por Ana Teresa Banha e Luís Claro
Uma «magnifica notícia» e a «prova que Portugal é um destino seguro». Foi assim que o Presidente da República e o primeiro-ministro se congratularam com a notícia de que Lisboa vai receber a inédita fase final da Liga dos Campeões. Os discursos foram feitos numa cerimónia no Palácio de Belém que juntou Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues, António Costa, Fernando Medina, os ministros Pedro Siza Vieira, Marta Temido e Tiago Brandão Rodrigues e o secretário de Estado João Paulo Rebelo. Uma ‘festa’ que acabou por ser alvo de críticas à esquerda e à direita.
O_primeiro-ministro vê na atribuição a Lisboa da fase final da Liga dos Campeões «uma vitória antecipada de todos os portugueses», que «demonstraram uma capacidade extraordinária de resistir e ultrapassar esta pandemia. Permitiram diferenciar Portugal e permitiram controlar a pandemia». Costa aproveitou o momento para exaltar o trabalho desenvolvido pelo país no combate à pandemia. «A grande mensagem que a escolha da UEFA dá a todo o mundo é que Portugal é um destino seguro», garantiu.
Mais polémica foi a afirmação feita pelo primeiro-ministro de que esta competição é «um prémio» para os profissionais de saúde e à forma como provaram que o Serviço Nacional de Saúde funciona. Esquerda e direita criticaram o entusiasmo de Costa numa altura em que vários partidos reclamam mais condições para os médicos e enfermeiros pelo papel que tiveram no combate à pandemia. «Os profissionais de saúde trabalham para salvar vidas, não para organizar a final da Liga dos Campeões. Valorizá-los é com melhores carreiras e melhores condições de trabalho. A Champions aumenta-lhes o salário em quanto?», afirmou Moisés Ferreira, deputado do BE.
Carlos Abreu Amorim, ex-vice-presidente do grupo parlamentar do PSD, também escreveu, nas redes sociais, que «estas declarações são uma ofensa despudorada» aos profissionais de Saúde em plena pandemia: «Não é só o desequilíbrio dos valores em causa – é que Costa está a considerá-los como mentecaptos, incapazes de discernir entre a propaganda política barata e o que é realmente importante».
A_Ordem dos Médicos também não gostou de ouvir o primeiro-ministro. «Os médicos não querem esse prémio. Querem ajudar os portugueses. É bom que isto fique claro», disse o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
‘Folclore patético’, diz deputado do PSD
A direita criticou o «folclore» à volta desta competição. «Realizar em Portugal a final da Champions, sem adeptos, pode ser útil para o país. Mas todo este folclore em torno do anúncio é ridículo, patético e característico de outros regimes. É também um desrespeito para outros momentos que teriam merecido tamanha solenidade», escreveu, nas redes sociais, o deputado do PSD Duarte Marques. A celebração em Belém aconteceu no mesmo dia em que se completaram três anos sobre a tragédia dos incêndios de Pedrógão Grande. O ex-deputado social-democrata Miguel Morgado também classificou a cerimónia «terceiro-mundista» e «um desrespeito que não tem nome por toda a gente».
Presidente da República diz que é ‘único e irrepetível’
O Presidente da República não escondeu o entusiasmo com a «magnífica notícia» e justificou a celebração por se tratar de um acontecimento único e irrepetível. «Porque é que está aqui tanta gente a propósito de uma final de uma competição? Já tivemos finais da Liga dos Campeões e não houve este encontro, mas esta não é mais uma final, é um caso único e irrepetível. É uma final, duas meias-finais e quatro quartos-de-final. É único pelo momento que vivemos, porque não conhecemos nos últimos cem anos uma pandemia semelhante a esta».
Marcelo alinhou o discurso com o do primeiro-ministro e considerou que o país está a ser recompensado pela «situação notável que se verifica no Serviço Nacional de Saúde em termos de internamentos, e de internamentos em cuidados intensivos», mas também pela forma como «combate» a covid-19.
O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, considerou que receber os jogos da competição é de «um valor extraordinário para Portugal» e que mais do que confiar na FPF, a UEFA demonstrou que confia nos portugueses. «No Governo, na federação, nos clubes, nas pessoas», disse Fernando Gomes.