O candidato à liderança do PSD Luís Montenegro tem-se mantido relativamente discreto, desde que anunciou a sua disponibilidade para concorrer contra Rui Rio, mas quebrou o silêncio para defender que os sociais-democratas não podem viabilizar orçamentos do PS. "É totalmente errado o PSD admitir viabilizar o Orçamento. PSD satélite do PS? Não. O interesse nacional exige uma oposição firme hoje para ter uma alternativa forte amanhã", declarou ao SOL, o também antigo presidente do grupo parlamentar do PSD.
A resposta chegou depois do vice-presidente do partido, David Justino, ter admitido tal possibilidade à Rádio Observador.
"Se o Governo adotar algumas das nossas medidas, o PSD fica numa posição relativamente complicada. Como é que pode votar contra um conjunto de medidas e um orçamento que ele próprio defendia? Portanto, se o PS conseguir fazer isso, nós só temos de bater palmas. Não estou a dizer em termos de aprovarmos o orçamento ou não, mas não é a mesma coisa que estar invariavelmente a votar contra", declarou Justino ontem pela manhã. A sua posição acabou por merecer comentários de sociais-democratas nas redes sociais. Miguel Morgado, deputado cessante e possível candidato à liderança do PSD, escreveu no Twitter: "Há aqui um problema sério de fraqueza política". Foi esta a reação de Morgado às declarações de Justino. Mas o coordenador do programa eleitoral do PSD não deixou de ripostar contra Miguel Morgado num tom muito duro: "Prefiro a aparente ‘fraqueza’ à burrice!". A guerra em versão Twitter ilustra bem o momento do partido e a primeira grande clivagem no debate interno para as eleições diretas de janeiro: a posição do PSD para as contas públicas de 2020.
Rio gere calendário até ao fim
Esta semana, o PSD reuniu em comissão política para avaliar a derrota eleitoral do partido, dez dias após as legislativas. O encontro de duas horas serviu, sobretudo para a direção de Rui Rio dar um "incentivo" à sua recandidatura à liderança do partido. Porém, o próprio não abriu o jogo, ainda que seja recandidato. Contudo, o presidente do PSD vai cumprir calendário, não se demite e haverá um conselho nacional até ao final da primeira semana de novembro, em Bragança. O local escolhido irritou alguns conselheiros, mas nada que mude a estratégia da oposição interna.
Para Luís Montenegro os calendários de Rio não alteram a sua estratégia e mesmo Pinto Luz não esperou pela clarificação do presidente do partido, assumindo ontem a sua candidatura.
Agora, o presidente do PSD pode anunciar a sua decisão de recandidatura nos próximos dias, após a posse do Governo ou, no limite, em cima do conselho nacional. Tudo é possível. Isto numa altura em que várias fontes sociais-democratas asseguram ao SOL que a versão inicial para Rio era a de desistir e não voltar a ser recandidato. No entanto, há já uma recandidatura preparada e Rio pode acumular não só a liderança do partido como a da bancada e já se terá inteirado dos procedimentos.
A nível nacional ainda há mais uma figura em reflexão sobre uma candidatura à liderança do PSD: Moreira da Silva. O antigo ministro do ambiente defende uma refundação do PSD ao nível do programa, do projeto, na forma de "relacionamento com os eleitores e não apenas com os militantes".
Nesta fase já se definem apoios nas estruturas. Em Setúbal, por exemplo, Bruno Vitorino e Miguel Salvado apoiam Pinto Luz. Na distrital houve assembleia-geral na passada terça-feira e uma demissão, a de Paula Soeiro, membro da comissão política e da secção de Setúbal. E pode haver mais. O cabeça-de-lista nas legislativas, Nuno Carvalho, foi desafiado por Vitorino a concorrer na distrital, em eleições previstas para fevereiro. Rui Rocha, de Leiria, e a deputada cessante Paula Teixeira da Cruz estão, por seu turno, com Montenegro. De realçar que Rui Rocha foi apoiante de Rio há dois anos. Agora muda de campo. A contagem de espingardas vai prosseguir até janeiro, mês das eleições diretas.
O PSD/Madeira não fecha a porta a entendimentos com António Costa e abre mais uma possibilidade ao Governo Socialista. António Costa quer aprovar os orçamentos com a esquerda, mas esse não é o único cenário em aberto. O PS elegeu 108 deputados e com a ajuda dos três deputados do PSD/Madeira, os quatro deputados do PAN e o deputado do Livre pode dispensar os partidos da geringonça. Miguel Albuquerque já disse que os sociais-democratas estão disponíveis para "plataformas de entendimento relativamente aos assuntos pendentes". Guilherme Silva, ex-deputado do PSD/Madeira, considera que não se pode descartar a hipótese de os deputados da Madeira entrarem nas negociações.