Os três candidatos à liderança do PSD – Rui Rio, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz – defrontaram-se esta semana na RTP num primeiro debate televisivo para as eleições diretas de 11 de janeiro, mas a experiência deixou alguns amargos de boca, ao ponto de o líder e recandidato, Rui Rio, ter reconhecido que não gostou, sobretudo, da primeira parte. O presidente ‘laranja’ referia-se a uma discussão sobre as críticas internas de que foi alvo ao longo do mandato e a forma como as geriu.
No PSD, a análise foi negativa pela imagem que se deu do partido. Certo, para já, é que não está marcado mais nenhum combate televisivo. Há propostas de estações televisivas já feitas, mas na prática, há um impasse, ora por questões de agenda, ora porque cada candidatura aguarda pela resposta dos adversários. Em cima da mesa estão propostas da SIC, TVI e uma da RTP3 (esta última para duelos), apurou o SOL.
A candidatura de Luís Montenegro, por exemplo, assegura que não há nada fechado, mas é preciso dar resposta aos frente-a-frente pedidos.
Rio preferirá debates a três. Entre os seus apoiantes há a ideia de que um frente-a-frente não trará qualquer mais-valia.
Já a candidatura de Miguel Pinto Luz aceitará qualquer versão.
São pormenores de uma campanha, mas que contam para a estratégia de cada candidato. Para Pinto Luz, vice-presidente da Câmara de Cascais, um debate televisivo é útil até para ganhar dimensão (como ganhou) no último confronto, seja a três ou em duelo. A sua candidatura, que foi sempre apontada no ‘aparelho’ do PSD como uma terceira via, pode surpreender a avaliar pelo número de apoios que tem registado. E o caso não é para menos. O candidato até já foi questionado sobre cenários de uma segunda volta no PSD, e assegurou que ficaria neutro caso ficasse de fora.
O efeito da sua candidatura abriu, aliás, espaço a especulações e contas hipotéticas sobre a dispersão dos seus apoiantes entre Rio e Montenegro, num cenário de segunda volta eleitoral. Esta discussão tem sido feita, aliás, há várias semanas por duas razões.
A primeira prende-se com o regimento eleitoral do PSD. Só não há uma segunda volta eleitoral se um dos três candidatos conseguir 50% dos votos mais um. Uma maioria absoluta que é difícil de alcançar sobretudo porque o universo eleitoral poderá ficar aquém do alcançado há dois anos. Neste momento, os cadernos eleitorais registam 24.749 potenciais votantes, muito aquém dos 70 mil de 2017.
A segundo, porque ninguém vaticina uma vitória clara no dia 11 de janeiro, mesmo que Luís Montenegro esteja apostado em resolver o assunto nesse dia. Há quem admita ao SOL que Rui Rio já teve maior vantagem na contenda, mas que foi perdendo gás, sobretudo porque não tem feito a volta ao país, como em 2017. Ora, Rio está apostado no que os seus apoiantes chamam de «voto livre dos militantes» e na ideia de que o partido já o conhece. Afinal de contas, é presidente do PSD.
Acresce que Pinto Luz entrou em distritos onde Rio teria, em teoria, vantagem, como é o caso do Porto. Garantiu o apoio do líder da concelhia da Invicta, Hugo Neto, e do anterior líder distrital, Virgílio Macedo. Isto sem contar que tem a seu lado Marco António Costa, antigo dirigente e homem-forte de Passos Coelho. Resumindo, o autarca em Cascais poderá ser o equilíbrio (ou o desequilíbrio) para qualquer um dos seus adversários.
O debate do desagrado
O primeiro debate televisivo na RTP/RTP3 da passada quarta-feira foi visto por 666 mil telespetadores, mas não deixou saudades no PSD. A discussão tinha 50 minutos, até se falou do país, da relação com o PS, do Orçamento para 2020, da descida da carga fiscal. Porém, Rio abriu o debate (por sorteio) com a guerrilha interna durante o seu mandato. Montenegro e Pinto Luz cercaram-no nas derrotas eleitorais e a tensão instalou-se. Ouviram-se palavras como «hipocrisia», comparações com o passado, evocou-se Cavaco Silva e Francisco Sá Carneiro.
Resultado? A ideia generalizada, entre militantes ouvidos pelo SOL é a de que o PSD não saiu bem na fotografia.
Nas redes sociais, o ex-deputado Carlos Abreu Amorim, apoiante de Montenegro, deu-lhe a vitória, por ser «o único candidato capaz de construir uma alternativa séria e credível ao projeto de poder socialista». E atirou culpas para Rio pela «conversa de ervanária». «Foi um dos momentos mais negativos da história do PSD que pude presenciar», atirou Carlos Abreu Amorim, no Facebook.
O presidente da Câmara de Cascais (e apoiante de Miguel Pinto Luz), Carlos Carreiras, fez a sua análise da discussão ao SOL, tendo visto o debate à posteriori: «Eu tenho uma avaliação negativa sobre o debate. Se na primeira área, a da vitimização, Rui Rio parece o calimero, na segunda parece o João Ratão, mas a Carochinha não quer casar com ele. Ele põe-se permanentemente à janela e António Costa não lhe passa cartão nenhum». Sobre a prestação do candidato que apoia, Carlos Carreiras admitiu que Pinto Luz acabou por se evidenciar, mas a forma como o debate correu também não lhe permitiu explicar todas as suas ideias.
Ângelo ataca Montenegro
Já Ângelo Correia, destacado militante e membro do Conselho de Estratégia Nacional de Rui Rio (e um dos defensores da sua recandidatura à liderança), também não ficou «agradado» com o debate. Porém, preferiu analisar a estratégia e a doutrina em discussão. «Doutrinariamente não vi diferenças. Sob o ponto de vista da orientação estratégica, há uma diferença entre Rui Rio e os outros dois adversários. Rui Rio tenta encontrar uma fórmula que coloque o PSD mais ao centro. Os seus adversários querem colocar o PSD numa lógica mais federadora da Direita portuguesa. Penso que a mais útil a Portugal, nesta fase em que estamos, é a de colocar o PSD mais no centro da vida política». Depois, Ângelo Correia procurou desmontar as críticas a Rio, feitas pelos seus adversários, de que o líder excluiu pessoas no seu consulado. «Está errado», avisou, lembrando que mal foi eleito, Rio fez um acordo com Santana Lopes para o Conselho Nacional. «Nas próprias listas eleitorais [das legislativas] há vários cabeças-de-lista e deputados que não são próximos de Rui Rio. Pelo contrário, são opositores. Um dos quais é o diretor de campanha do dr. Luís Montenegro [Pedro Alves]. Feita a análise interna, Ângelo Correia desferiu ainda um ataque a Luís Montenegro ao evocar Francisco Sá Carneiro. « Pelos vistos, Luís Montenegro não conhece a história política. Quando cita Sá Carneiro no sentido de dizer que Sá Carneiro era totalmente contra qualquer hipótese de o PSD apoiar um Governo de outro partido, mesmo minoritário, Luís Montenegro esqueceu-se de 1977». Para o efeito, Ângelo Correia lembrou a lei de delimitação de setores, a lei Barreto (que colocou um ponto final nas ocupações da reforma agrária), a lei de arrendamento rural e a lei das indemnizações. Estes quatro exemplos «foram negociados ao milímetro entre o PS e PSD». recordou.