O PCP teceu duras críticas às escolhas de António Costa para formar Governo, tanto pelo número de governantes – será o maior executivo da democracia – como pela transferência das Florestas para o Ministério do Ambiente.
Um dia depois de o primeiro-ministro indigitado ter dado a conhecer todo o elenco de 70 governantes, o secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa, foi duro e disse ter “muitas dúvidas” de que a quantidade signifique qualidade. “Nem sempre a quantidade significa qualidade, mas são as práticas concretas, os posicionamentos do Governo, em relação às políticas a realizar, que vão ser o teste”, avisou ontem o líder do PCP. Além disso, Jerónimo de Sousa lembrou que “ser muitos ou ser poucos não significa que isso determine a evolução do Governo” e que os 70 governantes é um número que “nos tempos que correm, oxalá, significasse qualidade” mas “pessoalmente tenho muitas dúvidas”, rematou o secretário-geral do PCP.
Uma opinião partilhada pelo antigo deputado comunista Miguel Tiago que escreveu no Facebook: “70 membros do governo. Se fosse para servir o povo, não via mal. Mas conhecendo a peça, diria que foi mais para se servirem do povo. Parece que em vez de procurarem pessoas para os cargos, procuraram cargos para as pessoas”.
Já o Bloco de Esquerda diz que “o que vai definir o Governo são as políticas” sublinhando que “há um continuidade” e que “resta saber é para fazer o quê”, avisou a coordenadora bloquista Catarina Martins.
“Erro histórico” A saída da pasta das Florestas do Ministério da Agricultura para a tutela do Ambiente foi uma das alterações da orgânica do próximo Governo.
Uma alteração que desagradou ao PCP que considera ser um “retrocesso e erro histórico”. Os dirigentes comunistas salientam que António Costa espalhou a agricultura, as florestas e o desenvolvimento rural “por três ministérios distintos” acabando por “desmantelar” a antiga tutela de Luís Capoulas Santos. Além disso, a comissão nacional de Agricultura do PCP sublinha que o PS não incluiu “no seu programa eleitoral qualquer referência à agricultura familiar e ao seu estatuto aprovado” o que, em seu entender, traduz que na próxima legislatura “o Ministério da Agricultura servirá apenas de intermediário do grande agronegócio” sobretudo “na exportação e na distribuição de subsídios”.
Outra das alterações do próximo Governo foi a criação do Ministério da Modernização do Estado e da Administração Pública, que vai tutelar o Simplex e a pasta da Função Pública. O novo ministério vai ser gerido por Alexandra Leitão, que foi secretária de Estado Adjunta da Educação. O Bloco de Esquerda critica a escolha de António Costa e recorda que quando a governante “estava na Educação não foi capaz de negociar com os professores as suas carreiras”. Agora, avisa Catarina Martins, “espero que essa incapacidade não se venha a traduzir numa incapacidade de diálogo com as várias áreas de administração e, pelo contrário, se queira agora dialogar com as várias profissões”. Ana Petronilho