Qual o balanço que o CDS faz da atuação do Governo nesta crise devida à pandemia?
Deviam ter sido adotadas medidas mais cedo. Defendemos, por exemplo, o controle e depois o fecho de fronteiras e de voos dos primeiros países afetados. E entregámos uma proposta a propor o fecho das escolas uma semana antes. Mas, a partir do momento em que essas medidas foram sendo adotadas, não deixámos de dar apoio, coerentemente. Estamos a aproximar-nos do auge da batalha e não é ainda o momento de balanços. Esse balanço depende de dados de que não disponho completamente. Por exemplo: existe informação de que a própria Organização Mundial de Saúde (OMS) terá emitido avisos claros aos países europeus, a partir do final de janeiro e nos primeiros dias de fevereiro, de que era urgente prepararem-se e isso significava adquirir equipamento de proteção. O Governo estará a fazer esse esforço, mas é preciso saber quando recebeu esses avisos e quando começou a agir. Não tenho essa informação, que é essencial. Mas, repito, este não é o momento para balanços.
O Governo podia ter ido mais longe nas medidas restritivas para prevenir a pandemia?
Defendemos medidas restritivas desde o início no pressuposto que a prioridade absoluta tem de ser salvar vidas. Pelos dados de que dispomos, as medidas adotadas parecem ter contribuído para ‘achatar a curva’, travando a progressão da doença. Ainda que sem um número de testes maior não possamos ter certezas. Devíamos estar a testar mais.
O primeiro-ministro disse, numa entrevista à TVI, que até agora não faltou nada nos hospitais. É mesmo assim?
Não. Sabemos que não e que faltou muita coisa. Quero pensar que se tratou de uma resposta infeliz. Mas não nos podemos esquecer que os profissionais de saúde precisam de mais do que dos nossos aplausos, precisam de equipamentos de proteção.
O CDS já apresentou várias propostas para reforçar a prevenção entre os mais idosos. Tem a perceção de que a população mais idosa está a ser devidamente protegida?
Os idosos são os mais vulneráveis e os mais desprotegidos. A situação nos lares é dramática e aí era necessário ter tido material de proteção mais cedo e ter iniciado os testes antes. Parece-me também que é indispensável criar uma verdadeira ‘almofada social’, reforçando seriamente o setor social. Para os idosos, o setor social e os seus trabalhadores são a primeira linha.
Teme que o impacto desta crise de saúde pública seja pesado na economia?
Sobre isso não há dúvida nenhuma. Se o balanço na saúde será sempre trágico, na economia vamos ter um tsunami. E, se a prioridade tem de ser a saúde, na economia é fundamental manter o essencial. Ou seja, garantir um choque de tesouraria e rapidez nas respostas. Por exemplo , o lay-off simplificado é essencial mas ao cabo de três alterações ainda não chegámos onde devíamos, ao pagamento direto e rápido pela Segurança Social, pois de outra forma o processo é burocrático e pode ser tarde para salvar as empresas. O Governo vai ter de alargar o lay-off aos gerentes das empresas, não há outra hipótese.
Um Governo minoritário, que tem aprovado os orçamentos com o apoio da esquerda, tem condições para enfrentar a crise económica que nos espera?
Para já, temos de responder à crise de saúde e este é o Governo que temos e que resultou das eleições. Temos de manter pontes e colaboração e é o que o CDS tem feito. Os maiores partidos do centro e da direita (PSD e CDS) têm sido irrepreensíveis nesse aspeto, demonstrando que são partidos de Governo e compreendem o momento tão duro que estamos a viver. Já os partidos mais à esquerda têm apostado numa guerrilha ideológica, apresentando carradas de propostas, por vezes meros números comunicacionais, muitas delas inconstitucionais, como se fossem instalar um novo PREC.
As medidas do Governo para as empresas e famílias são ajustadas à situação que vivemos?
Na sua maioria, vão no sentido certo, ainda que sejam insuficientes. Já lhe dei o exemplo do lay-off ou a necessidade de reforço do setor social. Algumas, no entanto, parecem-nos profundamente erradas. Dizer aos senhorios que, além de não receberem rendas, poderão contrair um empréstimo, endividando-se, não faz sentido. O que fazia sentido era apoiar os inquilinos. É muito importante, nesta fase, apoiar o rendimento das famílias e manter alguma capacidade de consumo que sustente o essencial da nossa economia. Temos de preparar o dia em que se inicie a retoma.
Há quem defenda que vai ser preciso um Governo de salvação nacional. A situação poderá exigir soluções excecionais?
Essa questão é extemporânea. Neste momento, o ponto é salvar o maior número de pessoas possível.