Os engulhos (à esquerda) em Novembro…

Houve uma espécie de blackout mediático para não incomodar o PCP e o Bloco de Esquerda, os quais, juntamente com o PS e os Verdes, não compareceram a uma reunião convocada pelo presidente da Assembleia da República, poucos dias antes do 25 de Novembro, para discutir as celebrações parlamentares. 

Foi em dezembro de 2015 que se encerrou na Fundação Gulbenkian um ciclo de conferências comemorativo dos 40 anos do 25 de Novembro, uma ‘data maldita’ para a esquerda que saiu derrotada – do PCP à extrema-esquerda -, e que, por isso mesmo, procura silenciá-la, com a cumplicidade envergonhada do PS.

O sociólogo António Barreto e o general Vasco Rocha Vieira foram os principais dinamizadores desse ciclo, transposto, depois, para livro, que será hoje difícil de encontrar nos expositores das livrarias.  

Os media, na generalidade, tiveram um comportamento apático e distante, dedicando curtas linhas ao conjunto de conferências, como se fosse uma iniciativa irrelevante, não obstante as personalidades que aderiram e participaram, entre as quais os próprios promotores.

Houve uma espécie de blackout mediático para não incomodar o PCP e o Bloco de Esquerda, os quais, juntamente com o PS e os Verdes, não compareceram a uma reunião convocada pelo presidente da Assembleia da República, poucos dias antes do 25 de Novembro, para discutir as celebrações parlamentares. 

O certo é que somente as bancadas do PSD e do CDS avançaram, então, com uma proposta de evocação da efeméride, condenada ao ‘chumbo’, o que levou António Barreto a acusar, acutilante, que o «mais impressionante é como tanta gente se acovarda hoje», lamentando aqueles que querem apagar a data e «reescrever a História».

Barreto diria mesmo que «tal como o Estado Novo quis esbater o 5 de Outubro [dia da implantação da República], a democracia quer apagar o 25 de Novembro», a pretexto de ser um tema «fracturante», quando se trata, afinal, de ‘branquear’ quem saiu vencido nos acontecimentos de 1975.

Muita água correu, entretanto, debaixo das pontes, e o facto mais notório foi, precisamente, o aparecimento da ‘geringonça’ no rescaldo das legislativas de 2015, que salvou António Costa in extremis e o PS de continuar a ‘cura de oposição’. 

O Partido Socialista legitimou-se agora vencedor, mas precisa de continuar encostado à esquerda comunista, como suporte parlamentar. 

Este frentismo, onde o PS se acolhe de braço dado com partidos não democratas – para citar Maria Luís Albuquerque – teria de impor, forçosamente, o ‘esquecimento’ do 25 de Novembro, que restituiu aos portugueses a liberdade prometida pelo 25 de Abril, e resgatou o país de uma ditadura comunista em formação.  

A data continua, portanto, a ser mal-amada pela esquerda, não faltando sequer o contributo de Vasco Lourenço, um dos ‘capitães de Abril’ sobreviventes, que veio sustentar a original tese que «as datas que dividem não devem ser comemoradas».

É uma frase equívoca, que, a ser seguida à risca, extinguiria não poucos feriados… Lourenço não reflectiu, antes de assinar o comunicado distribuído através da sua Associação 25 de Abril. E, ainda a propósito  do 25 de Novembro, reafirmou que «o PCP tem a seu favor o facto de Álvaro Cunhal, pressionado por Costa Gomes com o espectro da guerra civil, ter decidido recuar».

Nem um nem outro cá estão para validar essa tese, mas o certo é que o PCP excomunga o 25 de Novembro, como se fosse a peste, enquanto se ‘apropriou’ do 25 de Abril, como se fosse seu. 

Ora, a realidade histórica é que o 25 de Novembro precisa de ser comemorado, porque foi nesse momento que um grupo de militares, entre os quais Ramalho Eanes e Jaime Neves, souberam devolver aos portugueses a liberdade que esteve ameaçada, além de conterem os elementos infiltrados nas Forças Armadas que visavam impor o modelo soviético, confiados no beneplácito da URSS – que terá duvidado, no entanto, das vantagens de uma nova Cuba no extremo da Europa.  

Apesar de ter perdido boa parte da sua influência, o PCP continua solidamente ancorado nos sindicatos, via CGTP, fiel à doutrina que lhe serviu de bandeira e a vários déspotas na Europa. Mas as esquerdas nem querem ouvir falar nisso, como se viu com a resolução aprovada no Parlamento Europeu, comparando e condenando o comunismo e o nazismo.  

A social-democrata Maria Luís Albuquerque – que Rui Rio pôs de ‘castigo’, por misteriosas razões, excluindo-a das listas de deputados – veio dizer, precisamente, que «os extremos são todos maus, de esquerda ou de direita».

A realidade, porém, é que se tem procurado instalar em Portugal a ideia politicamente correcta de que o PCP, o Bloco e outros apêndices radicais são tudo boa gente – e que os ‘maus da fita’ estão à direita, do CDS, à Iniciativa Liberal ou ao Chega. E só não consta o PSD, porque Rio tudo faz para que este se confunda o mais possível com o PS…

Ora Maria Luís enfatizou, certeira, que «nem o PCP nem o BE são partidos democráticos». De facto, o PCP e o BE fingem ser aquilo que na essência não são. Basta consultar os respectivos programas para perceber o logro. 

Convirá afinal assumir, sem adoçar as arestas, que não há ditaduras ‘boas’, porque são de esquerda, ou ditaduras ‘más’, porque são de direita. Há ditaduras. Ponto. 

E o 25 de Novembro merece ser comemorado por isso mesmo – por ter libertado o país de um outro projecto totalitário, pastoreado pelo PCP e satélites à esquerda, com a cumplicidade de algumas franjas das Forças Armadas.  

Convirá, também, recordar nestes tempos confusos em que se procura domesticar a opinião pública (e até já se ouve um ministro do Ambiente debitar disparates contra o ‘consumismo’), que foi o PS, protagonizado corajosamente por Mário Soares, que esteve na ‘linha da frente’ ao opor-se aos avanços ‘revolucionários’ do PCP. 

Uma atitude bem diferente do «comportamento timorato», que hoje caracteriza o partido, como o definiu o socialista Francisco Assis. 

O PCP e o Bloco não mudaram de compêndio. Mas aprenderam a disfarçar o que lhes vai na alma. Com um certo sorriso… 

Nota em rodapé – A esquerda radical tem oferecido ultimamente bastos motivos de galhofa, mesmo para quem queira levar isto a sério. É uma pena se os especialistas em stand up comedy não aproveitarem o verniz que estalou entre a deputada «eleita sozinha» e a direcção do partido Livre, devido a um ‘problema de comunicação’. Uma ironia e um filão. Ou a «profunda divergência» invocada pelo activista do ‘SOS Racismo’ para abandonar o Bloco… Talvez um novo partido, com direcção bicéfala, apadrinhado por Francisco Louçã, salve a situação…