«Aqueles que não se lembram do passado estão condenados a repeti-lo».
George Santayana
Nas últimas semanas, a Europa política e a Europa de algumas elites económicas e financeiras ficaram suspensas para conhecer o resultado da escolha dos novos protagonistas que irão liderar as instituições europeias nos próximos cinco anos.
E mais suspensas ficaram ao tomarem do conhecimento de que o primeiro-ministro português decidiu tentar fazer diferente do habitual e, em conjunto com outros políticos europeus, procurou que se quebrasse a hegemonia do PPE e do que tem sido chamado ‘bloco central’ europeu.
O objetivo – pelo que nos foi dado perceber – era fazer, embora em moldes distintos, uma ‘geringonça’ à europeia. Com declarações, crónicas, fugas de informação cirúrgicas e comentários todos no sentido: o tempo do ‘bloco central europeu’, do ‘centro politico europeu’, estava a chegar ao fim.
Com o veto a Manfred Weber – que foi quem ganhou as eleições europeias -, escreveu-se e proclamou-se durante vários dias que a era de Angela Merkel tinha acabado.
Entretanto, de um momento para o outro, foram conhecidas as escolhas para a liderança dos vários órgãos da União Europeia.
De onde se destaca a indicação da ministra da Defesa (sim, da Defesa!) da Alemanha (sim, da Alemanha da chanceler Angela Merkel!) e do PPE (sim, do PPE!) para presidente da Comissão Europeia. O ciclo ‘terminado’ de Angela Merkel, do PPE, do ‘bloco central europeu’ e do ‘centro político europeu, afinal, continuava em boa forma e recomendava-se. Era só ler os nomes de quem, a par da ministra alemã, acabou por ser escolhido para os demais órgãos comunitários.
Vem tudo isto também a propósito de muita gente que, nos últimos anos, passou várias certidões de óbito ao centro político europeu. Até em alguns países europeus, a diabolização do centro político em favor dos extremos (nuns casos à esquerda, noutros à direita) está muito presente.
Continuo a acreditar que quem fez o essencial do projeto europeu foi o centro político, o ‘bloco central europeu’, o centro-direita e o centro-esquerda. O apogeu e o declínio da Europa, do seu projeto político, económico, social e cultural, tem muito a ver com a ‘saúde’ (boa ou má) desse centro político.
Os extremismos são insensíveis e muito resilientes, sabendo esperar que se concretize o ‘tanto pior, melhor’ para atingirem os seus objetivos. Que são muito diferentes da defesa da Europa e dos europeus.
Já o afirmei e repito: os partidos e os políticos do centro moderado não devem deixar-se capturar pelas teses extremistas, populistas e demagógicas, à direita e à esquerda.
A Europa deve continuar fiel aos seus valores base, não só da sua fundação mas também e sobretudo de aprofundamento e de alargamento do seu projeto político, tendo sempre presente a diversidade – que é fundamental para a sua unidade. Tudo isto não significa que o projeto europeu não tenha bloqueamentos, problemas. Antes pelo contrário. Mas a receita para os debelar não deve ser retirada da captura política que os extremismos fizeram desses problemas, de muitas desilusões e de várias falhas em algumas políticas comunitárias.
As dinâmicas de fragmentação, o emergir das reivindicações de várias das segundas pátrias europeias, as falhas na política de vizinhança e de fronteiras, a errada política de imigração, asilo e refugiados, com cedência ao extremismo de direita, o laicismo radical, entre muitos outros exemplos, fazem parte do muito que há a fazer para devolver à Europa e aos europeus mais confiança e melhores condições.
Daí que será muito negativo se o centro político se dividir no que respeita ao essencial das macro questões europeias. Até porque, em muitas matérias, temos Europa a menos (a imigração, por exemplo) e noutras temos Europa a mais (o tamanho dos carapaus, das sanitas e dos morangos).
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