Os preços das rendas continuam a disparar. Só nos primeiros seis meses do ano, os valores subiram 9,2% para uma média de cinco euros por metro quadrado. Lisboa continua a ser a zona a praticar preços recorde, com o preço por metro quadrado a duplicar a média nacional. Os dados foram revelados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
O cenário não surpreende o presidente da APEMIP, que garante que «o mercado de arrendamento é praticamente inexistente e os preços praticados são absolutamente irrealistas tendo em conta as necessidades dos jovens e famílias da classe média e média baixa, que muitas vezes assumem uma taxa de esforço muito superior ao que poderiam suportar, aumentando consideravelmente o risco de incumprimento», refere Luís Lima ao SOL.
O responsável acredita, no entanto, que se a questão da habitação fosse mais debatida, num trabalho conjunto entre o setor público e o privado, seria possível encontrar soluções que fossem benéficas para todos. «Acreditei verdadeiramente que o tema da habitação seria um dos temas centrais desta campanha eleitoral para as eleições legislativas, mas foi abordado com muita ligeireza, o que me surpreendeu, pois quero crer que os partidos políticos têm consciência do verdadeiro problema que têm em mãos e que tem de ser resolvido com urgência». E não hesita: «É um interesse que deverá ser de todos, tal é a importância que o imobiliário tem no panorama económico nacional. Como costumo dizer, se cair, cairá em cima de todos nós».
Mas vamos a números. De acordo com os dados do INE, foram feitos mais de 71 mil contratos, o que representa uma quebra de 10,5%. Lisboa lidera o ranking das cidades mais caras do país. Na Área Metropolitana de Lisboa (AML), onde foram celebrados 23 562 contratos de arrendamento – o equivalente a um terço do total –, o valor das rendas fixou-se nos 7,54 euros por metro quadrado. Mas, se tivermos em conta apenas o município de Lisboa – o mais caro do país –, os valores sobem para 11,71 euros por metro quadrado. Carnide foi a freguesia a registar o maior aumento nas rendas: 20,5% para uma média de 13,21 euros por metro quadrado, assim com as Avenidas Novas (mais 20,1% para 13,15 euros por metro quadrado). Mas são Santo António (14,12 euros por metro quadrado), Misericórdia (14,03 euros por metro quadrado) e Parque das Nações (13,67 euros por metro quadrado) que apresentam os valores medianos de rendas da habitação mais elevados.
Já na Área Metropolitana do Porto (AMP) foram registados 12 431 novos contratos de arrendamento e o valor das rendas fixou-se nos 5,42 euros por metro quadrado. No entanto, se analisarmos apenas o município do Porto, estas subiram para os 8,33 euros por metro quadrado. As maiores subidas foram registadas na União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde: 25,3% para 9,62 euros por metro quadrado, destacando-se também como a freguesia mais cara.
O certo é que os aumentos mais expressivos registaram-se no norte do país. Nos municípios de Braga, Matosinhos e Porto, o valor mediano das rendas aumentou 16,4%, 16% e 15,5%, respetivamente. Também Setúbal está entre os municípios que mais encareceram, com uma subida de 16,3%.
Já na análise a nível regional, as subidas de preços são generalizadas, contando-se apenas quatro regiões onde as rendas caíram: Douro, Terras de Trás-os-Montes, Alentejo Litoral e Alto Alentejo, todas com valores abaixo da mediana nacional.
Compra também em alta
O mercado de compra também não escapa a esta tendência. De acordo com os últimos dados do INE, no segundo trimestre, os valores subiram 10% face a igual período do ano anterior. Ainda assim, Luís Lima reconhece que já começa a sentir-se um ligeiro reajuste em termos de valores, principalmente nas grandes cidades.
«Os preços não podem subir até ao céu, e os potenciais compradores e investidores começam já a recuar, o que faz com que o tempo de permanência em carteira dos ativos aumente, levando a um ajuste dos preços pelos proprietários. No entanto, este é um fenómeno que se concentra nas principais cidades, como Lisboa, Porto e algumas zonas no Algarve. No resto do país, o mercado imobiliário assiste a uma valorização sustentada dos ativos, devido ao aumento da procura influenciado pela descentralização do investimento», diz ao SOL.
E para descer ainda mais, o responsável garante que só há uma solução: «Se houver um aumento do stock disponível e se os preços das casas no mercado forem ajustados, as transações continuarão a realizar-se normalmente. Com a falta de ativos e com os preços que estão a ser praticados, sobretudo nas principais cidades, é muito difícil avaliar o comportamento do mercado», conclui.