Um congresso já a pensar nas autárquicas

Rui Rio sai do ciclo eleitoral interno reforçado e sem grandes mexidas na equipa. A próxima etapa são as autárquicas de 2021. Já houve um vice a desafiar os críticos a concorrer.

O presidente do PSD, Rui Rio, arranca este fim de semana para o segundo mandato sem grandes alterações na equipa da comissão permanente e de olhos postos no teste eleitoral das autárquicas de 2021. O líder laranja pretende reconduzir quem é presidente de câmara do partido e alinhar a estratégia para acautelar o reforço eleitoral dos sociais-democratas no terreno: «Liderar onde somos maioritários, colaborar onde tal não acontece», sintetizou Rio na sua moção, onde também assume que quer o partido preparado para governar a partir de 2021, ou seja, finda a presidência de Portugal da União Europeia, com um governo socialista (possivelmente) mais desgastado.
No seu discurso de vitória, Rio pediu seriedade e lealdade a quem saiu derrotado, para exercer o mandato com estabilidade, mas um dos seus vice-presidentes já deixou um recado, em jeito de desafio, que não passou despercebido. «Em vez de continuarem com aquela erosão ao líder eleito, gostava muito mais que se mostrassem disponíveis para os combates autárquicos nas suas terras, desde que o partido sinta que são os melhores candidatos». A frase é de Salvador Malheiro, que também foi diretor de campanha de Rio, e foi proferida no Porto Canal. O recado não tem o selo do presidente ‘laranja’, mas bem pode vir a servir de narrativa para Rui Rio desafiar os críticos internos no próximo grande teste eleitoral, decisivo, segundo a direção, para os sociais-democratas recuperarem terreno e enfrentarem as legislativas (daqui a quatro anos) em melhores condições.
 
Pinto Luz pressionado
Os adversários de Rio nas diretas, Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz vão ao congresso, nenhum integrará os órgãos do PSD, mas esperam-se discursos a marcar terreno para o futuro. 

No caso de Miguel Pinto Luz, o vice-presidente da Câmara de Cascais, está a ser pressionado para se candidatar à Câmara de Lisboa, apurou o SOL, com várias fontes sociais-democratas a admitirem que seria a melhor solução para a capital.

Já Luís Montenegro, o antigo líder parlamentar que perdeu por 2.071 votos, vai ao congresso, ficará os três dias e alinhou o discurso com os seus apoiantes. Hoje tem um almoço com os delegados eleitos e afetos à sua candidatura para afinar a estratégia na reunião-magna.

Sobre o seu futuro, ninguém tem certezas. Há quem admita que os 46,79% de votos obtidos só lhe dão força para voltar à carga daqui a dois anos. E a percentagem obtida permite-lhe ser o representante de uma sensibilidade do PSD, devidamente sedimentada. Contudo, há quem lembre que, até lá, podem surgir outros nomes disponíveis. E muitos militantes ainda sonham com o regresso de Pedro Passos Coelho ( um nome que acabará por ser referido em alguns discursos nos três dias de congresso).

Certo é que a ordem é a de não fazer «a política da terra queimada» e dar todas as condições para que Rio cumpra o mandato. E se algo correr mal ao líder do PSD, só pode queixar-se de si próprio e da sua estratégia. A síntese foi feita ao SOL por um crítico de Rio, que agora se coloca na reserva.

Mexidas sem revolução
O congresso, que servirá, para eleger novos órgãos partidários, não deverá trazer grandes novidades no núcleo duro de Rui Rio, a comissão permanente. Serão feitas pequenas alterações, mas existem dúvidas sobre a permanência de três vice-presidentes: Elina Fraga, Isabel Meireles e José Manuel Bolieiro. 

Elina Fraga, antiga bastonária da Ordem dos Advogados, foi a grande novidade há dois anos, mas a opção de Rui Rio foi muito contestada no partido. Isto porque a advogada foi uma das maiores contestatárias do governo de Passos Coelho. Também Isabel Meireles também pode estar de saída, mas a última palavra será de Rio.

Já José Manuel Bolieiro, líder do PSD/Açores, entrou recentemente para a comissão permanente do PSD, por escolha pessoal do presidente ‘laranja’, substituindo Castro Almeida, num processo que se tornou penoso para o também antigo secretário de Estado. Bolieiro deverá ficar, mas apenas na comissão política (a versão alargada da comissão permanente) e por inerência, dado que preside aos destinos dos sociais-democratas açorianos. A saída estará ligada ao facto de Bolieiro ter de se concentrar, sobretudo, nas eleições regionais dos Açores, que se realizam este ano.
Quanto a entradas, a promoção de André Coelho Lima a vice-presidente (é vogal da comissão política) é uma forte hipótese. O deputado deu provas de lealdade a Rio, foi seu apoiante e pode ser uma aposta para dar mais visibilidade ao distrito de Braga. Também quase certo é a escolha de Joaquim Miranda Sarmento para vice da equipa do líder social-democrata. Recorde-se que foi o responsável pelo quadro macroeconómico do programa eleitoral do PSD.

