Livre. Um partido “perplexo” com tantas falhas de comunicação

Aniversário do Livre ficou marcado por acusações entre Joacine Katar Moreira e a direção do partido.

Dos telefones desligados aos caminhos solitários. Nunca uma assembleia geral do Livre foi tão antecipada. A troca de acusações entre Joacine Katar Moreira e o resto do partido aqueceu o fim de semana e o sexto aniversário do partido ficou manchado por insinuações de parte a parte.

Em causa está o voto de abstenção da deputada única do Livre em relação à proposta de “condenação da nova agressão israelita a Gaza e da declaração da Administração Trump sobre os colonatos israelitas”, apresentada pelo PCP. Após a votação, a direção do partido emitiu um comunicado, no qual se mostrava “preocupado” com o sentido de voto de Joacine, pois não refletia a posição oficial do partido sobre o problema palestiniano. Horas depois, a deputada explicou que a “abstenção não se deveu a uma falta de consciência ou descaso desta grave situação, mas à dificuldade de comunicação” com a direção do Livre.

Troca de galhardetes E assim começou a troca de acusações. A direção do partido assegurou que nunca foi pedido pelo gabinete de Joacine Katar Moreira qualquer apoio específico no voto em causa. “A dificuldade de comunicação passa também por ela, para o gabinete dela uma vez que nunca se dirigiu aos restantes membros da direção a pedir uma ajuda naquele voto específico. Foi-nos enviado o guião de votações, como nos é enviado todas as semanas, mas na semana passada nós também não nos pronunciamos sobre todas as votações e no entanto não houve nenhuma situação destas de haver uma falha de comunicação”, disse à Lusa Pedro Nuno Rodrigues, da direção do Livre.

Em declarações ao Observador, Joacine Katar Moreira disse mesmo que o afastamento do partido começou “mesmo antes da campanha eleitoral”. “Fui eu que ganhei as eleições, sozinha, e a direção quer ensinar-me a ser política”, afirmou.

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 A deputada aproveitou ainda para deixar alguns recados sobre a noite eleitoral: Joacine disse ter ficado incomodada com “alguns membros da direção” do partido, incluindo Rui Tavares, que festejaram a atribuição de subvenção partidária sem esperarem para saber se conseguiam eleger algum deputado.

“É aqui onde hei-de estar” Antes de todos estes problemas, o Livre já tinha agendado para hoje uma assembleia. Uma das propostas da Ordem de Trabalhos era o “balanço da atividade parlamentar”, no qual estava incluída uma “audição da deputada do Livre, Joacine Katar Moreira, sobre o sentido de voto do Livre” em relação a diferentes moções apresentadas, a “discussão por uma solução de recalibração da posição do Livre sobre estes assuntos”, as “prioridades do Livre para apresentação na Assembleia da República” e as “negociações do OE 2020 – preparação da análise do Livre ao OE”, lê-se no site do partido.

À entrada da assembleia, Joacine Katar Moreira garantiu aos jornalistas que é “absolutamente impossível” desvincular-se do partido no seguimento desta polémica. “É aqui onde eu hei-de estar, é aqui onde eu estou e aqui onde irei obviamente cumprir absolutamente o que me foi mandatado”, afirmou a deputada, deixando claro que irá “cumprir absolutamente” o mandato.

Voltar ao trilho Rui Tavares também falou aos jornalistas, admitindo estar “perplexo” com tudo o que se está a passar no partido: “Quero deixar uma mensagem a todos aqueles que votaram no Livre, seguem a política portuguesa, a todos os nossos concidadãos: é a de que sei que muitos estão perplexos e quero que tenham consciência de que nós também estamos”.

O fundador do Livre diz que os cidadãos “habituaram-se a ver um partido sério, empenhado nos verdadeiros temas, empenhado em falar daquilo que importa aos portugueses e aos europeus e àquilo que importa. Portanto, o que as pessoas querem ver é o Livre voltar a essa trilha e certamente quero que saibam, que tenham consciência de que nós sabemos isso, que é isso nós queremos desde que fundamos esse partido e é isso que vamos fazer”, afirmou.
Questionado sobre se o partido irá manter a confiança política em Joacine, Rui Tavares disse que estava a decorrer uma assembleia do partido que “são os membros da assembleia” que hão de tomar as decisões necessárias, respeitando “a democracia interna do partido”.