Sempre que há uma disputa interna pela liderança do PSD contam-se espingardas nas distritais, o aparelho do partido, mas também os apoios de alguns militantes mais destacados, conhecidos por ‘barões’ ou ‘senadores’. A disputa pelo reforço das trincheiras já começou há semanas e sucedem-se declarações a favor de um, de outro ou ainda daqueloutro candidato. O antigo líder parlamentar Luís Montenegro recebeu recentemente o apoio de Rui Machete, antigo líder do partido e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros no Governo de Passos Coelho.
Machete esteve na apresentação formal da candidatura de Luís Montenegro e explicou ao SOL porquê: o atual líder do partido não apresentou uma solução que o distinguisse como alternativa de poder. «Faltou uma marca própria», explicou o também ex-presidente da mesa do conselho nacional do PSD.
Afastado da vida interna partidária, Rui Machete tem optado por não tecer muitos comentários à estratégia do partido, mas considerou que «os resultados não lhe pareceram satisfatórios» no balanço de dois anos de mandato de Rui Rio. Isto apesar de, na parte final, ter melhorado (e ‘muito’). Mas o problema maior resulta na falta de um programa próprio e alternativo de Governo. «Um líder do principal partido da oposição, que é verdadeiramente o partido importante da alternativa, deve ter um programa de Governo que seja próprio, alternativo ao do programa de quem forma Governo».
Ou seja, o presidente do PSD e o partido devem ter « propostas próprias, para além das críticas a propostas alheias, que seriam as suas propostas se estivessem no Governo», explicou Rui Machete.
Paulo Rangel neutral
Na contenda para a liderança do PSD, Rui Rio, presidente e recandidato, tem recebido, por seu turno, apoios de distritais (a da Guarda foi a mais recente) e de deputados que foram escolhas suas para as legislativas. Esta semana esteve com algumas dezenas num jantar organizado pelo deputado e seu vogal Maló de Abreu. As fotos do repasto foram, aliás, devidamente colocadas no site de candidatura ruirioportugalaocentro. Um dos nomes que apareceu ao lado de Rio foi o de Filipa Roseta, cabeça de lista por Lisboa, tal como o de Hugo Carvalho, cabeça de lista pelo Porto.
Uma das incógnitas, no que toca a apoios de militantes destacados, é Paulo Rangel. O eurodeputado ainda não deu nenhum sinal e pode seguir a estratégia de há dois anos: não apoiou ninguém na corrida à sucessão de Passos Coelho. Contudo, esta semana terá o Congresso do PPE, do qual poderá sair vice, e Rui Rio lá estará como presidente do PSD. Pelo menos a imagem dos dois juntos ficará registada.
Na campanha, Rui Rio terá iniciativas sobretudo ao fim de semana (hoje estará em Paços de Ferreira e amanhã em Santa Maria da Feira), tendo como palco principal o Parlamento, onde assume também o papel de líder parlamentar.
A estrutura de campanha ainda não está fechada, mas, segundo apurou o SOL, Salvador Malheiro, líder da distrital de Aveiro e vice de Rui Rio, voltará a ser diretor de campanha, tal como há dois anos, contra Santana Lopes.
Pinto Luz prepara moção
O candidato Miguel Pinto Luz quis, por sua vez, dar um sinal de que está em vantagem pelo menos nas assinaturas. E entregou as primeiras 350 das 1500 necessárias para formalizar a corrida na semana passada.
Na segunda-feira, fará a apresentação formal de candidatura e explicará a moção que leva a congresso. Na lista de apoios, contabiliza nomes como Miguel Relvas, Carlos Carreiras ou José Eduardo Martins, mas também Rui Abreu, ex-chefe de gabinete de Miguel Albuquerque na Madeira, e Bruno Vitorino, do distrito de Setúbal.
Esta semana, esteve nos Açores e percorreu vários pontos do país, tal como Luís Montenegro (que ontem esteve em Loures e Almada).
Neste momento, estão três candidaturas confirmadas: Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz. Falta saber se Miguel Morgado, ex-deputado, garante as 1500 assinaturas para se apresentar na corrida. Está a recolhê-las há mais de uma semana, desde o conselho nacional. E tem até 30 de dezembro para poder concorrer nas diretas de 11 de janeiro de 2020.
