Rio prepara-se para ir a jogo em janeiro

Presidente do PSD não vai antecipar calendários eletivos internos. Dirigentes próximos já deram argumentos para a recandidatura. Montenegro soma apoios e Pinto Luz prepara anúncio de candidatura.

O presidente do PSD, Rui Rio, prepara-se para ir jogo para um próximo mandato. A decisão já estará tomada, apesar de não o ter comunicado a toda a sua equipa, apurou o SOL. Oficialmente não há qualquer decisão. A mesma deverá ser comunicada até dia 16, data da comissão política, marcada para dez dias depois das eleições para analisar os resultados.

Para já, a ordem é mesmo a discrição e Rui Rio, que reuniu a sua comissão permanente na passada segunda-feira, rumou ao Porto, tendo estado a ouvir pessoas para fechar a sua decisão. Isto enquanto os seus apoiantes lhe preparam o terreno e os argumentos para se poder recandidatar.

David Justino, vice-presidente do PSD e um dos seus elementos mais próximos, afirmou na RTP3, por exemplo, que a decisão de Rui Rio é pessoal, mas que se fosse pela sua vontade, «deveria continuar». Porém, «não identificava Rui Rio como um desistente». Feita a análise de perfil de Rio, Justino usou parte dos argumentos que o líder do PSD pode vir a usar. À exceção da campanha, Rio esteve 180 dias a sofrer ataques internos de companheiros do partido. E  Justino nem esqueceu o nome de Marques Mendes (sem nunca o referir), ao lembrar as homilias de domingo (na SIC). Mendes tornou-se, efetivamente, um arqui-inimigo do atual presidente do PSD.

Morais Sarmento, outro dos vice-presidentes de Rio, já tinha gizado mais notas para a eventual lista de argumentos, também na RTP3, numa entrevista que se seguiu – mal Luís Montenegro, o antigo líder parlamentar do PSD, se assumiu como candidato, na passada quarta-feira. Rio teria «mais bagagem» que os adversários, apesar de ter cometidos erros e do resultado ter sido curto. Mais: Sarmento  admitiu que o Governo pode não durar mais de dois anos, um argumento a ter em conta por Rio.

 

Montenegro soma apoios

O antigo líder parlamentar Luís Montenegro não esperou mais do que três dias após os resultados eleitorais para anunciar que era candidato e desafiar Rui Rio a recandidatar-se. O objetivo? A necessidade de uma clarificação interna. Isto, porque em 2017 o partido dividiu-se na eleição e uma parte dos sociais-democratas afastou-se ou foi afastada. Por isso, quem ganhar o partido terá a missão de o unir. Além disso, Montenegro também precisa dessa clarificação para obter a margem necessária para mudar a estratégia do partido – mais acutilante com o PS – e procurar fazer alguma reconciliação. São várias as distritais que apoiam Montenegro: Viseu, Santarém, Viana do Castelo, ou até o presidente cessante de Leiria. Existem ainda autarcas importantes na lista como o de Famalicão, Paulo Cunha, e o de Viseu, Almeida Henriques. Mas existirão mais, como Alexandre Gaudêncio, presidente do PSD/Açores, Luís Menezes, filho de Luís Filipe Menezes e ex-deputado, e Pedro Duarte, responsável pelo Manifesto X. Ontem, Montenegro festejou a vitória autárquica em Espinho, com mais de 600 pessoas e vai somando mais apoios. Chegará para ganhar? Ninguém arrisca prognósticos nesta fase, sobretudo porque muitas concelhias ainda não se reuniram para definir quem apoiam e há quem espere que todos os candidatos se apresentem.

Segundo informações recolhidas pelo SOL, alguns militantes do PSD não gostaram que Montenegro se apresentasse ( na entrevista à SIC) de forma tão célere.

«Pode dar a imagem de tentativa de assalto ao poder», advertiu um dirigente local. Certo é que o antigo líder parlamentar não tinha alternativa. Teria de ser consequente com o que disse em janeiro quando desafiou Rio para diretas e teria de demonstrar que a sua estratégia não era condicionada pela de Rui Rio. Além disso, não poderia usar o PSD de Espinho como o primeiro palco para anunciar a recandidatura. Depois, era preciso rebater a ideia de que o resultado do PSD era honroso. Por isso, Montenegro considerou que o primeiro-ministro António Costa era «batível» nas eleições se a estratégia tivesse sido outra, conforme explicou à SIC, a estação televisiva que escolheu para fazer o anúncio. Ou seja, sem aproximações ao PS para as tais reformas estruturais que Rio tanto defende.

Já do  lado de Rio, por exemplo, é o  vice-presidente do PSD e líder da distrital de Aveiro, Salvador Malheiro, quem tem andado numa roda viva a fazer contactos para perceber que apoios terá Rui Rio. E os apoios não serão os mesmos que os de 2017.

 

Miguel Pinto Luz aguarda anúncio de Rui Rio

Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais, é candidato há meses, mas está à espera que Rio revele em público a sua decisão para transmitir a imagem de que é um institucionalista. Na lista de apoios, o autarca tem sobretudo bases em Lisboa e numa parte da distrital de Setúbal. Por isso, terá Carlos Carreiras a seu lado, o autarca de Cascais. Mas também alguns nomes passistas ou próximos de Miguel Relvas, como é o caso de José Matos Rosa, antigo secretário-geral do PSD, escolhido para ser o seu diretor de campanha.

Na lista de potenciais candidatos está também o deputado e ex-assessor político de Passos Coelho, Miguel Morgado, sendo uma incógnita o que fará Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do ambiente. O próprio promete pronunciar-se a seu tempo. Já Paulo Rangel só poderia ser candidato, caso Rio não avançasse.  E disse à  Rádio Renascença que a sua candidatura não se colocava.

 

Cavaco surpreende e Passos prefere o silêncio

A semana acabou por ficar marcada por uma declaração escrita à Lusa do ex-presidente da República, Cavaco Silva. Num registo raro, Cavaco Silva acabou a defender que a principal tarefa do PSD, agora, é a da reconstrução do partido, recuperando quem foi afastado ou se afastou. A mensagem foi clara: Cavaco Silva não se revê na estratégia de Rui Rio, acabando por lhe tirar o tapete. Mais: indica Maria Luís Albuquerque, ex-ministra das Finanças, como uma das figuras a recuperar (ou lançar para uma candidatura). A própria não avançará, devendo apoiar Luís Montenegro.

Por seu turno, contactado pelo SOL, o ex-líder do PSD, Passos Coelho preferiu não fazer qualquer comentário sobre o PSD.