A ex-deputada municipal do PAN na Moita, que se demitiu após ter sido acusada de ter feito declarações xenófobas contra a comunidade cigana, enviou um texto ao i, no qual se diz arrependida de toda a situação. “Lamento profundamente e peço perdão aos atingidos”, admitiu.
Fátima Dâmaso começou por alegar que se precipitou em “várias coisas”, designadamente por ter “injustamente” generalizado comportamentos no texto da recomendação, que levou a toda esta polémica, apresentado no dia 24 de junho, durante uma sessão da Assembleia Municipal da Moita. A proposta, que tinha como objetivo promover “a proteção dos equídeos” da região e alertar para a “circulação de animais atrelados a carroças”, acabou por ser retirada sem votação. “São os indivíduos que têm comportamentos negativos, que merecem ser apontados e castigados por isso e não a etnia a que pertencem”, destacou.
O segundo ponto identificado pela antiga deputada municipal relacionou-se com o facto de se ter demitido sem ter tido uma palavra para com a comunidade cigana. Fátima Dâmaso diz “reconhecer o erro”, recordando as declarações, também prestadas ao i, por Prudêncio Canhoto, presidente da associação de Mediadores Ciganos de Portugal. Na altura, o representante afirmou que achava a demissão “um bocado exagerada” e que um pedido de desculpas à comunidade cigana “teria sido mais importante”.
Sobre se o partido se precipitou em aceitar a sua demissão, Fátima Dâmaso considerou não estar “numa posição” para fazer julgamentos, acrescentando que a decisão do PAN “compete” aos seus dirigentes. “Quem me conhece sabe que não sou racista, até pelo facto de viver em união de facto, há mais de dez anos, com um africano e que, tão indignada fico com um cigano, como com outra pessoa qualquer, quando está em causa uma injustiça, neste caso o maltrato dos animais”.
Como justificação pelas declarações ciganófobas, Fátima Dâmaso alegou que estas se deram após ter presenciado maus tratos a um cavalo. Esta situação ter-lhe-á ofuscado “a razão e o julgamento”. Sublinha-se que estes alegados abusos a um animal estiveram na origem da proposta que foi feita pela ex-deputada municipal, na qual disse as polémicas palavras : “Aqui na Moita existe uma etnia que se multiplicou e que todos os dias se passeiam pela Moita e arredores, empilhados em cima de carroças, puxadas por um único cavalo subnutrido, espancado a desfazer-se em diarreias por não ser abeberado e alimentado, não suportando mais”.
Contudo, a militante reforçou que a “proteção dos equídeos” deve continuar a ser uma prioridade na região e que as autoridades têm a obrigação de garantir “que todos os cidadãos são iguais perante a lei”, considerando que, “justa ou injustamente”, existe quem considere na localidade que “a exigência da lei não é igual para todos”. A ex-deputada garante ainda que aprendeu a “lição” e nunca mais voltará “a escrever de cabeça quente”. “Que aquele cavalo que vi ser massacrado não merecia passar por esse sofrimento tenho como garantido, assim como, uma comunidade inteira não merecia a referência que lhe fiz”, concluiu.