Os dados não são animadores para a economia portuguesa. A Comissão Europeia aponta para uma recessão de 6,8% e uma taxa de desemprego de 9,7% em 2020. A culpa é do impacto da pandemia de covid-19. Ainda assim, as previsões são mais otimistas do que as do Fundo Monetário Internacional (FMI), que previu uma quebra económica de 8% e desemprego de 13,9% este ano. Face ao cenário de incerteza, os analistas contactados pelo SOL admitem que as previsões do FMI poderão ser as mais realistas.
«Tendo em conta a possibilidade de uma segunda vaga de contaminações, os valores do FMI poderão ser mais realistas», refere Francisco Alves, analista da Infinox. No entanto, lembra que «se as medidas de segurança forem rigorosamente cumpridas, o impacto poderá não ser tão negativo».
Já André Pires diz que as previsões apoiam-se na ideia de que os bloqueios e restrições serão levantados em breve e que a disponibilidade financeira e os níveis de consumo voltem a valores perto do normal. Um cenário que, segundo o analista da XTB, vai depender do desenvolvimento da pandemia e do tempo que demore a aparecer uma vacina ou um tratamento para o vírus. «Estas projeções parecem-me otimistas, o que em si não é mau, mas frágeis, uma vez que existem muitos fatores em jogo. O comércio pode tardar a voltar aos níveis anteriores, o turismo sofrerá um impacto por um longo período, e muitos postos de trabalho, embora não estejam em risco neste momento, poderão passar a estar em breve», refere ao SOL.
Para 2021, a Comissão Europeia estima uma recuperação da economia portuguesa de 5,8%, bem como uma diminuição da taxa de desemprego dos 9,7% para os 7,4%. Números que, de acordo com o ministério de Mário Centeno mostram que «no conjunto dos dois anos, o desempenho da economia portuguesa será menos negativo do que o da média dos países da área do euro e da União Europeia», referiu em comunicado.
Uma opinião afastada por André Pires. «Não me parece sensato. Primeiro, porque o nosso país depende fortemente do turismo e as sequelas deixadas pela covid-19 são muito difíceis de estimar. Segundo, porque usa médias que não são comparáveis. O mercado português é muito pequeno, e o que para a Alemanha seria um pequeno impacto, para nós poderia ser crítico». Como tal, defende que «dizer que a nossa economia sofrerá um impacto negativo inferior à média não quer dizer que tenhamos mais facilidade de recuperação que o resto da Europa».
Já Francisco Alves chama a atenção para o facto de Portugal ter conseguido controlar a pandemia, evitando assim uma situação semelhante à de Itália ou Espanha. «Desse ponto vista, é compreensível que a previsão seja menos negativa que a média europeia. O próximo ponto crucial será o levantamento das medidas de confinamento, em que o seu sucesso depende maioritariamente do comportamento da população», refere ao SOL.
Turismo eleva riscos
De acordo com as Previsões Económicas da Primavera, a exposição de Portugal ao setor do turismo eleva os riscos, apesar de ser esperada uma recuperação forte da economia portuguesa como um todo em 2021. «As exportações devem decrescer relativamente mais, à luz das receitas consideráveis que Portugal tipicamente ganha através dos turistas estrangeiros (cerca de 8,7% do PIB em 2019), e das medidas de distanciamento social a afetar os serviços na segunda metade de 2020».
O executivo comunitário diz ainda que tanto as exportações como as importações devem registar quebras de dois dígitos em 2020 (-14,1% e -10,3%, respetivamente), recuperando no ano seguinte (13,2% e 10,3%, respetivamente).
O setor do turismo deverá afetar também os níveis de desemprego, apesar de «provavelmente muitos dos despedimentos serem temporários» e os salários deverão ser afetados pelo número reduzido de horas de trabalho durante 2020, afetando assim a produtividade.
É também esperado por Bruxelas que a procura doméstica «contraia substancialmente em 2020», com o consumo privado a decrescer «a um ritmo ligeiramente mais baixo do que o PIB [-5,8%]», devido ao impacto das medidas governamentais nas famílias.
A Comissão Europeia também previu que o défice das contas públicas em Portugal atinja os 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020, com a dívida pública a atingir os 131,6% do PIB. Mais uma vez, estas previsões são mais otimistas do que as do FMI, que previu que o défice das contas públicas portuguesas atingisse os 7,1% do PIB, e que a dívida chegasse aos 135% do PIB. Para o próximo ano, a Comissão Europeia prevê uma diminuição do défice orçamental nacional para os 1,8% do PIB, bem como uma descida da dívida pública para os 124,4% do PIB.