Foi preciso uma maratona de muitas horas, madrugada dentro, para a agremiação fundada por Rui Tavares e demais correligionários – órfãos do Bloco de Esquerda ou de outras paragens radicais – chegarem a uma conclusão óbvia: retirar a confiança política à sua deputada única, tal o desconcerto a que tinham chegado as relações.
Sem voz em S. Bento – e sem o saiote do assessor de Joacine Katar Moreira, que bateu também com a porta – teme-se o pior quanto ao futuro do Livre. Lá diz o provérbio que ‘quem nasce torto…’
A teimosia ‘predestinada’ de Joacine em permanecer em S. Bento, apesar das suas reconhecidas limitações verbais para o trabalho parlamentar, é algo muito mais sério do que andar às turras com um equívoco que é o seu ex-partido, cujo rosto mais visível, ‘mandou às malvas’ o Bloco, nos idos de 2011, em rutura com Francisco Louçã, sem desistir, contudo, das mordomias em Estrasburgo.
Afinal, a perseverante deputada segue, fielmente, os ensinamentos do seu suposto ‘mentor’.
Rui Tavares lembra, à esquerda, o inefável Manuel Monteiro, à direita. Ambos se separaram, com estrondo, dos partidos onde se promoveram – e o segundo até chegou a líder do CDS. E ambos passaram a hostilizar as origens, como se lhes fossem estranhos.
Rui Tavares e Manuel Monteiro empenharam-se, afincadamente, a ‘mimar’ os seus antigos partidos, e, cheios de si, lançaram novas confrarias políticas assim que puderam, de acordo com as suas inabaláveis convicções ideológicas.
Infelizmente, os resultados foram pífios, embora – no caso do Livre – o sucesso transitório, às ‘cavalitas’ de Joacine (como a própria se atribuiu), tenha alimentado o logro durante curto tempo.
Já a dissidência de Monteiro levou-o a fundar, em 2003, o Partido da Nova Democracia, que durou, ‘ligado à máquina’, uma dúzia de anos, até ser declarado extinto pelo Tribunal Constitucional, a requerimento do Ministério Público, por ser relapso a apresentar contas.
Ao longo da sua precária existência, o PND não conseguiu melhor nas consultas eleitorais do que um ou dois autarcas de terceira linha, além de ter revelado um excêntrico na Madeira.
Em comum com Tavares, reconheça-se que Monteiro goza, também, de ‘boa imprensa’, sempre generosa e disponível, sem se perceber porquê.
Os media abusam, por vezes, em dar palco a certos atores, e, só por isso, Tavares e Monteiro farão inveja a Santana Lopes, que anda por aí silencioso, sem atinar ao certo com o rumo da Aliança, que colapsou nas últimas legislativas.
O Livre, ao divorciar-se de Joacine, perdeu o único ‘ativo’ parlamentar – e, com a barafunda instalada nas suas hostes, é improvável que tão cedo tenha outro. E Monteiro andou desesperado a mendigar a reinscrição no CDS, esquecido das barbaridades que disse.
Se Marcelo Rebelo de Sousa, na sua vertente de comentador, se mostrou desiludido com a renovação da direita, a da esquerda também não deverá entusiasmá-lo.
Com estes e outros casos (pouco virtuosos), passou ao lado a reconversão do PAN, supostamente vocacionado para defender as pessoas, os animais e a natureza, mas que exibe já um cariz acentuadamente autoritário, com tiques proibicionistas.
Estranhamente ou não, o PAN, enquanto namora António Costa, juntou-se às causas fraturantes das esquerdas, ao defender a descriminalização da eutanásia, com o argumento – pasme-se! – de ser «um ato de pura bondade», ajudando alguém a antecipar a morte.
Em contrapartida, graças ao PAN, desde 2018 que a lei proíbe o abate de animais abandonados, apesar dos canis municipais ‘rebentarem pelas costuras’, com reflexos crescentes na saúde pública, suscetíveis de acarretar «danos extremamente graves», coimo então advertiu o bastonário da Ordem dos Veterinários.
Nada que incomode André Silva, o líder do PAN, cuja ‘bondade’ se virou agora para o suicídio assistido nos humanos.
As esquerdas nunca desarmam. A lei ‘chumbada’ no Parlamento em 2018, reapareceu em força, trazida pelos mesmos.
A maioria dos médicos é contra, e o antigo bastonário, Gentil Martins, classificou-a mesmo como «um crime contra a vida». Não obstante, foi reposta em cena. Entre as tropelias das esquerdas e as indefinições da direita, os extremismos e os populismos ganham terreno. Que Deus nos livre…
Nota em rodapé: Fernando Medina quer sitiar Lisboa, arvorado em dono da cidade. Forçado a abandonar a disparatada redução de vias na 2.ª Circular, com plantação de árvores a meio, quer agora isolar do trânsito a Baixa-Chiado, para instalar mais umas ciclovias e ornamentos avulsos. Atrasado no arranque da Feira Popular em Carnide, o edil aposta num ‘parque temático’ para turistas na Baixa pombalina. Comes e bebes já não faltam na Rua Augusta. Mas ninguém o trava nesta insensatez?