Primeiro-ministro garante só viu memorando sobre Tancos no dia das demissão de Azeredo Lopes

Primeiro-ministro diz que memorando não passava de “algumas folhas de papel sem qualquer timbre, data, rubrica ou assinatura, epígrafe contendo assunto”.

O primeiro ministro diz que só teve nas suas mãos o memorando sobre a recuperação do material de Tancos no dia da demissão de Azeredo Lopes, ex-ministro da Defesa. O documento havia sido entregue um ano antes pelo diretor-geral da Polícia Judiciária Militar (PJM), coronel Luís Vieira, e pelo major Vasco Brazão ao chefe de gabinete de Azeredo Lopes. O ex-ministro já havia dito que não se recorda de ter visto o documento na altura, mas que o seu chefe de gabinete lhe havia narrado o que nele constava.

Agora, com as respostas escritas enviadas por António Costa à comissão de inquérito ao caso de Tancos e a que o DN teve acesso, fica a saber-se qual a posição de António Costa: o memorando que fora entregue em outubro de 2017 e onde constava que a PJ Militar estava a fazer uma investigação paralela à da PJ só lhe chegou às mãos em outubro de 2018. E foi aí, diz António Costa, que ficou a saber que a PJM tinha um informador que quis sempre esconder da investigação oficial.

O primeiro-ministro recorda ainda, segundo aquele jornal, que o memorando mais não é do que “algumas folhas de papel sem qualquer timbre, data, rubrica ou assinatura, epígrafe contendo assunto ou registo de qualquer tipo que permitisse identificar a sua origem”.

Acrescenta, porém, que nessas folhas se “indicia que a Polícia Judiciária Militar procurou ocultar à Polícia Judiciária o conhecimento” da investigação paralela que tinha em curso.

Apesar de ter tido acesso ao memorando só um ano depois, António Costa considera que Azeredo Lopes nunca lhe faltou ao dever de lealdade nem tão-pouco lhe ocultou o que quer que seja.“Azeredo Lopes desempenhou com lealdade as funções” , disse, salientando que o ex-ministro sempre lhe transmitiu tudo o que considerou relevante ou que Costa lhe pedira.

António Costa assegura ainda nas suas respostas que o Governo nunca desvalorizou este furto: “[O Governo] agiu corretamente, de forma competente e com o sentido de Estado que as circunstâncias impunham”.

O chefe do Governo diz esperar que a investigação permita apurar o que realmente foi roubado e o que mais tarde veio a ser encontrado pela PJ Militar: “Confio que a conclusão da investigação judiciária em curso permitirá clarificar definitivamente qual o material furtado e qual o material recuperado”.

Nas respostas ao Parlamento, reveladas ontem pelo Diário de Notícias, António Costa diz- -se igualmente confiante de que a investigação decifre tudo o que diz respeito à atuação da PJ Militar e às desconformidades face às informações prestadas à tutela: “Compete às autoridades judiciárias, no âmbito da investigação em curso, apurar a verdade dos factos e proceder à respetiva valoração jurídica”.