Direitos humanos, desigualdades sociais, consciências cívica e ambiental, igualdade de géneros. São conceitos amplos, essenciais, mas serão fáceis de explicar aos mais novos? Foi precisamente para despertar a curiosidade das crianças – e facilitar a vida aos pais na hora de passar a mensagem – que Kátia Catulo criou Que Bicho te Mordeu, um site destinado a crianças e adolescentes dos sete aos 14 anos.
Jornalista há mais de 20 anos, Kátia passou pelo jornal A Capital, Diário Económico, Diário de Notícias e i, onde se dedicou especialmente aos temas relacionados com a educação. E foi durante o tempo em que trabalhou como jornalista a tempo inteiro que se começou reparar numa tendência: os jovens chegavam às redações com pouca cultura geral e, muitas vezes, mostravam um grande desinteresse. «Esse desinteresse generalizado intrigou-me, porque não bate certo com o acesso à informação e à educação que as gerações mais novas têm», afirma.
Depois de, em 2016, ter deixado as redações, Kátia Catulo tornou-se freelancer e aproveitou o tempo livre para se dedicar à família e a este projeto que há muito tempo lhe «zumbia como um inseto ao ouvido».
Mas afinal, o que é o Que Bicho te Mordeu? É um site destinado aos mais novos, mas tem também espaço para os pais «com temas relacionados com a infância e educação para todos os educadores», explica a sua criadora. O objetivo do projeto é, como já se disse no início, simples: «espicaçar a curiosidade dos mais novos para temas sobre direitos humanos, desigualdades sociais, valorização de memórias, consciências cívica e ambiental, igualdade de géneros, ciência, entre outros». A grande diferença é que estes temas não são abordados de forma explícita: «O que tento é tirar partido do potencial narrativo para contar uma boa história que, por si, seja suficiente para que esses mesmos valores possam ser entendidos de forma natural e sem ser panfletária», traduz.
Assim, o Que Bicho te Mordeu é uma espécie de enciclopédia para os mais novos, até porque está recheado de curiosidades que vão deste os mistérios da natureza ao comportamento humano, tendo até perfis de grandes e importantes figuras da história.
O site é apelativo e, como convém, de fácil utilização. Há quatro separadores e cada um tem a sua função. O primeiro tem o nome de Bichos Carpinteiros onde, explica Kátia, se contam histórias de figuras com percursos inspiradores. Exemplos disso são o índio Raoni, que protege a Amazónia; Josefa de Óbidos, que inventou o barroco português e foi também a primeira pintora profissional portuguesa numa área dominada por homens; Eugene Lazowoski, o médico polaco que criou uma falsa epidemia de tifo e salvou uma cidade inteira dos nazis ou Yayoi Kusama, a famosa artista plástica japonesa que vive num hospital psiquiátrico, entre tantos outros. Segue-se a Enciclopédia dos Porquês, um separador importante, até porque todas as crianças passam por esta fase. «Porque cheiram tão bem os livros? Porque são os pigmeus baixinhos? Porque gostam tanto os abutres de cadáveres? Porque o tempo às vezes corre depressa e outras vezes devagar? Porque nem sempre vemos o que está diante do nariz? Porque há engarrafamentos no trânsito?». Estas são algumas das perguntas a que Kátia Catulo – que, sozinha, gere todos os conteúdos do Que Bicho te Mordeu? – dá resposta.
Mas os separadores não ficam por aqui. Também relacionado com perguntas está o Bichinho das Contas onde, neste caso, as respostas implicam contas e números. Quanto sal tem o mar, quanto pesa o pó nas nossas casas ou até quantas cores tem o mundo, são algumas das questões às quais o Bichinho das Contas é capaz de responder.
Por último estão os Bichos no Sótão «que desenterram memórias, umas mais próximas da geração dos pais, outras dos avós».
E porque o Que Bicho te Mordeu é para todos, não podia faltar o Cantinho dos Papás, que fala sobre temas de desenvolvimento infantil, comportamento, alimentação, entre muitos outros. «A ideia é juntar algumas das investigações mais relevantes sobre determinados temas, resumindo e catalogando estudos por fichas com datas, autores, anos de publicação», explica a criadora do site. As investigações focam-se em temas distintos: como pôr as crianças a comer frutas e legumes, qual a origem dos amigos imaginários, como lidar com as birras e por aí fora. Para Kátia, o objetivo era criar um projeto que, no fundo, «tentasse manter a curiosidade que as crianças têm desde muito pequenas». «Ou melhor, aproveitar a curiosidade delas para despertar algum interesse para assuntos e temas que fazem parte do nosso dia-a-dia», sublinha.
Garantindo que não tem pretensão de ser inovadora, a criadora do Que Bicho te Mordeu? garante que o novo site «quer inaugurar uma nova era digital, que em bom português poderia ser chamada de era da lentidão digital». Acima de tudo, pretende que este projeto possa ser um pequeno contributo para o crescimento intelectual, emocional, criativo e cívico das crianças. Até porque se há premissa intocável é esta: os mais novos são o futuro.