Um estudo do Banco de Portugal (BdP) estima que sem o layoff simplificado 17% das empresas teriam défice de liquidez ao fim de 40 dias, sendo as mais afetadas as grandes e as do setor de alojamento e restauração.
O estudo do BdP divulgado esta quarta-feira no Boletim Económico, simula a percentagem de empresas com problemas de tesouraria devido à quebra da atividade económica provocada pela pandemia de covid-19, sendo que a situação de tesouraria das empresas depende da disponibilidade de ativos financeiros líquidos (sobretudo caixa e depósitos), da capacidade para gerar liquidez através da sua atividade e dos custos fixos que têm associados.
Segundo o estudo, mesmo sem o regime de layoff simplificado, 40% das empresas nunca teria défice de tesouraria, enquanto em 60% das empresas o défice depende do número de dias da quebra da atividade. Num cenário de 40 dias, 17% das empresas passariam a défice de liquidez.
Já incluindo a medida de layoff, o estudo estima que seriam 56% as empresas que nunca teriam défice (face às 40% da simulação anterior) e que num cenário de 40 dias desceriam para 12% as empresas que ficariam com défice de liquidez, o que diz o BdP é “um valor em linha com aquele que era observado antes da pandemia".
As empresas mais afetadas pela quebra da atividade são as grandes empresas, com 18% de défice de liquidez (ou seja, sem capacidade de pagar os custos fixos) no cenário sem medida de layoff, um valor que desce para 5% no cenário que inclui layoff. Já nas microempresas, em 40 dias, 17% ficariam sem liquidez sem medida de layoff e 12% mesmo após o layoff.
Por setores, as empresas mais afetadas em ambos os cenários são as do “alojamento, restauração e similares”: 31% das empresas ficariam sem liquidez em 40 dias sem layoff e 19% incluindo essa medida. “O elevado número observado neste setor é particularmente relevante dado que é expectável que neste caso o choque económico provocado pela pandemia possa ter efeitos muito persistentes”, refere o Banco de Portugal.
Já os setores comércio e indústrias transformadoras registam, segundo o estudo, 16% das empresas com défice de liquidez antes do layoff e 12% e 9%, respetivamente, incluindo a medida de layoff.
Quanto ao montante agregado do défice de liquidez, este aumenta com o número de dias de quebra de atividade, como seria previsível, sendo que a 40 dias o défice seria de 746 milhões de euros, um valor que desce para 382 milhões de euros com o layoff simplificado. O BdP avisa, contudo, que "o valor estimado para o défice não deve ser interpretado como o montante de crédito de que as empresas virão a necessitar, uma vez que muitas empresas com acesso ao crédito poderão preferir não esgotar as suas reservas de liquidez".
Quanto ao número de trabalhadores das empresas que não têm capacidade de pagar os seus custos fixos, o estudo estima que no cenário de 40 dias de quebra de atividade, o número total de trabalhadores associados a estas empresas é de 530 mil sem o layoff e 186 mil com a medida.