Saias, cadeiras e ação! O folclore do Parlamento

Havia para todos os gostos: a primeira deputada negra, como única representante de um partido; o seu assessor ‘escocês’ que decidiu ir de saia; a entrada aguardada de André Ventura, que fez o seu número perfeito: foi o último a chegar.

O folclore da primeira sessão legislativa foi um verdadeiro festival e fiquei sem saber, como diz o outro, se estava a assistir a um circo ou a um teatro. Certo é que as televisões acharam que dava audiências, pois não me recordo de ver tantos diretos dos canais televisivos de informação sobre a abertura do Parlamento. E havia para todos os gostos: a primeira deputada negra, como única representante de um partido; o seu assessor ‘escocês’ que decidiu ir de saia; a entrada aguardada de André Ventura, que fez o seu número perfeito: foi o último a chegar, todos os olhares ficaram virados para si, e depois fez a rábula da cadeira, dando azo a que uma deputada do CDS fizesse uma coreografia que se tornou viral. O regresso de Rui Rio também despertava curiosidade, assim como os novatos. Verdade seja dita que toda a comunicação social estava à espera das mesmas coisas e houve vários atropelos nos corredores da AR.

Nunca o Parlamento foi tão apetecível para a comunicação social, pois dali vão sair quase todos os dias, ou pelo menos semanas, verdadeiras pérolas. Se muitos acreditam que Ventura irá ter as intervenções mais polémicas, não penso que a agitação seja exclusiva do líder do Chega. Joacine Moreira já explicou que vai ser muito interveniente e que acha que vai mudar a Assembleia da República, até porque quer manter as suas rotinas de ir buscar a filha à escola. Calculamos, pois, que os debates e os temas mais quentes terão de ir para intervalo para a deputada do Livre poder ir buscar a criança. Se tal não for possível, disse Joacine, é porque «o ambiente e o ritmo da Assembleia da República continuam a ser orientados para a masculinidade»! Mas quem é que lhe disse que não há pais que vão buscar os filhos à escola? Tudo muito estranho.

Quem me conhece, até pelo que lê, sabe perfeitamente que me estou a borrifar para determinados costumes. Sigo a máxima de que cada um deve fazer o que quer desde que não interfira na liberdade dos outros. Por isso, é-me indiferente que o seu assessor vá de saias, calções ou calças, mas parece-me um pouco despropositado para o local em questão: a Assembleia da República. Claro que daqui a uns tempos já ninguém irá falar no assunto, mas não sei se há algum Parlamento no mundo onde a indumentária seja tão livre…

Outro dado curioso foi dado por um site gay que enumerou os deputados e governantes que assumiram a sua homossexualidade. Se não fosse um site gay não sei o que se diria… Até porque aqueles que o são e não querem assumi-lo estão no seu direito. Parece-me que há uma excitação exacerbada sobre a homossexualidade. Cada um que seja o quer quiser, mas que não obrigue os outros a serem o mesmo. Dá a ideia que estamos a assistir ao reverso do marialva e do camionista, sem querer ser pejorativo para quem quer que seja, que mandavam bocas e faziam gestos obscenos sempre que passava uma miúda engraçada. Hoje sempre que alguém assume até parece que se mandam foguetes. Em pleno século XXI, numa grande cidade, é preciso este alarido? Se é normal, qual a razão então de tanto histerismo?

Penso que quem gostou deste espetáculo todo foi António Costa, que não teve que explicar as nomeações de João Galamba, Nuno Artur Silva, dos três juízes e do clube dos poetas políticos amigos. Também não me lembro de algum político ter tanta sorte alheia.

vitor.rainho@sol.pt