Chegou a hora. E, afinal, já não era sem tempo. Passaram quase quatro anos desde que Jürgen Klopp chegou a Anfield Road, era outubro de 2015 – já lá vamos. Até ao passado dia 1 de junho o treinador alemão não tinha ainda vencido qualquer troféu ao serviço do Liverpool. Por vezes de forma injusta; noutras, faltou a estrelinha, como se costuma dizer. De uma maneira ou de outra, a festa tinha sido sempre adiada. Mas a paciência é uma virtude e, por vezes, os adeptos também conseguem reconhecer que não é o facto de haver alguma coisa de errado – às vezes é só mesmo isso, o facto de ainda não ter chegado a hora.
A espera, porém, terminou. Para Klopp, para o Liverpool e para os adeptos reds.
E que bela maneira de colocar um ponto final à suposta maldição em torno do técnico alemão. Era a terceira vez que Klopp chegava à decisão da Liga dos Campeões, a segunda de forma consecutiva depois de o emblema inglês ter perdido para o Real Madrid em 2017/18. Antes, em 2012/13, tinha sido no comando técnico do Borussia Dortmund que tinha falhado a primeira oportunidade de conquistar a mais importante prova europeia de clubes, à data diante dos alemães do Bayern Munique.
As seis finais perdidas por Klopp ao longo da carreira (três europeias – além das duas finais da Champions também tinha perdido uma Liga Europa para o Sevilha; e três domésticas – duas derrotas na final da Taça da Alemanha e outra na Taça da Liga inglesa) chegaram mesmo a ser motivo de paródia para o próprio treinador.
Bem-disposto, sorridente e sempre com resposta pronta, Klopp não desiludiu quando confrontado sobre a malapata em jogos decisivos. «Não julgo que a minha carreira tenha sido azarada. Desde 2012 e tirando 2017, todos os anos disputei finais. Sou, provavelmente, o recordista mundial de meias-finais ganhas. Se escrevesse um livro sobre isso ninguém o compraria», disse com graça na antevisão ao encontro com o Tottenham. E concluiu: «Não me vejo como um perdedor». Mal seria.
Antes de aterrar em Inglaterra, Klopp orientou duarante sete anos o já mencionado Borussia Dormund (entre 2008 e 2015). Na Alemanha conquistou cinco troféus: sagrou-se por duas vezes campeão da Bundesliga (2010/11; 2011/12), conquistou também por duas vezes a Supertaça (2013/14; 2014/15) e venceu ainda a Taça, em 2011/12.
Antes, Klopp tinha iniciado a carreira de treinador nos alemães do Mainz, clube onde pendurou as botas enquanto jogador – e que orientou também durante cerca de sete anos antes de se mudar para Dortmund.
Como jogador esteve, de resto, longe de alcançar uma carreira notável, passando apenas por uns quantos modestos clubes alemães. Afinal, a grandeza de Klopp estava reservada para mais tarde. Aliás, para agora. É considerado um dos treinadores mais carismáticos do mundo e apesar de só agora ter quebrado o enguiço é por muitos olhado como um dos melhores técnicos do planeta. A dúvida que parece permanecer relativamente à figura do alemão é a linha ténue que separa o génio do louco – adjetivos que costumam ser utilizados para o descrever.
A sexta champions para o Liverpool Se esta representa a primeira vitória do técnico de 51 anos fora de solo alemão, para o Liverpool este triunfo representa a sexta Taça dos Campeões Europeus da sua história, depois dos feitos de 1976/77, 1977/78, 1980/81, 1983/84 e 2004/05.
Os reds são assim o terceiro clube mais titulado, apenas atrás dos italianos do AC Milan, com sete troféus, e do recordista Real Madrid, com 13.
No Metropolitano, não foi naturalmente possível conter as lágrimas após o trinfo (2-0) sobre os spurs. No final, Klopp voltou a pegar na história do livro que ninguém compraria, lembrando que esta é acima de tudo uma vitória para a família: «Não tenho palavras. Perdi todas as finais em que tinha participado anteriormente e a minha família sofreu mais do que eu». «Esperámos tanto tempo por isto, mas os rapazes conseguiram. É incrível. Inacreditável», declarou o alemão.
Agora é tempo de agarrar o futuro. A máquina está oleada e Jürgen Klopp acredita que a vitória na Liga dos Campeões «é apenas o princípio para esta equipa e este clube». Igual a si mesmo, o alemão, figura maior do fair-play e do desportivismo, não esqueceu o adversário: «Sei bem o que estão a sentir neste momento».
Klopp chegou a Inglaterra na época 2015/16 para render o técnico irlandês Brendan Rodgers, que deixava os reds num miserável 10.º lugar na tabela. Missão, por isso, espinhosa para o alemão que tinha como objetivo primordial recolocar a equipa no top 5 de Inglaterra.
Dito e feito: depois de nessa época ter terminado no 8.º lugar, o Liverpool escalou para o quarto posta na época seguinte (2016/17), garantindo o playoff da Liga dos Campeões. Nova época, a mesma posição, com os reds a terminarem mais uma vez na quarta posição, em 2017/18, aqui já com entrada direta na prova milionária, A revolução Klopp estava à vista de todos mas faltava qualquer coisa, leia-se um título. Em 2018/19, o alemão prometeu lutar até ao fim na Liga inglesa e tentar recuperar um troféu que o clube não ergue há praticamente 30 anos. E mais uma vez cumpriu. Mas a luta titânica entre City e Liverpool havia de sagrar a equipa de Manchester bicampeã inglesa. Por apenas mais um ponto que os reds, nesta última época segundos classificados.
Era, de resto, impossível não ver a revolução que Jürgen Klopp vinha a desenvolver no clube.
Não deu, todavia, para chegar a Rei de Inglaterra. Ainda. Quis o destino que fosse entretanto ao topo da Europa. Num triunfo inquestionável ainda que numa final sem graça.