Apelou esta semana à união do PSD. Por que razão o partido não consegue unir-se?
O PSD está numa fase de alguma turbulência. O que acho é que o presidente do partido tem que dar o sinal de união.
Isso não tem acontecido?
Houve algum esforço, mas também houve muita trapalhada na elaboração das listas. Há situações em que os críticos foram integrados nas listas, sobretudo aqueles que em janeiro estiveram na origem daquela tentativa de golpe de Estado interno, mas por outro lado ficaram de fora pessoas com um excelente trabalho parlamentar. Foram cometidos alguns erros. O processo foi muito demorado. O PSD demorou quase dois meses a fazer as listas. Desde o início de junho até ao final de julho. Foram os timings que a direção definiu para que o partido pudesse ser ouvido, mas dois meses é muito tempo. Julgo que o PSD gostaria de aprovar as listas em cerca de três semanas.
Estas divisões não são novas no PSD. As divergências são só por causa dos lugares ou há também questões ideológicas que justificam estas divergências?
Quem tem que unir o partido é a direção nacional. Com Passos Coelho isso ficou logo esclarecido no início da sua liderança. Ele chamou os seus adversários internos para construir com ele o futuro do partido. Desta vez, tentou-se fazer a mesma coisa após as diretas, houve um entendimento entre as duas candidaturas, mas com a saída de Santana Lopes essa união ficou em causa. Houve um conjunto de estruturas que ficaram órfãs de representatividade e ao mesmo tempo houve um acentuar das críticas à liderança porque o partido não descolava das sondagens.
Nas europeias teve o pior resultado de sempre. A que atribui os fracos resultados do PSD?
O PSD luta contra um Governo que continua a gozar de algum estado de graça. O PS recebeu uma herança extremamente positiva e conseguiu entrar numa linha de continuidade. Eles estão a fazer agora aquilo que criticavam há cinco anos e o PSD não tem conseguido ultrapassar esta situação.
A culpa não é também do PSD?
A verdade é que o PSD tem vivido períodos de alguma turbulência nos últimos anos e o resultado eleitoral põe isso em evidência. Mas também há alguma falta de proximidade ao eleitorado e isto não acontece só com o PSD. A prova disso é a abstenção nas eleições europeias. Os partidos têm de encontrar novas formas de conversar e dialogar com o seu eleitorado.
Rui Rio não tem responsabilidades na situação em que se encontra o partido?
A responsabilidade é dele, porque lidera o partido, mas estamos a falar de um partido com representatividade em todos os concelhos e em todos os distritos. O PSD é um partido de proximidade e a responsabilidade é de todos. Todos têm responsabilidade no combate que tempos pela frente. Todos têm de fazer um esforço para que o PSD tenha um resultado digno e que corresponda às expectativas. Temos de trabalhar para isso. Nos últimos dias um conjunto de autarcas, que estão insatisfeitos, tem feito críticas à liderança, mas temos todos de arregaçar as mangas e ir para o terreno.
A quem cabe promover a união do partido?
O presidente do partido ainda tem dois meses para chamar toda a gente e unir verdadeiramente o partido.
Disse, esta semana, que está em causa a sobrevivência política do partido. O PSD corre o risco de desaparecer, como aconteceu com outros partidos europeus?
O que quis dizer é que o PSD tem de ter juízo e demonstrar maturidade. Isso significa que não temos tempo para amuos e aventuras. O partido não precisa, neste momento, de autarcas insatisfeitos ou de presidentes de concelhia amuados. O PSD precisa que toda a gente se envolva no combate político. Gostava que todos preservassem o nome do partido até dia 6 de outubro.
O que está a dizer é que os críticos devem calar-se até às eleições?
Devem ajudar. Quem criar turbulência interna será criticado no futuro.
Rui Rio deve deixar a liderança se o PSD perder as eleições?
O calendário interno permite essa clarificação a seguir às legislativas. Rui Rio terá de fazer a sua análise e perceber se terá condições para ficar ou se preferirá sair. O PSD tem de fazer uma análise interna, mas não quero abordar essa temática porque todos os esforços nos próximos dois meses devem ser virados para o combate político. O PSD tem uma forte implementação nacional e estou certo que, a seguir às legislativas, haverá condições para que o partido possa voltar a crescer se houver alguém que consiga fazer esta união dentro do PSD.
O PSD não podia ter feito essa clarificação no início deste ano, quando Luís Montenegro desafiou Rui Rio para antecipar as eleições internas?
Não. Perdemos um mês a falar para dentro antes das eleições europeias. Tive pena que o Luís Montenegro enveredasse por esse caminho, porque acho que o partido se desuniu e isso ainda hoje se sente. Tive pena que isso acontecesse, porque Luís Montenegro prestou um grande serviço ao partido e ao país numa altura muito difícil quando liderou o grupo parlamentar.
Foi diretor de campanha de Pedro Santana Lopes. Ficou desiludido quando ele saiu para criar um novo partido?
Não esperava, porque nas diretas esse cenário foi colocado por Pacheco Pereira e Santana Lopes negou que tivesse essa intenção. A verdade é que inicialmente ajudou Rui Rio a unir o partido e fiquei muito triste quando percebi que ele estava a afastar-se do PSD. Não sei se Pedro Santana Lopes não está arrependido…
Acha que se arrependeu?
Ele saiu do PSD com 45% das intenções de voto, quase metade do partido, e criou um partido que nas europeias não atingiu 2%. Julgo que o novo partido de Santana Lopes não terá grande futuro. Havia um carinho muito grande pela figura do dr. Santana Lopes e estes militantes do partido sentiram-se traídos com esta movimentação. Espero que reconsidere e que ainda possa voltar ao PSD. O partido vai recebê-lo de braços abertos.
Não há espaço para um novo projeto de direita como aconteceu em Espanha?
Penso que não. O PSD ainda tem muito para dar aos portugueses. O PSD poderá estar a passar um período conturbado e as sondagens não ajudam, mas o grande projeto da direita chama-se PSD.
André Ventura também não terá sucesso?
Penso que não. O nosso espectro politico está blindado a estas correntes populistas. Julgo que são projetos que não terão grande futuro.