Guilherme Silva: ‘A partir de agora é preciso ter juízo’

Antigo líder parlamentar do PSD apela à união na campanha eleitoral e não teme uma crise na direita. Mas admite que uma derrota eleitoral ‘vai obrigar o partido a repensar-se’. 

O PSD envolveu-se numa guerra interna por causa das listas de deputados. A dois meses das eleições isto não pode ser muito prejudicial para o partido?

Este tipo de comportamentos à volta das listas não é novo no PSD. Temos de perceber que o presidente do partido teve a preocupação de ter na Assembleia da República uma maioria em sintonia com a liderança. Não é nada que surpreenda. A partir de agora é preciso ter juízo, porque vamos entrar numa fase diferente. Vamos entrar numa fase de campanha e temos de contribuir todos para que o PSD tenha o melhor resultado possível. Mas Basta fazer um esforço de memória para perceber que isto não é novo no PSD. Às vezes vale mais que essas coisas sejam exteriorizadas do que uma paz podre. Esse é o lado bom. Não tenho uma visão pessimista. 

Não teme que estas divisões contribuam para a derrota do PSD?

Não vamos fazer disto um drama. O que pode penalizar o PSD é a circunstância de termos uma conjuntura altamente favorável ao partido que esteve no poder. 

É isso que justifica os fracos resultado com que o PSD aparece nas sondagens?

Exatamente. O Governo teve a inteligência de fazer uma política em sintonia com as regras europeias. É preciso ter isto em conta e hoje a memória é muito curta, a análise política do eleitor é muito superficial. Esta situação pode resumir-se de uma forma dramaticamente simples: ‘houve alguém que tirou, que foi um governo do PSD, e houve alguém que deu e esse alguém foi um Governo liderado pelo PS’. As pessoas têm esta análise superficial e os responsáveis políticos fomentam esta análise superficial. Era preciso governar para as futuras gerações e não para as próximas eleições, mas, infelizmente, é esta  a forma como as democracias estão a funcionar e, por isso, se fala numa crise da democracia representativa. 

O Presidente da República prevê uma crise na direita nos próximos tempos…

A direita está a passar um mau bocado, mas isso é uma questão que tem de ser vista em função da circunstância de ter aparecido uma solução de esquerda que beneficiou de uma conjuntura altamente favorável. Não podemos afirmar, como tenho visto escrito por aí, que a direita está de rastos e que é preciso refundá-la. É evidente que há uma renovação que, hoje, é exigida. Não apenas à direita, mas uma renovação de todos os partidos. Mas não me parece que se possa dizer que há uma crise na direita e que esta situação é uma coisa definitiva. Há uma conjuntura desfavorável à direita, mas essa situação vai ser ultrapassada. 

Acredita que o PSD pode vencer as eleições legislativas do próximo dia 6 de outubro?

Um partido que tem a história que o PSD tem não pode ir para eleições sem a convicção de que vai ganhar. Pode não chegar ter esta convicção, mas se todos dermos as mãos vamos com certeza conseguir um resultado honroso, embora a meta de qualquer partido seja ganhar. 

Continua a acreditar que Rui Rio é o homem certo para liderar o PSD ou tudo depende dos resultados eleitorais?

Rui Rio é, neste momento, o líder do PSD e, independentemente de existirem divergências pontuais, todos temos de o apoiar. O PSD tem esse sentido de união na hora da verdade e é isso que espero que aconteça. Finalmente há um programa alternativo que os portugueses conhecem e existir uma alternativa é essencial em democracia.

Consegue prever o que é que vai acontecer a seguir às eleições dentro do PSD, nomeadamente se não conseguir vencer as legislativas?

Naturalmente que o resultado eleitoral vai obrigar o PSD a repensar-se. Não vale a pena estar a fazer de adivinho, mas o PSD é um partido que não se acomoda bem às situações em que não triunfa. Isso vai com certeza ter alguma repercussão. Vamos aguardar, mas o resultado eleitoral vai determinar opções internas no PSD. 

Teme que António Costa consiga atingir a maioria absoluta?

Não me parece. Com estes casos todos… o PS, quando as coisas correm bem, perde uma certa humildade. Isso não é a atitude adequada para quem quer conquistar uma maioria absoluta. 

Rui Rio ficou colado à ideia de que poderá apoiar um Governo socialista. O PSD deve clarificar essa questão na campanha eleitoral?

O nosso adversário é o Partido Socialista. O que Rui Rio tem dito é que há questões de interesse nacional que estão acima das questões partidárias. Mal seria que o PSD não tivesse esse sentido de responsabilidade. Mas não tem pés nem cabeça falar num ‘Bloco Central’. Nem é desejável.