A pandemia afetou a agricultura. Até que ponto o setor foi atingido?
Esta pandemia afetou todos os setores da atividade económica em Portugal e no mundo. Afetou a vida de todos os portugueses e claramente teve consequências para todo o complexo agroalimentar. Por um lado, sentimos que partimos de um ponto bastante positivo porque, em fevereiro, o peso da agricultura e do complexo agroalimentar enquanto recurso endógeno produtor de bens transacionáveis representava 3,9% do VAB [valor acrescentado bruto] na economia e 10,7% do emprego total. Embora sejam números que pareçam incipientes porque quando olhamos para as exportações, onde nessa altura as exportações representavam 7,2% e as importações um pouco mais, 11,3%, sendo que, nos últimos 10 anos as exportações cresceram a um ritmo de 5,1% ao ano enquanto as importações diminuíram a um ritmo completamente diferente, 2,9%. Isto significa que, nos últimos 10 anos, tendemos a equilibrar a nossa balança comercial. Mas já focando no período pandémico, quando olhamos para os dados das exportações do INE [Instituto Nacional de Estatística], de março, percebemos que há uma quebra muito significativa de todos os bens transacionáveis, mas vemos que o setor agroalimentar, do ponto de vista das exportações, continuou a crescer a um ritmo superior a 9% face ao período homólogo. Já em abril e num contexto marcadamente pandémico, o setor e o complexo agroalimentar, aumentou de forma mais incipiente mas subiu 1,6%. E isto significa o quê? Que no primeiro quadrimestre, do ponto de vista das exportações, continuámos a subir face ao período homólogo do ano passado em cerca de 3,7% e as importações diminuíram 1%. Durante estes primeiros quatro meses de 2020 contribuímos para uma diminuição do nosso défice da balança comercial em 112 milhões de euros. São dados que nos parecem positivos, mas que estão longe daquilo que tínhamos previsto, até porque vínhamos de uma trajetória de crescimento nas exportações, estamos representados em mais de 60 países, temos mais de 240 produtos em mercados externos e temos outros tantos como potenciais mercados e potenciais produtos a colocar lá fora.
Mas sofreu agora este impasse …
O que sabemos é que os objetivos a que nos propusemos de crescimento de exportações e de produção para consumo interno foram claramente comprometidos por isto. Em contexto de pandemia, o que percebemos imediatamente que os primeiros tempos foram de corrida desenfreada aos produtos alimentares porque houve algum receio de que houvesse quebra no fornecimento de bens alimentares. Durante essa primeira fase e devido a essa corrida às prateleiras das lojas, assistiu-se a algumas quebras mas que rapidamente foram repostas. Essa situação levou-nos, de imediato, a criar dois grupos: um grupo de trabalho dentro do Ministério com todo o setor, toda a fileira, todo o complexo agroalimentar para podermos acompanhar desde a produção à sua distribuição e aos preços de mercado e um grupo formal com o Ministério da Economia para garantirmos o abastecimento alimentar desde a produção primária até ao retalho. Grupo este que já foi extinto mas que deu corpo para dar continuidade do trabalho que se iniciou aqui para podermos fazer o acompanhamento do mercado, nomeadamente no que diz respeito aos preços.
Depois desse consumo desenfreado assistiu-se a uma normalização?
Depois houve uma quebra. Durante a fase de emergência, a primeira fase, o que é que sentimos? Sentimos que havia um novo padrão de consumo que, por via do confinamento, as pessoas passaram a ir menos vezes às compras e quando iam compravam alimentos com maiores datas de validade e menos perecíveis. O que é que começámos a perceber que ficava nas prateleiras? Os legumes, os frescos, os frutos sem casca, por serem mais perecíveis e por algum receio infundado de poderem estar contaminados.
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