Os incêndios que deflagraram em Portugal em 2017 e mataram mais de uma centena de pessoas – entre os quais o de Pedrógão Grande, Leiria, que aconteceu em junho – não foram, de todo, esquecidos. Prova disso são as críticas lançadas ao Governo pelo Observatório Técnico Independente (OTI) da Assembleia da República, que, numa nota divulgada, avançou que tem existido falta de alterações estruturais para que o cenário não se volte a repetir. Além disso, referiu ainda que Portugal pode não estar preparado para uma situação semelhante.
«Em 2017 quase todos afirmaram que as consequências que resultaram dos incêndios de junho e outubro desse ano não poderiam voltar a repetir-se. Apesar das melhorias nalguns componentes do sistema, não estamos seguros de que o país esteja suficientemente preparado para enfrentar eventos da mesma magnitude», pode ler-se em comunicado, pedindo-se que seja feito mais trabalho no que toca ao «ordenamento, gestão florestal, recuperação de áreas ardidas e mitigação do risco desadequados».
Além disso, o OTI apontou ainda outras dificuldades que diz que o Governo está a sentir, nomeadamente para esta época de incêndios. No relatório divulgado, os pontos que ainda estão por solucionar passam pela «insuficiente formação e qualificação dos agentes, indefinição no modelo de organização territorial a adotar pelos serviços do Estado, a precariedade laboral de diversos agentes, a falta de recrutamento para lugares de comando operacional e a manutenção de alguns comportamentos de risco pela população em condições favoráveis à ocorrência de incêndios».
O OTI garantiu também que há um longo caminho a percorrer no que respeita ao planeamento e operacionalização em matéria de prevenção e defesa da floresta contra incêndios, dizendo que é estritamente necessária uma visão inclusiva de todos os agentes. «O país não pode sentir-se satisfeito pelo quanto já foi feito, mas antes se concentre, com considerável e avisada humildade, no muito que está ainda por fazer», alertou.
No entanto, apesar das críticas negativas, o OTI dá também destaque às melhorias evidenciadas no que respeita à forma como o Estado tem lidado com o risco de incêndio na proteção de pessoas e bens. «A constatação mais significativamente positiva desde 2017 foi a da redução do número de ignições», é indicado. Porém, diz ser no combate aos fogos que é preciso um esforço extra por parte do Governo, apostando na profissionalização.
«É necessária formação e qualificação dos agentes, reforço de equipamentos e rentabilização da capacidade instalada a nível local, regional e nacional», concluiu o OTI, nunca esquecendo o recrutamento de técnicos.