As mensagens da semana traduziram-se no debate parlamentar com o primeiro-ministro e no sonho de maioria absoluta do PSD de Luís Montenegro, assumido numa entrevista ao Público e à Rádio Renascença.
Dos chumbos às bengalas
Já Rui Rio tentou marcar o debate quinzenal com António Costa ao exigir saber o que pretende o Governo com o plano de não retenção de alunos, aludindo a passagens administrativas para quem tem até 14 anos. O embate correu bem, pelo menos na ótica de alguns deputados.
Luís Montenegro, por seu turno, voltou ontem a lembrar que o papel do PSD não é o de ser «a muleta nem a bengala do PS. A muleta do PS é o PC P, a bengala é o BE ou vice-versa». A frase, citada pela Lusa, foi proferida em Loures para lembrar o papel de escrutínio do PSD.
A próxima etapa será o Orçamento do Estado, que já tem data marcada para a entrega da proposta (16 de dezembro) e cada candidato a líder tentará marcar pontos neste dossiê. Se Rio abrir a porta a alguma proposta do Governo, terá a campanha do PSD dominada pela cedência ao PS. Se não o fizer (e votar contra), pelo menos um dos adversários, Luís Montenegro, terá a narrativa mais condicionada, porque sempre defendeu o voto contra.
Certo é que os candidatos já têm propostas televisivas para duelos no início de janeiro, mais próximo das eleições internas. Se não houver polémicas com agendas, os espaços de debate na TV podem ser um sinal importante, sobretudo numa altura em que ninguém vaticina vencedores e ganha força a ideia da segunda volta, que Rui Rio tentará evitar a todo o custo.
Para já, nenhuma das candidaturas tem números sobre orçamento de campanha.
Menos de 18 mil podem votar
Lisboa e Porto lideram lista de militantes com quotas em dia. Para já, na Madeira só 16 pessoas saldaram as contas.
O PSD criou um sistema onde é possível verificar quantos militantes já pagaram quotas para poderem exercer o direito de voto nas eleições diretas de 11 de janeiro. Mas os números não são nada animadores: até sexta-feira, só 17.774 pessoas tinham as quotas em dia num universo de 105.991 militantes – ou seja, abaixo dos 20%.
Lisboa e Porto são as maiores distritais e onde também há um maior número de quotas pagas. No caso de Lisboa (3.689) os números explicam-se por uma eleição paralela, já concluída: a da presidência da distrital, ganha por Ângelo Pereira, apoiante do candidato Miguel Pinto Luz. A estrutura está conotada com o candidato a líder e vice-presidente da Câmara de Cascais, mas no distrito o presidente do PSD, Rui Rio, tem alguns apoios. Tal como Luís Montenegro, antigo líder parlamentar.
Em tese, a distrital do Porto não vai apoiar nenhum dos candidatos à liderança, mas Rui Rio terá alguma implantação, mesmo que a formação das listas às legislativas tenham deixado um lastro de críticas internas. Naquele distrito, o PSD já tem um caderno eleitoral de 3.099 militantes com as contas em dia, num total de 16.291.
Em Setúbal, onde a profusão de apoios pode ser maior, dos 1.714 militantes ativos há 619 que já regularizaram a sua situação. De realçar que o líder da distrital, Bruno Vitorino, estará alinhado com Pinto Luz, tal como alguns dirigentes concelhios. Em Aveiro, onde o líder da distrital é Salvador Malheiro, vice-presidente do PSD e coordenador-geral da campanha de Rio há dois anos, as contas estão muito aquém: só 1.499 dos 8.850 militantes ativos pagaram as quotas. E Braga não está melhor. No distrito onde há grande implantação de apoiantes de Luís Montenegro, mas também de Rui Rio (a começar no líder distrital), 1.590 militantes pagaram a quota num universo de 11.449. Na Madeira, só 16 pessoas pagaram a quota e nos Açores 20. Fora da Europa apenas 1. Os cadernos fecham no dia 22 de dezembro.