas, ávidos de realização pessoal num mundo diverso e humano.

A aliança estratégica com a China, possuidora de amplos capitais e de uma postura de ‘win-win’, virada para um desenvolvimento partilhado onde todos ganhem e possam ser o que são, seria vital para levar por diante o desígnio patriótico da ‘religação’ a África e à Ásia. O PR tem feito esforços meritórios e fundamentais para o tornar possível, sem medo de se colocar em dissonância com todas aquelas potências (UE e EUA) e agentes internos que só visam apoucar Portugal.

Mas se quiser avançar ainda mais na concretização desse desígnio, ainda há gente em Portugal com saberes e energias para o acompanhar.