PSD. Montenegro avança para a liderança e desafia Rio também a ir votos nas diretas

O antigo líder parlamentar do PSD começou por dizer que o resultado de 27,90 por cento foi o pior em 36 anos

O antigo líder parlamentar do PSD Luís Montenegro entrou ontem em campo para a corrida eleitoral interna do partido. Em entrevista à SIC, foi muito claro: “Serei candidato nas próximas eleições diretas por uma questão de coerência e de convicção e, já agora, gostava muito que o dr. Rui Rio fosse também candidato”.

Nove meses depois de ter recuado, após a derrota num conselho nacional contra Rui Rio, Montenegro considerou que as eleições diretas (previstas para janeiro de 2020) podem ser um momento de clarificação, daí a utilidade também de uma corrida interna com Rio. O antigo líder parlamentar do PSD começou por dizer que o resultado de 27,90% foi o pior em 36 anos e defende que os sociais-democratas devem ter mais ambição. Prometeu lutar por um “PSD grande” e não esqueceu que Rio “quebrou um ciclo de vitórias”. “O PSD transformou-se num partido subalterno do PS. É preciso dizer basta”, atirou.
O ex-dirigente foi ainda confrontado com o facto de ser arguido no caso das viagens ao Euro 2016. Nesse ponto, Montenegro disse estar de consciência tranquila. “Tenho a certeza absoluta de que não cometi qualquer crime”, assegurou, lembrando que pagou as despesas quando foi ao Euro 2016.

Pinto Luz soma apoios E se Luís Montenegro já sinalizou a sua entrada na corrida interna, há outro nome que é certo nesta contenda: o do vice-presidente da Câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz. O autarca recebeu, entretanto, mais apoios. Carlos Carreiras, presidente da mesma autarquia, acusou Rio de ter feito bullying “a toda a gente”, numa entrevista à SIC Notícias. Mais: esclareceu que não era candidato e, por fim, assegurou que se Pinto Luz avançar, terá o seu voto nas eleições diretas do partido. Sobre Rui Rio, Carreiras considerou também que a reflexão do atual presidente do PSD “deveria ter um tempo curto”. Também José Eduardo Martins, antigo secretário de Estado, garantiu: “Se [Miguel Pinto Luz] for candidato, será o meu candidato”, afirmou na RTP3. Para o também ex-dirigente social-democrata, o mandato de Rio “foi um insucesso” e Pinto Luz tem “uma experiência executiva notável”. Há dois anos, José Eduardo Martins apoiou Rui Rio. Pinto Luz terá ainda nomes como Vasco Rato, José Matos Rosa , ex-secretário–geral social-democrata, e o autarca de Santarém, Ricardo Gonçalves, e há quem acredite que Miguel Relvas, antigo secretário-geral do PSD e ministro, lhe possa vir a dar apoio. O i tentou contactar o ex-governante, mas sem sucesso.
 
Uma petição e uma recandidatura que não é óbvia
Os críticos internos começam a pedir celeridade para Rio se definir e dizer se é recandidato, ou não, mas, também entre os seus apoiantes, Ângelo Correia lembrou a necessidade de a decisão ser célere. Porém, o presidente do PSD não dá sinais de querer esclarecer nada esta semana. Primeiro vai deixar que o Governo se defina em matérias de apoio parlamentar, aguardar que todos os rivais internos se apresentem e, depois, decidirá. Por agora está a ouvir pessoas, reuniu a comissão permanente na passada segunda-feira e não há mais nada marcado esta semana. 

Para o seu vice-presidente David Justino, a decisão de Rio voltar a concorrer não é óbvia. “Não é óbvio. Se há condições para dar continuidade a este projeto, julgo que há. Mas para que essa estratégia possa ser concretizada é necessário um líder. Agora, o facto de se querer assumir como líder está dependente da sua vontade e da sua circunstância pessoal”, declarou ontem Justino no programa Almoços Grátis, da TSF – um sinal de que os apoiantes de Rio estão a abrir caminho para a dramatização interna à volta do líder. Ora, ontem foi lançada uma petição pública online para que o presidente social-democrata se mantenha à frente do PSD. “Esta petição é dirigida sobretudo ao Presidente e aos órgãos do Partido Social Democrata (PSD), mas também a todos os cidadãos que votaram Rui Rio, aos órgãos do governo e assembleia e a todos os empresários”, lê-se no texto, subscrito por 233 pessoas. Entre elas estão o vice-presidente do PSD Salvador Malheiro e o deputado António Topa, ambos de Aveiro. 

O silêncio de Rio está a ser encarado no PSD como um tabu, mas David Justino explicou os motivos do impasse: “Eu acho que o dr. Rio – como já é reconhecido e característico da sua forma de atuar – não vai expressar-se quando existe este coro autêntico de apresentação de candidaturas, de críticas, de ataques. Enquanto isto durar, não vai apresentar. Não há tabu nenhum”, justificou o dirigente, que coordenou também o programa eleitoral do partido.
Justino gostaria de ver Rio recandidato nas eleições diretas de janeiro, tal como a equipa de direção, mas o partido está a ficar cada vez mais dividido. Montenegro já soma apoios de presidentes de distritais como Viseu, Viana do Castelo eSantarém, ou de dirigentes cessantes em Leiria, como Rui Rocha. Do lado de Pinto Luz, os apoios em Lisboa serão muitos e colherá ainda alguns em Setúbal. Rio, por sua vez, tem apoio garantido de Braga e Guarda e do líder da distrital de Aveiro. 

Há quem garanta ao i que Rio deve manter-se e recandidatar-se a mais um mandato. Essa é, pelo menos, a convicção dos últimos dias, mas, se tudo mudar, existem ainda mais dois cenários possíveis com dois potenciais candidatos na reserva: Jorge Moreira da Silva e Paulo Rangel. O eurodeputado não é candidato, mas poderá colher alguns apoios de Rio se o líder do partido não avançar. Contudo, o antigo ministro do Ambiente, que se mantém a trabalhar na OCDE, pode ser uma solução, caso o presidente do PSD não avance e tenha condições mínimas para concorrer. O próprio não abre o jogo, mas está a acompanhar a situação interna no PSD. Fora desta equação e contra Rui Rio, o deputado Miguel Morgado ainda avalia se concorre ou não.

Entretanto, a nível local começam também a ocorrer mexidas, fruto de final de mandato ou anúncio de demissões.

Vice de Pedro Pinto avança em Lisboa Na distrital de Lisboa haverá eleições no próximo dia 9 de novembro e o vice-presidente da distrital, Ângelo Pereira, apresenta hoje a sua candidatura à liderança da estrutura, confirmou o próprio ao i. Pedro Pinto está de saída mas será seu apoiante, tal como a deputada recém-eleita Filipa Roseta. O seu presidente de comissão de honra é Miguel Castro Neto, ex-secretário de Estado do Ordenamento do Território e da Conservação da Natureza. Ângelo Pereira, que teve um diferendo com a direção de Rui Rio por causa dos gastos de campanha nas últimas autárquicas, está apostado numa reconciliação e mobilização interna dos sociais-democratas para as autárquicas com um desafio em 2021: ganhar a Câmara de Lisboa.