A economia portuguesa pode registar quebras entre 7,5% e 11,8% já este ano. As previsões são do Conselho de Finanças Públicas (CFP) que, face ao grande clima de incertezas vivido face à pandemia, realizou previsões em cenário base e em cenário severo nas suas perspetivas económicas e orçamentais para 2020/2022.
Caso não sejam aplicadas mais medidas públicas de estímulo do que aquelas que já foram anunciadas, a recuperação económica não será possível antes do final do ano de 2022, alerta a entidade liderada por Nazaré Costa Cabral.
Segundo o CFP, a retoma do crescimento em 2021 (3,0% no cenário base e 4,7% no cenário severo) e em 2022 (2,6% no cenário base e 3,2% no cenário severo) “é alicerçada na expectativa de que o choque na economia é transitório, sendo, contudo, elevada a incerteza quanto à rapidez de recuperação”, explica a entidade.
Já no que diz respeito ao desemprego, também as projeções não são animadoras: Este ano, projeta-se, no cenário base, uma contração do emprego de 5% e um aumento da taxa de desemprego para 11% da população ativa (7,2% e 13,2% respetivamente no cenário severo).
O desemprego só deverá começar a recuperar parcialmente nos dois próximos anos, em que o emprego crescerá 2,2% e 1%, “o que conduzirá a uma redução da taxa de desemprego para 9,0% e 8,1%, respetivamente”, segundo o cenário base.
Quanto ao saldo das administrações públicas, o CFP estima para este ano, que no cenário base, deverá atingir um défice de 6,5% do produto interno bruto (PIB) e no cenário severo 9,3%. Este é um desequilíbrio orçamental que a entidade prevê que se reduza a partir do próximo ano, “embora não o suficiente para evitar um défice orçamental”.
“O agravamento do rácio do saldo orçamental decorre sobretudo de um aumento do peso da despesa no PIB e com menor expressão de uma diminuição do peso da receita”, defende o CFP.
Ainda para este ano existe a possibilidade de a dívida pública registar “um forte agravamento do seu peso no PIB”, seguindo-se “uma redução ao longo do restante horizonte de projeção embora para níveis muito acima do período pré-pandemia”. No cenário base a projeção aponta para um aumento do rácio da dívida de 15,3 pontos percentuais do PIB, para os 133,1% e, no cenário mais gravoso o aumento é de 24 pontos percentuais, elevando o rácio da dívida para 141,8% do PIB.
O CFP diz ainda que os riscos potenciais de medidas de apoio a empresas e que terão impacto a nível orçamental está o possível apoio à TAP. “Acresce ainda o risco potencial de medidas de apoio ao sector financeiro e a entidades do sector privado, nomeadamente o eventual apoio do Estado português à TAP Air Portugal”, lê-se no relatório.
Estas projeções ainda não consideram novas medidas que venham a ser tomadas com o apoio de novos fundos europeus.
Apesar dos valores apresentados, a instituição revela que é preciso “precaução adicional” ao olhar para estes valores, uma vez que “o exercício de projeção em políticas invariantes hoje apresentado ocorre num contexto de riscos e incerteza anormal e historicamente elevados, em que a grande parte é de natureza descendente”.