O tempo da ‘Geringonça’ já lá vai e a Esquerda está cada vez mais inflexível: para contar com o seu apoio na aprovação do Orçamento do Estado (OE) para 2020, António Costa vai mesmo ter de fazer cedências.
O Bloco de Esquerda já fez saber que a aposta no Serviço Nacional de Saúde (SNS) é essencial. A duas semanas da entrega do documento, o partido avançou com uma proposta de reforço orçamental de 800 milhões de euros no SNS e 15 medidas para «salvar» o setor, como o alargamento das «unidades assistenciais dos Centros de Saúde», abrir concursos extraordinários para formar especialistas e acabar com taxas moderadoras nos cuidados de saúde primários.
No que diz respeito ao Ministério da Saúde, Catarina Martins tem para com Marta Temido uma «enorme compreensão para a necessidade de implementação destas medidas», mas em relação a Mário Centeno há «compreensão errada sobre os problemas de gestão do SNS. Na parte do Ministério das Finanças tem existido pouca compreensão que o SNS precisa de respostas concretas».
O PCP vai mais longe e apresenta cerca de 70 medidas. E fica o aviso: se o Governo quer o apoio dos comunistas na aprovação do Orçamento do Estado, tem de ter em conta estas condições apresentadas pela sua bancada.
Aumento do investimento em áreas como a saúde, o ensino e as Forças Armadas, aumento extraordinário mínimo de 40 euros nas pensões, valorização dos salários, criação de uma rede de creches gratuitas, eliminação das taxas moderadoras, aumento do salário mínimo nacional para 850 euros e mais verbas para a cultura. Estas são algumas das dezenas de medidas que já foram apresentadas pelos comunistas desde o início do mandato parlamentar.
«Não esgotando com este conjunto de matérias o que o PCP considera que o Orçamento do Estado para 2020 deve conter, a nossa intervenção sobre o Orçamento do Estado para 2020 e a avaliação que dele fizermos, como sempre sucede, resultará do que ele reflita de resposta à solução dos problemas. É a partir dessa apreciação e face ao conteúdo da proposta de Orçamento do Estado que naturalmente decidiremos», afirmou Jerónimo de Sousa durante as jornadas parlamentares do partido.
Mas a aprovação do OE pode não estar nas mãos da Esquerda. Tal como o SOL já tinha avançado em outubro, Costa poderá ter um truque na manga preparado para o caso de a Esquerda bater mesmo o pé: oO PSD/Madeira não fecha a porta a entendimentos com o primeiro-ministro e, matematicamente, com a ajuda dos três deputados sociais-democratas madeirenses, dos quatro do PAN e da deputada do Livre, os 108 deputados socialistas podem dispensar a ajuda de bloquistas e comunistas.