Foi mesmo resvés Campo de Ourique. Aliás, se fosse pelas regras antigas estava ganho. Mas faltaram umas décimas a Rui Rio para conquistar a maioria dos votos nas eleições diretas do PSD. Segue-se a segunda volta, uma situação inédita nas eleições para o líder social-democrata, frente a Luís Montenegro, que continua a defender que “foram mais os militantes que quiseram a mudança” no partido.
Isto porque somando os votos de Montenegro (41,26%, ou seja, 12.767 votos) com os de Miguel Pinto Luz (9,3%, o que equivale a 2878 votos), houve mais pessoas a votar nas alternativas do que no atual líder do partido, que obteve 49,44% dos votos expressos (15.031 votos), segundo dados oficiais do Conselho de Jurisdição do PSD. Mas à segunda volta só passam dois e resta saber quem é que os apoiantes de Pinto Luz irão apoiar no próximo sábado, dia 18.
Mas Rui Rio não vê as coisas assim: o atual líder do PSD lembrou que, se não existisse uma segunda volta, teria alcançado uma vitória “expressiva”. “Pelas regras antigas isto estava arrumadíssimo. Mas para mim nada é fácil, já estou habituado”, disse em tom de brincadeira. “É uma vitória expressiva, fiquei perto da maioria absoluta, é um orgulho”, afirmou Rio, pedindo aos militantes “que façam mais um esforço e apareçam no próximo sábado para votar também”.
Sem surpresas, foi no norte que RuiRio conseguiu as principais vitórias, nomeadamente em Vila Real (63,9%), Viana do Castelo (61%), Guarda (59,9%) e, claro, no Porto (59,6%). Já Montenegro conseguiu os melhores resultados em Leiria (58,6%), Lisboa Área Oeste (57,8%), Castelo Branco (57,2%) e Braga (52,9%). Pinto Luz venceu na Área Metropolitana de Lisboa (37,7%) e Setúbal (36,07%), onde a disputa esteve mais renhida. No total do país, RuiRio venceu em 13 estruturas, Montenegro em sete e Pinto Luz em duas.
Apoio de todos ou só de alguns? Apesar da cordialidade e dos elogios de parte a parte, houve espaço nos discursos finais para algumas picardias. Rui Rio, por exemplo, disse que não contava apenas com Miguel Pinto Luz e com os seus apoiantes para a segunda volta: “conto com Miguel Pinto Luz e com o Luís Montenegro e com os seus apoiantes. Conto com todos, não só com aquele que não vai à segunda volta”, afirmou o atual líder do PSD, numa resposta a Montenegro, que tinha dito que, se for eleito, conta com Pinto Luz para enfrentar os desafios políticos e partidários.
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O ex-líder da bancada parlamentar do PSDdeixou até um desafio a Rui Rio: “Quero fazer um convite a Rui Rio: um debate televisivo na próxima semana. É essencial para ajudar os militantes a tomar uma decisão final e não podemos fugir à responsabilidade de debater o futuro do PSD e, sobretudo, o futuro de Portugal”. Até porque, defendeu, esta semana há uma escolha a fazer entre a alternativa ao Governo de António Costa ou a estratégia de “subalternidade” do PS. Rio rejeitou o desafio.
Perder com ‘humildade’ Miguel Pinto Luz disse que entrou na corrida com “expectativas modestas” e assumiu “humildemente” a derrota, mas mostrou-se satisfeito com o resultado obtido e otimista em relação ao futuro. “Marcámos a diferença pelo nosso reformismo, pelo nosso inconformismo permanente. Pelo nosso arrojo, pela nossa agenda, pelas nossas prioridades”, disse o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais.
E reclamou também algum mérito: “Conseguimos com a força das ideias recuperar muitos homens e muitas mulheres que estavam afastadas do PSD”. “Saio absolutamente convicto de que o PSD, esta minha segunda família, é o único instrumento de mudança de que Portugal precisa”, concluiu.
Segundo round O PSD só ficará a conhecer o seu presidente no próximo sábado, dia 18. Esta é a primeira vez que há uma segunda volta nas eleições internas diretas do partido. A nova direção será empossada no congresso de 7,8 e 9 de fevereiro, que se realiza em Viana do Castelo.
As primeiras diretas do partido realizaram-se em 2006, em que Marques Mendes venceu, sem oposição, com 90% dos votos. No ano seguinte, concorreu contra Luís Filipe Menezes e o antigo autarca de Gaia acabou por sair vencedor. Em 2008 decorreram as diretas mais renhidas até hoje: Manuela Ferreira Leite a Pedro Passos Coelho, Pedro Santana Lopes e Patinha Antão disputaram a liderança do partido. A ex-ministra das Finanças venceu e tornou-se a primeira mulher a liderar o PSD.
Em 2010, Passos Coelho venceu pela primeira vez, mas repetiu o feito em 2012, 2014 e 2016. Em 2018, Rui Rio venceu Pedro Santana Lopes pela margem mais curta registada até ali em eleições diretas.