O presidente do PSD, Rui Rio, vai ter duas a três iniciativas semanais até ao período de campanha oficial para as legislativas de 6 de outubro e quis passar a mensagem de que o tempo das crises internas acabou. Na entrega das listas de candidatos ao Porto, do qual é número dois, Rio foi claro : «Não sou adversário dos militantes do PSD, o meu adversário é Costa». O registo é o correto, segundo alguns militantes ouvidos pelo SOL, sob anonimato, mas numa semana de preparativos para a campanha houve um momento insólito para alguns dirigentes locais.
As procurações legais, enviadas pela sede, para que cada distrito entregue a lista de candidatos do respetivo círculo em Tribunal, não era apenas uma versão pró-forma para corresponder aos requisitos legais. A folha incluía, além dos termos normais de uma procuração, a lista de candidatos em lugares elegíveis pelo círculo eleitoral. Um pormenor que não passou despercebido. No passado a regra era a de enviar a procuração e a lista em anexo. Facto que aliviava várias estruturas do trabalho de casa. Agora, o processo também foi aligeirado para as estruturas mas com o cuidado de incluir tudo na mesma folha. Este pormenor foi interpretado por militantes, com responsabilidades locais, como uma forma da direção centralizar tudo, sem margem para alterações de ordenação no momento da entrega das listas. «Parece que desconfiam de tudo», desabafou ao SOL um crítico de Rui Rio. A ideia é partilhada por dirigentes locais, que preferiram não se identificar.
A direção optou por seguir a lei à «risca», apurou o SOL , refutando qualquer ideia de desconfiança em relação aos mandatários distritais. Seja como for, este é mais um exemplo de que o PSD se prepara para eleições num clima em que, ao mínimo pormenor, se criam sinais de desconfiança.
Os casos das formações das listas parecem ter ficado para trás – aliás o prazo termina na próxima segunda-feira – mas ainda surgem exemplos de desistências ou críticas que se refletem na preparação da campanha.
Casos de desistências Na Guarda, a Comissão Política distrital da JSD decidiu não fazer campanha pela falta de representatividade da jota na lista. O cabeça-de-lista na Guarda, o deputado Carlos Peixoto, chegou a dizer, citado pela Rádio F, que o único objetivo desta decisão era fazer o PSD perder eleições. À mesma rádio o líder da JSD distrital disse serem lamentáveis tais declarações. Por seu turno, na distrital de Aveiro, a estrutura está a postos para a campanha, coordenada por João Silva, mas o primeiro nome a ser apontado para coordenar a campanha distrital foi José Carlos Santos. Ao SOL, o dirigente confirmou que desistiu: «Confirmo e confirmo que existe um descontentamento em relação aos pressupostos que não se chegaram a concretizar». Foi desta forma que José Santos respondeu à pergunta sobre alguma incompatibilidade com a cabeça-de-lista, Ana Miguel Santos.
O assunto está arrumado e nesta estrutura como nos distritos da Guarda, Castelo Branco, Viseu, Lisboa, Porto e Algarve já se preparam iniciativas de campanha e contactos de rua. No Algarve mobilizam-se esforços para a Festa do Pontal, em Monchique, a 31 de Agosto, que será o primeiro momento da rentrée política. Haverá um torneio de futebol, plantação de medronheiros, bancas para cada distrito, música ao vivo e o discurso de Rui Rio.
No Porto, por exemplo, o cabeça-de-lista, Hugo Carvalho, convenceu Rio a participar num carpool, uma conversa a dois ao volante de um carro. O percurso durou 18 minutos até ao tribunal onde foram entregues as listas. Rio falou da ideia que o tem acompanhado nas últimas duas décadas: contrariar o sistema. E até recomendou a Hugo Carvalho a eventual toma de «produtos naturais» ou até ansiolíticos, de vez em quando, para enfrentar o sistema. « Quem chega e faz diferente leva pancada todos os dias», afirmou Rio.
Em Lisboa, a cabeça-de-lista, Filipa Roseta, tem a militante histórica do partido Virgínia Estorninho como mandatária política. Ao SOL Virgínia Estorninho promete uma campanha que alie a tradição da fundação do PSD, de falar com as pessoas, sem «grandes arruadas» com as novas tecnologias. A mandatária política não poupa elogios a Filipa Roseta, que conhece desde «pequenina». Assume que na lista por Lisboa «há uns [candidatos] melhores do que outros». Mas «acima dos gostos está o PSD e eu não quero ver o meu partido morrer» defende. Porém, questionada se o PSD corre esse risco, Virgínia Estorninho garantiu que não, ainda que « a campanha autárquica em Lisboa [em 2017] tenha sido má».
No PSD há quem só esteja à espera dos resultados das legislativas para avaliar o próximo passo, sendo certo que os sociais-democratas terão eleições diretas entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020. Entretanto, o SOL apurou que Luís Montenegro foi convidado por candidatos a deputados para participar em ações de campanha em vários distritos do país, mas ainda não se sabe quais e quando irá participar. Ou seja, o nome que se colocou na reserva para avançar após as legislativas, entrará na campanha. Falta definir o número de aparições. Com igual disponibilidade, mas num registo diferente, Moreira da Silva, antigo ministro do Ambiente, já falou com Rui Rio para dizer que estava disponível para participar na campanha. O próprio já deu sinais de vir a assumir uma candidatura à liderança do PSD.
Imune a eventuais movimentações internas, Rio escolheu, entretanto Joaquim Sarmento para mandatário nacional das Legislativas, apontado como um futuro ministro das Finanças num governo do PSD. «Não me engano se disser que o país tem muito a esperar dele», escreveu ontem Rio no Twitter.