Costa joga em vários pratos

Maioria absoluta parece longe. No horizonte os socialistas têm várias soluções: podem fazer acordos para repetir a ‘geringonça’, tentar uma solução à Guterres ou concertar posições com o PAN. Tudo está em aberto.

Compromisso e estabilidade foram as duas palavras de ordem do primeiro-ministro nos últimos dias de campanha. E não é para menos. No PS são poucos os que esperam por uma maioria absoluta e António Costa tem tudo em aberto para o dia 6 de outubro. «Vamos ver» será talvez a expressão que melhor define o discurso para o day after  dos socialistas.  Acordos verbais à esquerda (sem uma declaração de compromisso escrita), a inclusão do BE ou do PCP no Governo ou um entendimento de incidência parlamentar, são, para já, os cenários em cima da mesa. 

O primeiro-ministro, que dividiu a campanha entre o atual cargo e o papel de candidato, joga normalmente por antecipação. Mas pouco tem revelado sobre a estratégia que tem vindo a ser desenhada nos bastidores. 

No dia que o debate sobre o caso de Tancos, que desgastou os socialistas, Costa salientou que «a geringonça funcionou sempre desde o primeiro dia».  

Ainda assim, Costa defendeu que tanto o Bloco de Esquerda como PCP não se comprometeram a garantir uma solução de estabilidade para os próximos quatros anos. Uma ideia procurou passar numa entrevista à RTP, quando explicou que  o entendimento político de há quatro anos «resultou de várias vontades, mas também de vários equilíbrios». E esse equilíbrio foi assegurado, segundo Costa, pelos socialistas.

 

BE, PCP ou PAN

Para António Costa, conseguir um equilíbrio com o Bloco de Esquerda será mais difícil, sobretudo depois do azedume em pleno debate televisivo, a seis, no passado dia 23 de setembro. Costa terá sido surpreendido pela revelação da líder bloquista, Catarina Martins, de um encontro privado há quatro anos, no qual terão sido acertadas as premissas para a geringonça. O encontro, segundo Catarina Martins, foi entre Fernando Medina e Jorge Costa e terá decorrido precisamente na manhã no dia das eleições, antes mesmo de serem conhecidos os resultados. Da ementa do encontro resulrou uma aproximação de vontades que serviria de base para fazer a ‘geringonça’. 

No PS a revelação deixou alguns incómodos, e há quem defenda que seria mais fácil um acordo com o PCP do que com o BE, mesmo que fosse um mero acordo de incidência parlamentar. Ou seja, há quem entenda que o BE deveser excluído de uma próxima ‘geringonça’. 

Fora de cenário, não está, um entendimento entre o PS e o PAN, o partido Pessoas-Animais-Natureza. A ideia ganhou força durante o período oficial de campanha  mas esta possibilidade tem vindo a ser falada em surdina depois das eleições europeias. Mas entre os socialistas ouvidos pelo SOL, a ideia não tem muito adeptos.  

Costa pode ainda optar por fazer acordos por setores com os partidos da esquerda, para garantir a aprovação dos Orçamentos do Estado. Solução que foi seguida, aliás, por António Guterres em 1999, no seu segundo Governo. Problema? A história diz que o caso não acabou bem porque Guterres acabou por sair em 2001, depois de um desastre eleitoral autárquico, alegando que batia com a porta para evitar um «pântano político». 

Entre os prós e contras dos vários cenários, só há uma certeza: em 2018, Marcelo Rebelo de Sousa assegurou que não precisaria de acordos escritos para dar o seu aval a uma nova ‘geringonça’, ao contrário do seu antecessor, Cavaco Silva, que, em 2015, exigiu os acordos assinados antes de o PS tomar  posse.