A palavra quota ganhou outra dimensão no PSD. O seu pagamento tornou-se um «calvário», segundo alguns militantes, uma solução pela transparência, de acordo com dirigentes e levou Rui Rio, o presidente e recandidato a líder, a defender que não quer a repetição de «vigarices» do passado na hora de pagar para se poder votar e eleger um novo presidente social-democrata. A disputa será entre o atual líder, Rui Rio, o antigo líder parlamentar, Luís Montenegro, e o vice-presidente da câmara de Cascais, Miguel Pinto Luz.
Os rostos da corrida eleitoral no dia 11 de janeiro de 2020 serão estes, mas vamos à forma de lá chegar. A expressão "vigarices" usada por Rio, irritou vários militantes, sobretudo apoiantes de Luís Montenegro, um dos seus adversários e o tema foi levado ontem a Conselho Nacional do partido, em Bragança. "As vigarices" a que Rio se referia dizem respeito a velhas histórias no PSD de pagamentos de quotas em massas no próprio dia por poucas pessoas, registos de vários militantes na mesma morada, entre outras habilidades para garantir um caderno eleitoral com votantes suficientes para um dos lados.
"Se o Dr. Rui Rui disse que houve vigarices há dois anos, eu quero saber quais foram e quem foram os vigaristas. Mais, porque é que levou tanto tempo para tomar decisões?", declarou ao SOL Pedro Alves, presidente da distrital de Viseu, e futuro diretor de campanha de Luís Montenegro.
E a ordem é mesmo essa: explorar as dificuldades de um sistema, que perante o lema da transparência, esvazia os cadernos eleitorais pela burocracia, e lembrar que o próprio Rio foi eleito na versão que tanto critica. Seja como for, os códigos para pagar quotas têm um prazo: 90 dias e quem quiser votar para eleger um novo líder tem de as pagar até 22 de dezembro, com comprovativos prévios de morada e telemóvel, caso os ficheiros de militante estejam incompletos. Se não conseguirem provar os dados incompletos na ficha (telemóvel desatualizado, morada, etc) o código não é criado, logo não conseguirão pagar a quota.
Ontem, no Conselho Nacional, os apoiantes de Montenegro avançaram com outra solução para simplificar as regras e abrir a porta a mais potenciais votantes: enviar uma carta a todos os militantes com quotas em atraso de 24, 12 ou 6 euros e os respetivos códigos aleatórios. Isto para evitar o que o autarca de Espinho, Pinto Moreira, explicou (e sintetizou) no Facebook que o [PSD] «agora enfrenta mais burocracia nas quotizações do que a abrir uma conta bancária».
Do lado de Pinto Luz, a guerra faz-se, oficialmente, mais pelas ideias. Telmo Faria, conselheiro e apoiante do autarca, disse ao SOL que «quotas e regulamentos não é propriamente a nossa praia». Isto apesar de desejar que os militantes "não deixem de pagar a quota pelo cansaço" criado pela burocracia.
Burocrático sim, mas não há outra forma. É com este argumento que, do lado da direção, não se vê grande margem para alterações. Mas há outros problemas para afinar a máquina eleitoral. A necessidade de uma comissão eleitoral do congresso que permita aos adversários de Rio estar em pé de igual. Segundo o regulamento proposto pela direção, a comissão será apenas consultiva e prevê o secretário-geral, ou alguém que o substitua, e um representante de cada candidatura.
Normas e quotas à parte, os candidatos e adversários de Rio percorrem o país, ligam a líderes concelhios, reúnem com associações e até parceiros sociais. Amanhã, Luís Montenegro apresenta formalmente a sua candidatura e espera-se sala cheia e algumas surpresas.