São mais de 70 milhões de pessoas forçadas a fugir das suas casas, um número nunca antes registado pelas Nações Unidas. O relatório anual lançado esta quarta-feira pelo Alto Comissariado para os Refugiados, Global Trends, revela que o número de pessoas que foram forçadas a deslocarem-se em 2018 é o dobro em relação há 20 anos. Comparando com 2009, são mais 30 milhões. São sete vezes a população portuguesa, 37 mil pessoas por dia. Os países que mais contribuem para o número de refugiados são Etiópia, Síria, Afeganistão, Sudão do Sul, Myanmar e Somália. E são mais de cem mil as crianças nesta condição.
O documento divide os 70,8 milhões de refugiados – número que a organização considera conservador – em três grupos. O primeiro é o de refugiados, ou seja, de pessoas que fogem de conflitos, perseguição ou guerra – e a quem é reconhecido esse estatuto pelas entidades competentes nessa matéria. Em 2018, foram 25,9 milhões no mundo inteiro, mais 500 mil do que no ano anterior.
No segundo grupo, estão inseridos os “requerentes de asilo”. Pessoas fora do seu país de origem que recebem proteção internacional e que esperam pelo estatuto de refugiado: são 3,5 milhões de pessoas. A maior parte vem da Etiópia, Síria e Nigéria. Quase um quinto das pessoas que se inserem nesta categoria procuram asilo na União Europeia, de acordo com o Eurostat.
As pessoas que se encontram deslocadas em áreas dentro do seu próprio país constituem o terceiro e maior conjunto, com 41 milhões. Os países em que esta realidade é mais marcante são a Síria, com 6 milhões de refugiados internos, e a Venezuela com cerca de 4 milhões – “o maior êxodo na história recente da região”, diz o relatório.
“O que vemos nestes números é mais uma confirmação da tendência crescente de longo prazo no número de pessoas que precisam de segurança contra a guerra, o conflito e a perseguição”, disse Filippo Grandi, alto-comissário das Nações Unidas para os Refugiados. “Temos que redobrar a nossa solidariedade com os milhares de inocentes que são forçados a fugir de suas casas”, pediu Grandi.
No relatório, lê-se que o ritmo do crescimento geral de refugiados não é acompanhado com políticas de acolhimento adequadas para receber os refugiados. Apenas 92,4 mil refugiados conseguiram acolhimento em 2018, uns escassos 7%. Cerca de 593 mil conseguiram voltar para casa, enquanto somente 62 mil obtiveram a nacionalidade nos países de acolhimento.
“Onde quer que seja, não importa quanto tempo passe, tem que haver soluções duradouras que removam os obstáculos para que as pessoas possam voltar para casa”, defendeu Grandi. “Há novos conflitos, novas situações a produzir novos refugiados”, reclamou o alto-comissário. “Os antigos [refugiados] nunca são resolvidos.”. Só em 2018, foram 13 milhões de pessoas a fugir de suas casa.