Um e-mail enviado pelo presidente do PSD e líder parlamentar do partido aos seus deputados, durante o dia de ontem, está a deixar alguns deputados em estado de choque. Tudo porque há novas regras de comunicação, centralizadas, em nome da maior visibilidade das propostas do PSD, e da sua atividade. Porém, há uma frase no texto do e-mail que motivou grande apreensão e até a irritação de alguns colegas de partido e de bancada de Rio.
«Os contactos com a comunicação social deverão, por isso, ser sempre efetuados de forma articulada através da assessoria de imprensa», lê-se na missiva, noticiada pela Visão e confirmada pelo SOL. As novas regras deixaram alguns deputados com a certeza de que, agora, não poderão falar diretamente com a imprensa. Primeiro, terão de passar pela equipa de assessoria, centralizada na sede do PSD.
O caso motivou vários contactos entre deputados, e um dos parlamentares ouvidos pelo SOL considerou, numa leitura mais fina do e-mail, que este pode ser mais um momento de tensão, que pode ser lido como ‘uma espécie de lei da rolha’. Ainda assim, outro deputado lembrou que, mesmo que se verifiquem protestos, o presidente do PSD pode vir a público dizer que este é mais um exemplo de leituras enviesadas e de ataque interno.
A justificação do e-mail resulta de um processo de reestruturação interno e de saneamento financeiro da bancada do PSD (o partido perdeu largos milhares de euros de subvenção pública após as legislativas). Assim, pode estar aberto mais um momento de tensão interna, apenas um mês depois da realização de um congresso onde foram feitas promessas de tréguas e apelos à unidade.
De realçar que Rio deverá permanecer mais algumas semanas como líder parlamentar, abrindo apenas a eleição para o cargo durante o mês de março. Sendo quase um dado adquirido que o primeiro vice-presidente da bancada, Adão Silva, será o seu sucessor.
PSD aberto a acordos, mas só até ao fim do ano
Entretanto, Rui Rio reuniu-se esta terça-feira com o Presidente da República durante uma hora e meia, na sequência do congresso do PSD, e voltou a abrir a porta a entendimentos para concretizar as «reformas vitais». Mas só durante este ano. «Durante este ano estamos disponíveis para isso. Passado o ano de 2020, chegamos a 2021, quando não há europeias e legislativas, mas há-de haver umas autárquicas, que são eleições partidárias e as coisas ficam mais condicionadas», afirmou Rio, à saída da reunião.
Rui Rio garante que a estratégia do PSD não mudou, ou seja, continua a estar aberto para se sentar à mesa e discutir as reformas estruturais. «Não é comum os líderes do principal partido da oposição estarem disponíveis para estes entendimentos, ao longo da história não aconteceu muitas vezes, no futuro também não acontecerá. (…) O que é importante é que os portugueses percebam que o PSD, apesar de ser oposição, continua na disposição de fazer o que é do interesse do País e não do seu próprio interesse».
O PSD voltou a apontar para a necessidade de mudanças profundas na área da justiça e no sistema político. Para Rui Rio, essas reformas não podem ser adiadas porque existe «um afastamento enorme dos portugueses em relação aos partidos e à política» e uma «muito menor» credibilidade do sistema judicial.
No dia em que Rui Rio foi recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, Carlos Moedas lançou o livro Vento Suão: Portugal e a Europa. O lançamento da obra acabou por se tornar num acontecimento político ou não estivesse a apresentação a cargo de Passos Coelho. O ex-primeiro-ministro, que nos últimos tempos tem tido várias intervenções, não hesitou em entrar nas questões políticas e um dos principais alvos foi António Costa. Passos lembrou que o atual primeiro-ministro, em 2014, criticou a escolha de Carlos Moedas para comissário europeu, mas depois fez uma «uma avaliação muito positiva» do mandato e até o «chamou para uma bonita cerimónia». Na altura, António Costa acusou o Governo de «escolher para comissário alguém que é o mais ortodoxo dos ortodoxos. Se achavam que o ministro Gaspar era o ortodoxo então esperem para ver o que é o comissário Carlos Moedas. Esse sim é que é o ortodoxo dos ortodoxos». Declarações feitas em 2014, quando o agora líder do PS disputava a liderança contra António José Seguro. Cinco anos depois, quando Moedas deixou o cargo, António Costa considerou que «o país deve-lhe muito», porque Carlos Moedas «foi um incansável defensor dos portugueses e de Portugal em todas as circunstâncias».