Listas ao conselho nacional
Neste congresso, as listas ao conselho nacional servirão também para se perceber alinhamentos e o peso dos críticos internos de Rio, que perderam na contenda interna há duas semanas. Se é certo que, tanto Pinto Luz, como Luís Montenegro, se colocarão de fora, os seus apoiantes organizam-se para concorrer ao órgão máximo entre congressos.
No caso de Pinto Luz, por exemplo, o nome de Bruno Vitorino, líder da distrital de Setúbal, é certo para encabeçar uma lista ao conselho nacional. O dirigente foi um dos principais apoiantes do autarca em Cascais e terá, na lista, vários delegados que se empenharam na luta interna por Pinto Luz. Na prática, pode-se dizer que será a lista não oficial do vice-presidente da câmara de Cascais. Neste quadro, Ângelo Pereira, presidente da distrital de Lisboa (indefetível de Pinto Luz) deverá ficar de fora, por opção, uma vez que terá sempre inerência no conselho nacional pelo cargo que ocupa na estrutura de Lisboa.

Por seu turno, a equipa de Luís Montenegro já tem um rosto para encabeçar uma lista ao conselho nacional: Paulo Cunha, presidente da câmara de Famalicão (que chegou a ser apontado como futuro primeiro vice-presidente de Montenegro). O autarca terá alguns rostos apoiantes de Montenegro na equipa que concorre ao órgão máximo entre congressos. Segundo apurou o SOL, a lista procurará respeitar, sobretudo, a representatividade por distrito, escolhendo, amiúde, algumas personalidades para representarem a ‘sensibilidade’ de Montenegro no conselho nacional. De fora ficarão figuras como Hugo Soares, ex-braço-direito de Luís Montenegro e Pedro Alves, o seu diretor de campanha (que poderá participar no conselho nacional como deputado e presidente da distrital de Viseu).
Confirmadas estão também as listas candidatas de Carlos Eduardo Reis, apoiante de Rio, que, em 2018, garantiu 13 conselheiros nacionais. Mas não só. Luís Rodrigues, antigo deputado e líder da distrital de Setúbal, também fará uma lista, tal como André Neves e Joaquim Biancard da Cruz.

Desta vez, Rui Rio terá uma lista oficial da direção, mas sem espaço para uma composição de convergência. Há dois anos, o presidente do PSD fez um acordo tácito com Pedro Santana Lopes, o seu adversário nas diretas, mas o processo não correu como o esperado. Santana abandonou o partido, criou a Aliança, e Rui Rio não quer repetir a experiência. A unidade far-se-á de outra forma.

Paulo Rangel, eurodeputado, é apontado como hipótese para liderar esta lista, apesar de o próprio ter dito ontem, à Rádio Observador, que não está à «procura de um lugar». O seu nome também recolhe apoios no Porto para vir a ser candidato à câmara em 2021, mas Paulo Rangel considerou este dossiê extemporâneo. O eurodeputado foi ainda confrontado sobre o seu futuro político (se ainda pode voltar a ser candidato à liderança do PSD) e respondeu que «não há festa nem festança a que não vá Dona Constança». Mas rematou: «Eu nunca descartei nada» .
Antes já tinha defendido Rui Rio e elogiou a bandeira da descida do IVA na luz. Que marcou o debate sobre a votação do Orçamento do Estado para 2020. Já Pedro Duarte, que ajudou a elaborar a moção de Montenegro, foi muito crítico, na RTP3, das opções de Rui Rio sobre o mesmo tema.

Na lista do conselho nacional de Rio, o nome do antigo ministro Arlindo Cunha também pode ser uma das hipóteses.
Neste congresso serão ainda discutidas treze moções setoriais, entre quais, a aplicação de primárias para a escolha do líder, com a possibilidade de participação de simpatizantes. Esta moção é subscrita por destacados militantes e antigos governantes como Miguel Poiares Maduro e António Leitão Amaro. E será o deputado Duarte Marques a defendê-la em congresso. Já Margarida Balseiro Lopes, líder da JSD, preconiza a «reforma das reformas» na Segurança Social e aponta para o plafonamento das pensões no futuro.