O processo de certificação laboratorial de máscaras de uso social tem sido questionado nos últimos dias, não só no campo da política, como também entre produtores que querem obter certificação e não conseguem. O Governo já deu luz verde no apoio a empresas para a produção de máscaras têxteis, mas há também quem peça clareza na forma como são certificadas, confessando até a perda de encomendas de centenas de máscaras por não se encontrarem ainda devidamente homologadas. O Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e Vestuário (Citeve) é a entidade que certifica as máscaras, de acordo com as recomendações da Direção-Geral da Saúde (DGS), em colaboração com o Governo. No entanto, fala-se em falta de rapidez.
“O Governo está a dar oportunidade às fábricas. E há uma associação que está a dar as certificações, mas está a demorar uma eternidade. Segundo um ou dois fornecedores que conheço, o presidente dessa associação, além de estar a demorar muito tempo a certificar, tem uma fábrica têxtil que já tem certificação”, começou por referir ao i um empresário que não quis ser identificado. A mesma fonte adiantou não conhecer a razão pela qual a certificação das máscaras está a demorar tanto tempo, até porque, acusa, isso só acontece para algumas fábricas, e não para todas. E denuncia que haverá outras associações que estarão a fechar processos de certificação sem a devida autorização.
“Hoje telefonou-me um cliente a dizer que só houve certificação a quatro fábricas. Queremos que haja clareza nas coisas. Se é para trabalhar, trabalhamos todos. Para se ter uma ideia, perdi a encomenda de mil máscaras, porque não tenho certificação. De resto, toda a gente as compra. Há aqui um conflito de interesses, porque existem máscaras à venda e não se sabe quem as certificou”, confessou, explicando que as máscaras estão prontas e já só falta mesmo o aval de quem as certifica. “O tecido está aprovado e não se sabe porque é que não certificam. Não há rapidez nos processos”, admitiu.
Com a reabertura das escolas e o regresso das aulas presenciais, passado o estado de emergência devido à covid-19, o objetivo era criar um pacote de proteção para os mais novos, mas, confessou ao i, não tem forma de o fazer porque as escolas não aceitam equipamentos que não estejam homologados.
“Quero fazer um pack, uma oferta de uma máscara e de um gel para os miúdos irem para a escola e se desinfetarem. Para estarem protegidos, na verdade. Mas as escolas não aceitam as máscaras e, no fundo, vão comprar aquelas que custam 70 cêntimos e que vão para o lixo quando o aluno acaba as aulas”, atirou, reforçando que as máscaras que produz são laváveis e, por isso, mais duradouras. “Esta máscara que nós estamos a produzir é lavável. Cada família pode ter duas por pessoa. Usa, lava e usa a outra. E há sempre uma máscara para ser utilizada. Já vendi não sei quantas máscaras, mas digo que não tenho certificação. Digo sempre que não tenho. Também já disse às escolas”, apontou, alertando para o preço do equipamento.
“Estamos a ajudar a indústria têxtil. Disseram-me que vão comprar dez mil máscaras. Mas, imagine-se, a 70 cêntimos cada uma. E para irem logo para o lixo. É um desperdício”, concluiu. O i tentou obter esclarecimentos junto do Ministério da Saúde, mas sem sucesso até ao fecho desta edição.
PSD questiona governo O Citeve já foi contactado por cerca de 400 empresas “que não tinham por hábito pedir ensaios, desenvolvimento de produto ou sequer assistência técnica”, segundo revelou o diretor-geral, Braz Costa, à Renascença.
Nos últimos dias, porém, o PSD também decidiu pedir esclarecimentos ao Governo sobre o processo de certificação laboratorial, bem como dos laboratórios aptos para a conferir.
“Não é desejável que a população adquira máscaras de uso exclusivo e essencial para os profissionais de saúde, com certas certificações distintas e mais exigentes que aquelas que eventualmente são exigidas para as máscaras de uso social”, pode ler-se no documento entregue pelo partido na Assembleia da República, no qual se solicita ainda saber por que razão não foi divulgada a lista de todos os laboratórios competentes que possam fazer a homologação devida das máscaras, além do Citeve. Além disso, o PSD exige também perceber qual a prioridade que está a ser dada a cada pedido dos diferentes fabricantes.
O Citeve, recorde-se, tem disponível para consulta, no seu site oficial, uma lista de máscaras comunitárias que é atualizada permanentemente, tal como está indicado. “É uma lista apresentada que utiliza a categorização das máscaras por tipo de utilizador, conforme apresentada no documento elaborado pelo Ministério da Saúde e Ministério da Economia e Transição Digital e organismos por si tutelados”, lê-se.
Para a colocação no mercado, a entidade analisa cada máscara individualmente e aprova a sua versão final – e não apenas a qualidade dos materiais.