A exploração do lítio e os contratos de concessão em Portugal são um assunto com pano para mangas. Há quem seja a favor mas há quem esteja contra a forma como o ‘petróleo branco’ será explorado e faça questão de o mostrar. O mais recente exemplo disso é Victor Pereira, padre de Boticas residente em Montalegre que não poupa nas críticas nem se priva de chamar arrogante ao secretário de Estado João Galamba nem de dar uma ‘alfinetada’ ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa.
O sacerdote, que vive em Montalegre, depois de ver o programa O Último Apaga a Luz da RTP3, expôs a sua opinião, de forma irónica, nas redes sociais: "Esta ideia peregrina de que a exploração do lítio vai ser a salvação do interior chega a ser confrangedora. Uma região que se impõe pela sua paisagem natural, pela sua riqueza agrícola, pelo turismo de natureza, pela pureza do seu ar e do seu ambiente, tem o seu futuro assegurado com enormes crateras cavadas nas suas montanhas".
Numa nova publicação, o sacerdote defende que a proposta de exploração de lítio em Barroso é "uma autêntica balela" e que a criação de 500 postos de trabalho é "uma falácia". Ainda assim, diz que, a ser verdade, pedirá desculpa.
Victor Pereira faz ainda um pedido aos governantes portugueses para que expliquem estes assuntos à população. "Constituam comissões de esclarecimento e tenham em conta as reais preocupações das pessoas. Não escondam os riscos e os grandes impactos negativos. Ninguém está contra o lítio, mas à forma como se pretende explorá-lo e onde se pretende explorá-lo, para não falar da forma como todo o processo tem sido conduzido, que, infelizmente, não tem sido claro e transparente como devia ter sido", escreveu.
‘Lamentável a arrogância do senhor secretário de Estado’
As declarações de Victor Pereira surgem pouco depois de o secretário de Estado do Ambiente e da Energia se ter deslocado a Boticas, onde foi cercado por manifestantes. Também nessa altura, o padre usou as redes sociais para expor a sua opinião: "Às vezes um gesto ou uma atitude valem mais do que muitas palavras: lamentável a arrogância com que o Senhor Secretário de Estado, João Galamba, chegou a Covas do Barroso. Com um sorriso sinistro, a fumar, de vidro aberto, um tanto ou quanto absorto a contemplar as pessoas a protestar", escreveu, questionando ainda onde andaria o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Depois de todo o aparato, o secretário de Estado comentou o sucedido, dizendo que o Governo foi obrigado a dar a concessão em Montalegre à empresa Lusorecursos Portugal Lithium por culpa do Governo anterior, de Passos Coelho. "Qualquer Governo tem sempre que lidar com decisões do Governo anterior", disse João Galamba no programa Prós e Contras da RTP. "Nós fomos obrigados a dar a concessão", reiterou. Isto porque, explicou, segundo o Decreto-lei 88/90, "a empresa detentora da prospeção e pesquisa tem o direito de requerer a exploração". "Este Governo herdou contratos de exploração e pesquisa que vinham de trás", disse ainda.
Recorde-se que em Montalegre, várias pessoas e algumas associações são contra a exploração de uma mina de lítio a céu aberto. A Luso Recursos assinou um contrato com o Estado para explorar a Mina do Romano situada em Sepeda, anunciou um plano de negócios de 500 milhões de euros e a criação de cerca de 500 postos de trabalho e a implementação de uma unidade industrial mas os populares não parecem satisfeitos.
Entretanto, os grupos parlamentares PSD e PAN pediram uma audição urgente de João Galamba na Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território, com o objetivo de analisar o contrato de concessão de exploração de lítio à Lusorecursos.
Fábrica de hidrogénio em Sines
À parte o lítio, João Galamba esteve em Bruxelas reunido com o enviado especial do Governo holandês para o hidrogénio, Noé Van Hulst, numa reunião em que participou também o diretor executivo da Fuel Cell Hydrogen Joint Undertaking (FCHJU), Bart Biebuyck. Segundo o próprio secretário de Estado avançou na sua página de Facebook, o objetivo do encontro foi discutir os detalhes da preparação de uma candidatura conjunta sobre hidrogénio verde à escala industrial em Sines enquanto Importante Projeto de Interesse Comum Europeu (IPCEI). "Trata-se de um extraordinário projeto industrial que beneficia Portugal, a Holanda e que será, sem dúvida alguma, um marco importante para a liderança industrial europeia na transição energética", disse. O projeto terá um custo de 600 milhões, feito com a ajuda de fundos europeus e visa criar energia suficiente para uma frota de autocarros conseguir fazer 800 milhões de quilómetros por ano.
No Twitter, Bart Biebuyck explicou que "o reator de eletrólise de 1 Gigawatt de Sines, trabalhando 8 mil horas por ano, usando 1,5 metros cúbicos de água, conseguiria produzir 160 milhões de quilos de hidrogénio".