António Costa e Jerónimo de Sousa encontraram-se esta segunda-feira naquele que foi o primeiro debate televisivo das legislativas de 2019, transmitido na SIC.
O líder do Partido Socialista (PS) recusou fazer comparações entre o Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE) e considerou que tudo o que havia sido acordado pela gerigonça foi cumprido.
“Nunca disse que foi mais fácil trabalhar com o PCP. Não seria justo fazer comparações. Há de facto divergências insanáveis, mas há quatro anos percebemos que havia condições para fazermos coisas em comum. Tudo o que assinámos foi cumprido. As relações foram sempre bilaterais, tivemos sempre relações de trabalho paralelas”, começou por dizer António Costa.
Recordando os quatro anos de geringonça, Jerónimo de Sousa elogiou o diálogo entre os partidos e falou ainda no orgulho de todas as conquistas feitas ao longo dos últimos quatro anos.
“Preferimos valorizar o que se conseguiu, num quadro exigente. Houve uma contribuição para aquisição de direitos que muitos julgavam perdidos. Conseguimos coisas que valorizamos muito, como os passes sociais. Passados quatro anos, manteria a mesma seriedade no relacionamento [com António Costa]”, disse o líder do PCP.
Questionado sobre o facto de não admitir manter a atual solução governativa, Costa nega que tenha tirado de cima da mesa essa hipótese e garante que está à espera dos resultados eleitorais para tomar decisões.
"Eu nunca disse que (a geringonça) não era para manter (…) Em função dos resultados eleitorais, veremos quais as soluções que existem. O PS tem sido o único partido que tem assumido o resultado desta governação. Veja que o PCP assume uma parte, mas sublinha as limitações. Nós orgulhamo-nos de dizer que cumprimos tudo o que assumimos e provamos que estes compromissos não eram incompatíveis”, declarou o atual primeiro-ministro.
Também Jerónimo de Sousa garante que “os resultados falam por si” e que o PCP “não perdeu” com a Gerigonça.
A primeira discórdia no debate chega quando se fala em precariedade. Se para o líder do PS há menos precariedade, o PCP tem uma visão diferente.
“Não é por acaso que os patrões estão de acordo com a alteração à lei laboral. O Presidente da República promulgou esta lei com uma nota. Se existirem crises, quem vai pagar é quem trabalha. São sempre os salários a pagar as crises. A questão dos salários e dos direitos continua a ser central na vida das pessoas”, disse Jerónimo de Sousa.
“A questão dos contratos a prazo poderia durar até seis anos, agora é de seis meses num quadro de contrato definitivo. Verificado esse período, fica o contrato para a vida. É uma fortíssima medida contra a precariedade. Esta é a primeira legislação que, aprovada no mundo do trabalho desde 1976, em vez de comprimir, alagar os direitos. Não podem dizer que é um retrocesso, é um avanço. Esta legislação resultado de um acordo em concertação”, defendeu António Costa.
Já sobre a aprovação do Orçamento do Estado (OE), e sobre o facto de o PCP considerar desde sempre que o PS aplicava políticas de Direita, Jerónimo de Sousa rejeita qualquer responsabilidade em matérias com as quais diz discordar.
“Em relação aos OE havia disponibilidade para exame comum. Foram incluídas nesses orçamentos centenas de propostas do PCP. Recuso-me a aceitar responsabilidade em matérias com as quais discordo”, afirmou, garantindo que “é um exercício difícil” saber se o PCP está disponível para aprovar OE mais restritivos.
“É perante conteúdos concretos que decidiremos. Quero manifestar que se alguém pensa que vamos voltar para trás com congelamento de salários ou seguir um caminho de voltar para trás em matérias de direitos, se isto estiver refletido nas propostas de lei ou de OE, não terão alimento por parte do PCP”, acrescentou.
Já sobre a continuação de Centeno no Governo, caso o PS vença as eleições, António Costa elogia o atual ministro das Finanças, mas deixa claro que apenas fará convites quando tiver “legitimidade” para os fazer.
“Importa saber se serei o primeiro-ministro. Centeno é candidato a deputado e está comprometido com a atividade política. Todos fazemos apreciação positiva do trabalho que desenvolveu. Os convites para o Governo farei quando tiver legitimidade para os fazer. Não é preciso ter grande dotes para perceber que quem tem de formar uma equipa não deixa no banco os melhores jogadores que pode pôr a jogar”, declarou.
Sobre a queda do PCP e dos 15 anos à frente do partido, Jerónimo de Sousa acredita ser parte de uma solução e não do problema.
“A opinião é refletida sobre o que ouço, a questão do secretário-geral não está posta. Os apressados que tenham mais serenidade. Vou fazer esta campanha com toda a disponibilidade, determinação e força para conseguir este grande objetivo da CDU. Há quem afunile a vida para as eleições, mas se reduzisse a minha atividade a pensar no resultado das eleições, estaria aqui a mais”, rematou.
Recorde-se que as eleições legislativas portuguesas de 2019 irão decorrer no dia 06 de outubro.