O PAN está a viver um dos momentos mais difíceis da sua história. As sete demissões em pouco mais de uma semana (mais concretamente em nove dias) vieram tornar públicas as divergências internas dentro do partido que nasceu para defender os animais e deixaram o PAN sem representação política no Parlamento Europeu e com apenas três deputados na Assembleia da República.
O PAN foi desde o início uma história de sucesso. Desde que nasceu, em 2011, todos os indicadores revelam uma tendência para crescer eleitoralmente. Nas últimas eleições legislativas foi um dos vencedores com a eleição de quatro deputados e nas últimas europeias conseguiu eleger pela primeira vez um eurodeputado.
O 1.º a bater com a porta
Menos de um ano depois de ter festejado a subida de apenas um para quatro deputados, no distrito de Lisboa ficou à frente do CDS, o PAN envolveu-se numa guerra interna sem precedentes que conduziu a várias saídas do partido. Francisco Guerreiro, eleito para o Parlamento Europeu há pouco mais de um ano, foi o primeiro a bater com a porta. As saídas seguintes mostraram que há dentro do PAN um grupo contestarário da direcção de André Silva com acusações de autoritarismo e de estar a contrariar os princípios fundadores do partido.
Depois de Francisco Guerreiro, que tornou pública a decisão de abandonar o partido há mais de uma semana, saíram Sandra Marques, deputada municipal em Cascais, João Freitas, Ana Mendonça e Isabel Braz, que compunham a direção do partido na região da Madeira, e Cristina Rodrigues, deputada na Assembleia da República.
A demissão de Cristina Rodrigues foi uma das mais complicadas, já que o partido fica agora apenas com três deputados na Assembleia da República.
Cristina Rodrigues, eleita por Setúbal nas últimas eleições legislativas, criticou a «forma como o PAN tem sido orientado» e acusou a direção de tentar silenciar o seu trabalho. «Fui sentindo cada vez mais a minha voz silenciada e a minha capacidade de trabalho condicionada”, afirmou à agência Lusa.
A agora deputada não inscrita acusou a direcção de André Silva de não ter tolerância para com a diferença. «Qualquer opinião divergente é rotulada de desleal», afirmou.
André Silva, em conferência de imprensa, respondeu de imediato à decisão da deputada.
O porta-voz do PAN acusou Cristina Rodrigues de falta de empenho e de não cumprir as suas funções como deputada.
Fizemos ‘várias tentativas’ para dialogar, diz André Silva
«Foram várias as vezes em que não participou em reuniões ou que se ausentou das mesmas, mostrando uma total falta de envolvimento no debate político interno. Por estas razões, o processo de tomada de decisões decorria, muitas vezes, sem a presença da deputada, que sempre demonstrou falta de empenho e de interesse (…). Falta de interesse e de empenho que foi por demais evidente ao nível do trabalho político que não desenvolveu nas comissões que acompanhava», disse.
O porta voz do partido acusou os dissidentes de estarem «mais preocupados consigo e com os seus interesses pessoais» do que com as causas do partido.
Nesta conferência de imprensa, que serviu para responder às críticas, André Silva acusou o grupo de dirigentes que bateu com a porta de «usarem o PAN como trampolim para chegar» aos lugares que ocupam na Assembleia da República e no Parlamento Europeu. «Não deixa de ser curioso que Cristina Rodrigues e o eurodeputado que recentemente saíram do partido não abandonaram os seus cargos políticos remunerados, nenhum abdicou, continuando a prosseguir deste modo os seus interesses próprios e a sua agenda pessoal», acrescentou.
Ao SOL, André Silva diz que a crise interna não foi provocada por questões ideológicas, mas sim porque estões pessoais. «Acima de tudo, questões pessoais. As pessoas que saíram do partido fizeram-no a arrepio do debate interno». André Silva desvaloriza as críticas dos dissidentes e considera que não há razões para antecipar o congresso. «Temos recebido inúmeras mensagens de apoi a reforçar a confiança no projeto político que é o PAN. Pelo que, como já referimos, consideramos que este não é o momento para avançar com a realização de um congresso», diz ao SOL.
André Silva revela que foram feitas «várias tentativas» de diálogo para tentar travar as divergências internas, mas isso não foi possível.
Cristina Rodrigues junta-se a Joacine Katar Moreira
Com a sua demissão do partido por cujas listas foi eleita, Cristina Rodrigues passa a deputada não inscrita.Uma situação que não é inédita. Na verdade, quase todos os partidos já tiveram situações idênticas.
Luísa Mesquita, em 2007, foi das primeiras deputadas a assumir o cargo como deputada não-inscrita. A deputada comunista resistiu a renunciar ao cargo e o partido retirou-lhe a confiança política por «reiterada e inaceitável violação dos estatutos».
No CDS, José Paulo Carvalho também decidiu continuar a assumir o cargo quando, em 2008, rompeu com o partido. Paulo Portas defendeu, na altura, que o deputado rebelde deveria dar o lugar o outro. «O natural seria que devolvesse o mandato à instituição que o elegeu», afirmou.
O caso mais recente foi o de Joacine Katar Moreira. A deputada foi eleita pelo Livre, mas foram muitas as divergências com a direcção do partido desde o início. Depois de muita polémica, o Livre decidiu retirar a confiança política à sua única deputada e ficou sem representação na Assembleia da República. Joacine katar Moreira confessou, uns meses depois, numa entrevista ao SOL, que esse foi o melhor caminho. «Enquanto deputada não inscrita tenho tido a hipótese de trabalhar muito mais e em melhores condições e com um oxigénio enorme, embora com poucos recursos. O partido, para mim, foi um sufoco enorme. Era eu a desejar andar para a frente, e eles a puxarem-me para trás».
Curiosamente, o Livre conta entre os seus fundadores com Rui Tavares, que se manteve no Parlamento Europeu quando entrou em rutura com o BE (no seguimento de divergências com Francisco Louçã) – por cujas listas concorreu a Estrasburgo.