António Costa e Rui Rio afastam a possibilidade de a crise provocada pela pandemia abrir a porta a um Governo de bloco central. Não é ainda claro, porém, quais são os entendimentos possíveis para enfrentar a crise. O PSD não descarta dar a mão aos socialistas nos próximos orçamentos. A esquerda abre a porta a compromissos e coloca já algumas condições.
O primeiro-ministro deixou claro que uma aliança entre socialistas e PSD “não é uma boa solução”. António Costa continua a contar com os partidos à esquerda do PS, mas avisa que os próximos tempos não vão ser fáceis. “Ficaria, aliás, muito desiludido se tivéssemos de chegar à conclusão que só podemos contar com o PCP e com o Bloco de Esquerda em momentos de vacas gordas e em que a economia está a crescer”, disse, em entrevista à agência Lusa, o secretário-geral do PS.
A resposta do Bloco de Esquerda foi imediata. Catarina Martins gravou uma mensagem em que coloca algumas condições para um “compromisso com o país”. A coordenadora dos bloquistas refere várias vezes que não aceitará o regresso da austeridade. “O Bloco aqui está, para construir soluções. Com uma certeza: não aceitámos a austeridade em 2011, não a aceitaremos em 2021”, afirma.
Catarina Martins pede “clareza sobre o caminho a seguir” e garante que o Bloco de Esquerda só estará disponível se “o caminho for o de recuperar a economia com base na garantia dos salários e pensões, no investimento público e no reforço dos serviços essenciais”.
António Costa aprovou, até agora, os orçamentos com os partidos de esquerda, mas a crise obriga a repensar quase tudo. A estratégia do PSD também mudou e Rui Rio não descarta viabilizar os próximos orçamentos. “Não vamos aceitar tudo, vamos ser críticos, mas vamos ter uma latitude muito grande”, disse, em entrevista à SIC, na sexta-feira, o presidente do PSD.
Com a consciência de que os próximos orçamentos serão muito “condicionados” pela crise provocada pela pandemia, o PSD não deixará de “olhar ao interesse nacional”, assegurou Rui Rio. Afastado, para já, está um acordo formal com os socialistas ou um Governo de bloco central. “Não estou a pensar nisso, isso é sempre uma solução um bocado contra-natura […]. Não estou em governo nenhum nem tenho de estar”, disse.
BLOCO CENTRAL Os socialistas também não desejam uma alteração de estratégia ao ponto de levar o PSD para o Governo. Manuel Alegre já defendeu que essa hipótese “não faz sentido”. António Campos, fundador do PS, também acha que não vai ser necessário. “Julgo que é uma situação que não vai estar em cima da mesa”, diz ao i António Campos, que fez parte do Governo de bloco central liderado por Mário Soares, entre 1983 e 1985.
António Costa afastou sempre esse cenário e mesmo em tempos de crise considera que é uma solução indesejável. “Na questão do Bloco Central, há uma notável coincidência entre os líderes do PSD e do PS de que essa não é uma boa solução para o sistema político, porque enfraquece os polos naturais de alternativas – e a democracia exige alternativas e precisa de alternativas. Por isso, é bom e útil que, quer o PS, quer o PSD, possam manter a sua capacidade de desenvolver e liderar alternativas”, reafirmou, em entrevista à agência Lusa, o líder dos socialistas.