A chaimite de António Colaço, que se tornou célebre por ter estado exposta junto ao edifício mais recente da Assembleia da República em homenagem aos 45 anos do 25 de abril, regressou a Mação – terra natal do autor -, incluída na sua exposição «50 Anos a Fazer P.Arte».
Carlos Alexandre, o ‘superjuiz’ do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa e conterrâneo e amigo do antigo assessor parlamentar do PS, não faltou à inauguração, no sábado passado, e não perdeu a oportunidade de subir à chaimite, intitulada «Palavril» (conjugação de Palavra e Abril).
«Carlos Alexandre queria espreitar e subiu à chaimite, estava muito entusiasmado porque somos amigos de longa data», contou ao SOL António Colaço.
Na inauguração, inserida na Feira Mostra de Mação, também estiveram o autarca social-democrata Vasco Estrela, o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas e, da direção da Associação 25 de abril, o tenente-coronel Vasco Lourenço e o coronel Aprígio Ramalho. «Foi graças à associação que consegui ter a chaimite. O chefe de Estado Maior cedeu três à Associação, que estavam para abate, e, na altura, disse logo ao Vasco Lourenço: ‘Eu quero uma para mim’», recordou o antigo assessor, que esteve cerca de 20 anos ao lado do PS.
«Palavril» encontra-se agora estacionada de forma permanente na confluência da Avenida Sá Carneiro com a Rua Cipriano Dourado, em Mação. Segundo o artista, em visitas de estudo ou visitas guiadas vai ser possível entrar na chaimite, «tal como fez Carlos Alexandre».
O resto da exposição ficará aberta ao público no centro cultural do concelho, até ao final de agosto. «Quer a inauguração da exposição, quer da chaimite, foi uma festa e o 25 de abril está, assim, perpetuado em Mação. Fiquei muito sensibilizado», concluiu.
Para trás fica o desentendimento entre António Colaço e Ferro Rodrigues, por causa da localização da exposição da obra na Assembleia da República. Em abril, Colaço propos que a chaimite fosse exposta junto à escadaria principal da Assembleia da República, mas Ferro Rodrigues não autorizou. «Vou morrer com essa mágoa, era uma questão simbólica», admitiu ao SOL o ex-assessor. Na altura, a justificação foi que, na escadaria, o veículo blindado iria colidir com meios que seriam utilizados durante as comemorações. «Acho que Ferro Rodrigues se deixou levar pelo protocolo», argumentou António Colaço, sublinhando, contudo, que «são águas passadas».
A viatura militar com cravos desenhados é a concretização de uma ideia que António Colaço foi desenvolvendo durante «três anos». Além dos simbólicos cravos, Colaço foi caligrafando, ao longo de um mês, com uma caneta branca toda a superfície da chaimite. O conceito do artista foi transformar o instrumento de guerra num símbolo de paz. «Para mim, a caligrafia é uma transfiguração da escrita. Ou seja, é o lado gestual da escrita e, com isso, quis celebrar aquilo que aconteceu há 45 que foi nos ter sido devolvida a palavra amordaçada, entre outras liberdades, claro», explicou.