Qual foi o momento mais hilariante que viveu enquanto assessor do grupo parlamentar?
Não sei… É uma experiência no seu todo tão gratificante. Passados estes anos, mantém-se uma coisa que eu e a Anabela Neves, que é presidente da associação dos jornalistas parlamentares, ajudámos a criar: no Natal, fazem-se os almoços entre os assessores e os jornalistas. E continuam a convidar-me, pá. Vivi com muita pena esta passagem da vida do Zeca [Mendonça, histórico assessor do PSD falecido este ano].
Nunca se chatearam?
Éramos muito amigos. A Visão fez uma vez uma reportagem connosco, tirámos uma fotografia de costas, e o título era: ‘E eles duram, duram, duram’. Quando houve a Revisão Constitucional, do Marcelo e do Guterres, fizemos uma convocatória aos jornalistas para a primeira e única conferência de imprensa e assinámo-la os dois. Eu brinquei e até disse ao Zeca: «Nós é que vamos fazer a Revisão primeiro». Conseguimos sempre ter uma boa relação.
Quem foi o grande animal político com quem trabalhou?
Animal político? Bom, isso era entrar… Houve de facto uma geração que hoje em dia não existe. Há um défice qualquer, não sei se as condições são outras, mas não vejo líderes carismáticos. Hoje não vejo, talvez porque alguns assuntos já encontraram solução, nem o carisma nem a dedicação à causa pública, como vi na altura com um António Guterres, um Jaime Gama. Se calhar esta coisa da causa pública está em crise em diversos níveis, e por tabela também apanhará a classe política, não sei. O António Costa, honra lhe seja feita, teve o mérito de conseguir esta união – e não usarei nunca aquele termo que por aí usam. Agora de que zona ou de que partido surgirão novos valores, não sei: no Bloco há a Mortágua, há malta que se percebe que há ali qualquer coisa que mexe com eles.
E qual foi grande momento de crise pelo qual passou no Parlamento?
Acho que a coisa mais difícil foi, de facto, a minha relação com António Costa. As coisas nem sempre correram muito bem, houve ali umas confusões. Disse sempre a cada líder que vinha se queria contar comigo, e também a ele o disse, e ele disse que sim. Mas depois entraram umas pessoas, houve umas confusões de tarefas, foi uma fase difícil e em que pensei desistir, senti-me às vezes desautorizado. As coisas já se recompuseram.
Como é hoje em dia a sua relação com a vida política?
Uma das últimas iniciativas em que me envolvi foi convidar todos os líderes políticos, desde o Costa ao Rui Rio, para um almoço na Associação 25 de Abril, um almoço antes de se entrar naquele frenesim eleitoral, em que eles pudessem fazer um balanço, quais eram as suas perspetivas. Quero que a Associação continue, em nome do 25 de Abril. Sinto que toda a malta que ali vai tem respeito, porque está na casa de Abril, com alguns dos protagonistas. Tenho uma honra muito grande em que estes amigos confiem em mim para fazermos da Associação um lugar de debate, político mas não só. Do ponto de vista da cidadania esta é a minha preocupação – não quero ficar em casa a curtir o AVC. Os médicos dizem que tenho muita sorte em estar vivo, e por isso quero continuar a usar essa sorte. É o meu contributo.
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