PIB abranda mas não põe Centeno em causa

O crescimento do PIB registou um travão no 3.º trimestre, mas analista contactado pelo SOL aponta para abrandamento geral da economia e para desaceleração das exportações face às importações.

O produto interno bruto (PIB) cresceu 1,9% em termos homólogos e 0,3% em cadeia no terceiro trimestre, de acordo com as primeiras estimativas publicadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). De acordo com o Ministério das Finanças, «a economia portuguesa cresceu pelo 22.º trimestre consecutivo, mantendo, na comparação homóloga, a mesma dinâmica de crescimento registada no trimestre anterior; e ultrapassando uma vez mais o crescimento da área do euro e da União Europeia, respetivamente 1,1% e 1,4%», revelou em comunicado.

 Segundo o Ministério de Mário Centeno, o crescimento do PIB está a ser influenciado pelo incremento do emprego e pela redução do desemprego. E dá números: no terceiro trimestre foram criados mais 45 mil empregos (+0,9%) por comparação com o terceiro trimestre de 2018, enquanto o número de desempregados diminuiu em cerca de 29,3 mil em igual período, correspondente a uma redução da taxa de desemprego de 0,6 pontos percentuais para 6,1%, o menor valor desde 2003.

 «Portugal reforça assim a trajetória de convergência face à Europa que perdura já há mais de dois anos e manifesta resiliência relativamente à degradação do ambiente macroeconómico externo que tem marcado os trimestres mais recentes», refere o mesmo documento. E para o Ministério das Finanças não há dúvidas: «A recuperação do investimento ao longo dos últimos anos, a estabilização do setor financeiro, o reequilíbrio das contas externas e os progressos alcançados na consolidação estrutural das contas públicas são pilares fundamentais para a atual dinâmica da economia portuguesa e bases sólidas para a sua evolução futura».

Segundo o INE, a procura interna registou um contributo positivo para a variação homóloga do PIB semelhante ao observado no 2.º trimestre, verificando-se uma aceleração do consumo privado, enquanto o investimento registou um crescimento menos intenso. Já o contributo da procura externa líquida manteve-se negativo no 3.º trimestre, observando-se uma aceleração das importações e das exportações de bens e serviços.  

Um comportamento que não surpreende Nuno Caetano, analista da corretora Infinox. «Era expectável que a economia nacional crescesse menos do que nos dois primeiros trimestres do ano, como se veio a verificar. Tal facto deve-se ao abrandamento geral da economia, assim como a desaceleração das exportações face às importações», refere ao SOL. E admite que até ao final do ano não se esperam aumentos relativos ao PIB: «Há uma elevada incerteza das questões relacionadas com o comércio internacional, que começam a ser evidenciadas nos números apresentados». 
Também para André Pires, analista da XTB, este crescimento vem em linha do crescimento já registrado no trimestre anterior. «Este crescimento está a ser sustentado, em especial, pelo consumo privado, já que o investimento não foi tão forte», refere ao SOL. 

Feitas as contas, seria necessário que a economia crescesse 0,3% entre julho e setembro, face aos três meses anteriores, e depois avançasse 0,1% nos últimos três meses do ano para que fosse alcançada a meta de crescimento do Governo, de 1,9% do PIB, no conjunto do ano. Isto significa que, na segunda metade do ano, a economia portuguesa pode acelerar menos de metade do registado nos primeiros seis meses para cumprir a previsão de Mário Centeno. 
Uma expectativa que, segundo o analista contactado pelo SOL, é possível cumprir: «É possível que o Governo cumpra as metas definidas em termos de crescimento, porque já foram praticamente cumpridas nestes três primeiros trimestres. No entanto, há que ressalvar o abrandamento do PIB em vários países da União Europeia, assim como a desaceleração noutros dados económicos, como a da criação de emprego que também tem vindo a abrandar».